Marcelo Auler avatar

Marcelo Auler

Marcelo Auler, 68 anos, é repórter desde janeiro de 1974 tendo atuado, no Rio, São Paulo e Brasília, em quase todos os principais jornais do país, assim como revistas e na imprensa alternativa.

243 artigos

HOME > blog

O futuro incerto da terceira idade

O envelhecimento da população expõe a falta de preparo do Brasil para garantir dignidade e sustento à terceira idade

O futuro incerto da terceira idade (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

É no dia a dia, na chamada rotina do cidadão, que sentimos como a sociedade brasileira já não se mostra realmente preparada para a maior longevidade que a ciência vem garantindo a todas e todos. Nas filas que se formam em um supermercado ou farmácia, percebe-se com clareza certo “desprezo” pela chamada terceira idade.

Desde o início dos anos 2000, a legislação brasileira determinou o chamado “atendimento prioritário e preferencial a pessoas com 60 anos ou mais em diversas situações”. Teoricamente, tais cidadãos deveriam ser atendidos prioritariamente. Mas isso acaba não ocorrendo.

Diante do crescimento da “terceira idade”, que implica um maior número de idosos com atendimento preferencial, o jeitinho brasileiro inventou a chamada “fila preferencial”, que muitas vezes provoca uma demora ainda maior para quem deveria ter prioridade.

Esse detalhe da fila das lojas comerciais é uma pequena amostra da falta de preparo da sociedade para algo inexorável: os idosos, muito em breve, serão mais numerosos do que os jovens ou mesmo adultos com menos de 60 anos.

A questão das filas será fator de menor importância diante de outros que se anunciam inexoráveis, tais como o “custo” da terceira idade para a sociedade como um todo.

Já nos dias atuais, são muitos os idosos que, mesmo tendo contribuído com a Previdência Social, não recebem aposentadorias suficientes para o próprio sustento. Dificuldade ainda maior enfrentam aqueles que, por motivos diversos, jamais adquiriram um imóvel.

Isso faz crescer o número dos que hoje, por conta dos aluguéis nas grandes cidades, refugiam-se nas periferias (em condições precárias) ou em cidades menores do interior. Distanciam-se de suas antigas convivências.

Se até recentemente era comum encontrar aposentados que ajudavam no sustento dos familiares, hoje é mais fácil esbarrar em casos de idosos que se juntam aos filhos ou outros dependentes para somarem as rendas e juntos sobreviverem — ainda assim, com dificuldades.

Situação que tende a piorar à medida que percebemos que, a cada dia, o número de contribuintes da Previdência Social se reduz, na mesma proporção em que diminui a quantidade de trabalhadores com registro profissional.

A precarização do trabalho provocará, nas próximas gerações, uma maior dificuldade de sobrevivência. Muitos idosos não contarão com aposentadorias suficientes para o sustento, nem terão chances em um mercado de trabalho que, a cada dia, fica mais automatizado e robotizado.

Portanto, a sobrevida dos idosos no futuro precisa passar a ser uma preocupação premente e permanente dos nossos governos. Está diretamente associada à questão do trabalho precarizado, que vem sendo a opção para jovens e novos profissionais de um modo geral — mas não apenas isso.

Pode depender ainda de novos programas sociais, que incluam, por exemplo, fundos especiais em substituição ou complementação à arrecadação previdenciária, os quais garantam o sustento dos que tiverem rendas insuficientes.

Ou seja, os que hoje se sentem incomodados com o tamanho das filas de “prioritários” precisam se preocupar é com os mecanismos que a sociedade terá para garantir, futuramente, a sobrevida dos idosos — entre os quais eles próprios poderão estar incluídos.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados