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Valter Pomar

Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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O Globo não é dono da história

"O Globo apoiou o golpe militar de 1964. Décadas depois, fez uma suposta autocrítica.O Globo apoiou o golpe de 2016. Mas a hora da autocrítica ainda não chegou"

(Foto: Reprodução)
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O Globo apoiou o golpe militar de 1964.

Décadas depois, fez uma suposta autocrítica.

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O Globo apoiou o golpe de 2016.

Mas, neste caso, a hora da autocrítica ainda não chegou.

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Pelo contrário.

No dia 29 de agosto, O Globo publicou um editorial intitulado "Não cabe a ninguém tentar reescrever história do impeachment".

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O editorial pode ser lido no link abaixo:

Não cabe a ninguém tentar reescrever história do impeachment (globo.com)

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Segundo o dito-cujo, "não tem cabimento" que parlamentares petistas estejam se mobilizando para "aprovar no Congresso uma resolução restabelecendo o mandato de Dilma".

A bem da verdade, não é exatamente isso que está sendo proposto, mas sim algo parecido: anular as decisões e, portanto, reestabelecer simbolicamente o mandato interrompido pelo golpe.

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Também a bem da verdade, a recente decisão do TFR-1 - arquivando processos contra Dilma - é toda cheias de "tecnicalidades", bem ao estilo Zanin.

Aliás, técnica jurídica serve para muita coisa, inclusive para justificar crimes, vide a decisão do STF validando a eleição indireta de Castelo Branco e o golpe de 1964.

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Seja como for, a questão é política, não jurídica.

Aliás, O Globo reconhece isto.

Segundo é dito no próprio editorial, não importa o que a justiça tenha decidido ou venha a decidir, pois "os processos de impeachment têm natureza política".

Noutras palavras: legal ou ilegal, legítimo ou ilegítimo, justo ou injusto, a decisão é política.

Portanto, "como se trata de decisão com componente político, não cabe — nem jamais caberá — recurso sobre um impeachment".

Para arrematar, o editorial cita Brosssard, para quem "as decisões do Senado são incontrastáveis, irrecorríveis, irrevisíveis, irrevogáveis, definitivas”.

Estas afirmações do editorial de O Globo precisam ser lidas e relidas pelos amigos de esquerda que acreditam na "justiça" e, pior ainda, pensam que o inimigo acredita também.

Mas se o impeachment é cláusula pétrea, por qual motivo o jornal dos Marinho se preocupa com a questão?

A resposta está aqui: "chamar de golpe o que aconteceu em 2016, como fazem os petistas, despreza a legitimidade das instituições que referendaram o impeachment de Dilma".

Ou seja, a preocupação de O Globo não é com quem estaria tentando "reescrever" a história passada.A preocupação de O Globo é com quem poderia tentar escrever de outra forma a história presente e futura.Por isso, autocrítica (como a suposta que fizeram acerca do golpe de 64), só quando não causar mais nenhum efeito prático.

Por isso, não aceitam chamar o golpe de 2016 de golpe, pois ainda dá tempo de rever as decisões tomadas desde 2016.

É também por isso que O Globo se diz preocupado com a legitimidade das "instituições", claro, com aquelas que defendem seus (deles) interesses,

Com a instituição presidência da República, não tiveram nenhuma preocupação, nem em 1 de abril de 1964, nem quando do golpe contra a Dilma.

Tampouco se preocupam com o fato do Brasil não ser parlamentarista.

Caso se preocupassem com isto, se dariam conta de que é legalmente indiferente o número de parlamentares que votou a favor do impeachment.

Afinal, um crime continua sendo um crime, mesmo que cometido por uma grande turba verde-e-amarela.

Para quem não vai ler o editorial, transcrevo um trecho: o golpe foi apoiado por "um grupo heterogêneo de 367 dos 513 deputados (representando, apenas na votação nominal, 74,4% dos 57,4 milhões de votos para a Câmara) e por 61 dos 81 senadores (representando 74,9% entre os 155,1 milhões de votos ao Senado). Desrespeitar a vontade de parcela tão expressiva do Congresso equivale a desrespeitar o voto popular."

Lembramos: o Brasil não é parlamentarista, aqui não tem voto de desconfiança, para ter impeachment precisa ter crime de responsabilidade, não houve crime de responsabilidade, logo foi golpe.

O Globo dá uma fraquejada, no final de seu editorial, ao reconhecer que "Lula e os petistas têm o direito de acreditar que as pedaladas não eram motivo para o afastamento de Dilma, mas isso é irrelevante". E seria irrelevante, segundo O Globo, porque "a instituição encarregada democraticamente de tomar a decisão pensou o contrário".

O curioso, nesse modo de pensar, é que se ele fosse válido, o mundo marcaria passo eternamente, sem nunca sair do lugar.

Pois o que uma maioria eventual "pensou" num certo momento, seria válido per omnia saeculo saeculorum.Colocando de outro jeito: a "insistência do PT" em chamar o impeachment de golpe não visa "tentar confundir a opinião pública". Nossa insistência visa convencer a maioria do povo de que, em 2016, foi cometido um crime contra o povo.Que o O Globo ache que isso "só contribui para pôr em xeque seu [do PT] próprio compromisso com as regras da democracia", apenas revela que o conceito de democracia do jornal dos Marinho é... golpista.

O Globo não é dono da história.

E a história ainda não terminou.

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