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Lincoln Sousa

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O golpe da escola “sem partido”

Esse projeto, se aplicado, seria um retrocesso gigantesco nas conquistas da educação brasileira nas últimas décadas; que está se transformando, ainda que lentamente, em uma educação voltada para a conscientização, a reflexão e a construção de uma sociedade mais justa, com indivíduos críticos

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Quando se lê o projeto “Escola Sem Partido”, idealizado por alguns representantes religiosos mais conservadores, é possível perceber que os seus autores pretendem limitar o debate nas escolas. No fundo, esse projeto é somente uma das expressões de um problema bem mais complexo, que está ocupando um espaço cada vez maior na sociedade: a falta de reflexão. E é fácil verificar isso nos discursos do dia a dia. A ofensa substitui a crítica. O escárnio substitui a argumentação. O preconceito ocupa o lugar da tolerância. E, de alguma forma, essas atitudes alimentam uma ilusão de “superioridade” em muita gente. Uma infeliz ilusão, sem dúvida.   

Esse projeto, se aplicado, seria um retrocesso gigantesco nas conquistas da educação brasileira nas últimas décadas; que está se transformando, ainda que lentamente, em uma educação voltada para a conscientização, a reflexão e a construção de uma sociedade mais justa, com indivíduos críticos, participantes e transformadores. Essa é a tendência da educação do século XXI. E a “Escola Sem Partido” vai justamente na direção contrária a essa tendência. Não é a toa que muitos dos seus “simpatizantes” tenham uma aversão tão grande a Paulo Freire; embora poucos deles conheçam, de fato, as suas obras, que estão entre as mais admiradas e mencionadas, em todo o planeta, no campo da Pedagogia.

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Paulo Freire já dizia: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Como construir o conhecimento quando as discussões são censuradas? Como desenvolver, no estudante, o seu potencial crítico e transformador quando certos assuntos, de grande importância social e intelectual, são proibidos em sala de aula? A educação está ajudando a criar pensadores ou seguidores? Está incentivando a liberdade ou a escravidão? Essas perguntas, por si só, se fossem aplicadas ao dito projeto, já seriam suficientes para que ele fosse amplamente rechaçado pela sociedade. 

Muitos dos que apoiam esse projeto argumentam que existe uma defesa da “ideologia de esquerda” por trás do estudo da Sociologia, da História e da Filosofia; como se essas disciplinas fossem algum tipo de “porta para o inferno do Comunismo”. É importante entender que cada uma dessas disciplinas tem a sua própria epistemologia. Elas não defendem esta ou aquela ideologia, mas propõem estudos e reflexões sobre as principais teorias conhecidas pela Humanidade, em suas respectivas áreas de atuação.  Seria irracional e absurdo limitar o acesso do estudante a certos conhecimentos simplesmente porque os seus conteúdos não “agradam” (ou não interessam) a determinado grupo ou setor da sociedade. Esse tipo de censura é impensável na escola democrática.

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Alguns indivíduos fazem campanhas para tentar convencer as pessoas, principalmente os mais jovens, de que o estudo do pensamento (Filosofia), da sociedade (Sociologia) e da História são coisas de “esquerdistas”. Como se estudar e conhecer o mundo ao seu redor fosse algo vergonhoso e indigno de uma “pessoa de bem”. E isso é somente um dos indicadores de que parte da população está sendo deliberadamente orientada a evitar o aprendizado, o questionamento, a reflexão e a crítica. Essas pessoas estão sendo ensinadas a escutar e acreditar somente no que os seus “líderes” dizem, sem nenhum tipo de questionamento.

É essencial que a educação seja participativa, colaborativa e democrática. Que o estudante seja capaz de transformar a sua realidade, e a da sociedade, para o seu próprio bem e para o bem comum. Porque, como dizia Freire, “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.

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Uma educação que não liberta, que não contribui para a discussão saudável e construtiva, que não ajuda o estudante a conhecer-se a si mesmo e a desenvolver o seu potencial intelectual e emocional, não é uma boa educação. A pluralidade deve ser respeitada; e o preconceito, combatido. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, mas proibir ou censurar algo simplesmente porque não “agrada” a um determinado grupo é inconstitucional e nocivo ao processo educativo. Se esse projeto, algum dia, chegar a ser aplicado nas escolas, haveria um grande risco da Humanidade testemunhar, mais uma vez, milhares de pessoas reunidas em praça pública, queimando livros de todos os tipos. E, por uma triste ironia, essa realidade não estaria muito longe da proposta defendida pelos artífices do Golpe de 2016. 

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