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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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O golpe de 2016 não foi completo e estamos subestimando sua conclusão

O colunista Gustavo Conde afirma: "o golpe no Brasil não foi completo. Esse 'sentimento de incompletude' esta cada vez mais forte. Não fechemos os olhos para o que acabou de acontecer na Bolívia". Ele ainda alerta: "o militarismo está aceso e a imprensa brasileira está pronta para apoiar mais uma vez um regime autoritário no país"

Dilma e Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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Do Blog do Conde - Boa parte dos brasileiros aprendeu a detestar a política. São os antipetistas, os anti-democracia, os anti-Brasil.

O fenômeno é herança direta da subserviência colonial - que aqui é cultural - somada à influência do nosso jornalismo subdesenvolvido.

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Pendores autoritários ainda dão liga à argamassa desse piso social embebido em sangue. Querem um exemplo doloroso? Tem muita gente que diz gostar do PT, mas que não aceita o processo democrático interno do PT.

O momento é propício para identificá-los: estão desolados com a vitória de Jilmar Tatto para ser o candidato do partido à prefeitura de São Paulo.

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Essa é a compreensão de democracia de muita gente autoproclamada de 'esquerda'. Gostam da 'carteirada'. Por isso o PT funde a cabecinha deles.

Mas esse é o menor dos problemas agora.

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A massa antipetista confessa é pior, evidente.

Eles estão numa encruzilhada amarga. Como sempre demonizaram o Estado, a política e o debate público, não sabem o que fazer durante a pandemia.

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Comerciantes severamente despolitizados durante uma vida inteira se veem desestruturados pela realidade impiedosa. Não entendem por que João Doria decretou quarentena. Não entendem, não aceitam, não respeitam.

A estes, só resta Bolsonaro.

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Na indigência mental que lhes é peculiar, eles só conseguem pensar em sair em carreata.

Hoje, eu tive a infelicidade de ler esse monumento à burrice e ao suicídio na publicação de uma comerciante da minha pobre cidade natal (Caçapava-SP).

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Ela diz, chocada: 1) o governador decretou quarentena sem conversar com os empresários; 2) o prefeito seguiu a ordem sem questionar e 3) as pessoas estão mais doentes que antes.

Esse é o resultado da negação da política.

Ignora-se o processo politico de decisões e de hierarquia (para não mencionar a pérola "as pessoas estão mais doentes que antes").

O golpe de 2016 nos levou a esse fosso: individualismo, incapacidade analítica e desrespeito institucional.

Nem vou mencionar a incompreensão técnica sobre o caos sanitário e a necessidade de ativação dos princípios éticos com relação à vida humana porque isso seria querer demais.

É por isso que essa energia do golpe, do antipetismo, da antidemocracia ainda está tão viva.

Esses 'comerciantes' - que se acham empresários - não são sequer capazes de se reinventar, abrindo vendas pela internet ou buscando reciclagem técnica.

Para esses 'comerciantes' (não são todos), só resta Bolsonaro e as carreatas. Para esses 'comerciantes', o autoritarismo passa a ser uma solução.

Como não lidam bem com a democracia - como eles a desprezam do fundo de suas almas - a solução é a instalação de um processo autoritário em definitivo.

Nós estamos em um processo infinito de 'subestimar o problema'. Estamos subestimando absolutamente tudo que nos é despejado por essa sequência política trágica imposta pelo golpe de 2016.

Esses comerciantes desgarrados da realidade sanitária, por exemplo, deveriam contar com algum tipo de assistência psicológica e técnica por parte do Estado brasileiro, mas foi feita uma opção consciente pelo desastre e pelo abandono.

Eles passam a ser vetores do vírus, do caos, da morte e de um novo golpe para finalizar aquilo que o primeiro golpe não finalizou.

É preciso saber: o golpe no Brasil não foi completo. Esse 'sentimento de incompletude' esta cada vez mais forte. Não fechemos os olhos para o que acabou de acontecer na Bolívia.

O militarismo está aceso e a imprensa brasileira está pronta para apoiar mais uma vez um regime autoritário no país.

É falso imaginar que nosso jornalismo revestido da opinião pública conservadora irá reagir ao 'complemento' do golpe de 2016, uma vez que não reagiu ao seu início (para não lembrar de seu apoio à ditadura).

Repito: estamos subestimando a crise sanitária, o vírus, Bolsonaro, a irresponsabilidade de setores da esquerda, os processos de violência que começam a despontar no horizonte e o morticínio da população brasileira em ritmo acelerado.

Seria bom tentarmos começar a nos desvencilhar desse vício que é subestimar a realidade, mas eu sei o quanto isso é difícil.

A subestimação é uma defesa (como o medo, como a covardia, como a fuga). Ela se encaixa nessa visão global pequeno-burguesa de mundo, nessa visão classista de manutenção do establishment, tão cara ao discurso produzido tanto no jornalismo conservador quando no frágil e acanhado jornalismo progressista.

Todos subestimam sem parar - até porque, codificar a realidade como ela é produz efeitos de 'pânico' e de 'teoria da conspiração'. Os sentidos produzidos pela atividade linguageira da espécie são assim: vertiginosos e selvagens. Mudam a todo o momento. Criam anteparos à experiência do real. Estabelecem rupturas na interpretação de cenários.

Estamos assistindo a tudo isso de camarote: o Ocidente inteiro - com sua prepotência inteira - subestimando um vírus e as consequências de um mundo que jamais será o mesmo, se é que ele continuará 'sendo' alguma coisa.

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