O golpe do capital contra o trabalho
"O impeachment de Dilma foi, com certeza, o golpe do capital contra o trabalho, como sugere o título do livro cuja segunda edição acaba de ser publicada"

Dedico minha coluna de hoje a um breve relato sobre o lançamento da segunda edição do meu livro O golpe do capital contra o trabalho no encerramento de um curso do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transportes Rodoviários de São Paulo, ministrado pelo valoroso Centro de Estudos Sindicais (CES) na Colônia de Férias do Sintaema em Nazaré Paulista.
Foi emocionante assistir cerca de 200 lideranças da categoria erguendo a obra, que propõe uma visão classista (ou marxista-leninista) dos acontecimentos políticos em curso no Brasil desde o golpe de 2016 que depôs Dilma Rousseff e entronizou Michel Temer no Palácio do Planalto, inaugurando o processo de restauração neoliberal, agora radicalizado pelo governo neofascista de Jair Bolsonaro.
É pobre e enganosa a leitura da conjuntura quando focada principalmente, ou exclusivamente, nas ações individuais dos seus protagonistas políticos, que no caso foram ou são meros instrumentos da operação golpista. Temer, Cunha, Aécio Neves e Gilmar Mendes estrelaram o filme, em sua abertura, mas são personagens que, embora relevantes, foram ou estão sendo devorados pelo golpe, o que é interpretado por alguns analistas superficiais como sinal de que o golpe derivou para o caos.
Gilmar Mendes foi quem impediu a posse de Lula como ministro de Lula, fato por muitos considerado fundamental na engrenagem golpista. Depois, perseguido furtivamente pelos procuradores da Lava Jato, tornou-se o mais ácido e lúcido crítico da operação, e foi graças a seu voto que Lula saiu da prisão. Mesmo a imagem sacralizada de Sergio Moro, fã (e provavelmente lacaio) da CIA, está desmoronando como sugeriu a revista Veja, que em muito contribuiu para construir a reputação de herói nacional do “mocinho” que comandou a República de Curitiba e prendeu o ex-presidente Lula.
Caráter de classe
Forças sociais mais amplas e mais poderosas, expressas no que o livro define sinteticamente como o Capital em oposição ao Trabalho, estão por trás do golpe. Compreendem o grosso da grande burguesia brasileira, urbana e rural (os modernos latifundiários do chamado agronegócio), e sobretudo a burguesia financeira internacional, que comanda a ordem imperialista e cujos interesses orientam as políticas externas das potências capitalistas, com destaque para os EUA, que foram na realidade os regentes da orquestra golpista.
Municiaram e instruíram a Lava Jato e até o momento podem ser considerados os principais beneficiários do golpe, cujo objetivo geopolítico (que não é o menor) foi alcançado com a mudança radical da política externa. O mesmo propósito perseguido (e também alcançado) na Bolívia, Paraguai, Honduras, Equador e outros países da região. Seria ingenuidade acreditar que as semelhanças refletem uma mera coincidência.
Em contraste com a aparência de caos, o fio condutor do golpe é uma ofensiva sem fronteiras contra direitos e conquistas seculares da classe trabalhadora, que desde 2016 vem sendo imposta sem diálogo e sem escrúpulos: a reforma trabalhista, a reforma da Previdência, a MP 905, o novo regime fiscal fundado no congelamento dos investimentos públicos, as privatizações e entrega das riquezas nacionais, o estímulo aos crimes ambientais, as pregações neofascistas, o retorno da censura, a criminalização das lutas e ofensas diárias contra o que nos resta da frágil e golpeada democracia brasileira. Vê-se que, na verdade, não há caos, mas uma linha coerente de consumação do projeto que foi esboçado na “Ponte para o futuro” de Temer e nos “15 pontos” de Aécio Neves.
Os acontecimentos em curso na América Latina, com destaque para o Chile e a Bolívia, sugerem que este projeto de radical restauração neoliberal não pode ser consumado num ambiente democrático. O fundamentalismo neoliberal é a essência do golpe e confere a este um nítido caráter de classe. O impeachment de Dilma foi, com certeza, O golpe do capital contra o trabalho, como sugere o título do livro.
Categoria estratégica
Reitero meus agradecimentos ao conjunto da diretoria do sindicato, e em especial aos companheiros Sorriso, presidente em exercício do Sindicato, Noventa, deputado federal e presidente licenciado da entidade e Chiquinho, secretário geral; aos queridos amigos e camaradas Nailton Francisco de Souza, Zé Carlos Negrão e Cipó, às diretoras Luciana Borges, secretária da Mulher, e Kátia Rodrigues, à jornalista Márcia e ao fotógrafo Denis Glauber, autor da foto que reproduzo aqui.
Trabalhei durante muitos anos como jornalista do SindMotoristas SP, que em minha época era mais conhecido como Sindicato dos Condutores. Aprendi muito com os trabalhadores e suas lideranças, a admirar a categoria, da qual me tornei fã com a convicção de que é uma das mais combativas, organizadas e conscientes da classe trabalhadora brasileira e realiza diariamente um serviço essencial à sociedade, tendo por consequência um papel estratégico na luta de classes de nossa épóca, entre outras razões porque os transportes hoje (seja aqui, na França, na Argentina ou qualquer outro país) são a espinha dorsal de uma greve geral.
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