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Lúcia Helena Issa

Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.

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O golpe explicado à minha filha de 11 anos

"Naquela noite, minha filha de 11 anos entendeu minha profunda tristeza pelo sequestro do futuro do Brasil. Entendeu que a covardia, a maldade e a traição não beneficiam nem mesmo ao traidor. Inacreditavelmente, alguns homens de 50 anos ainda não entenderam. E como as hienas de O Rei Leão, riem, entre alienados e arrependidos", escreve a jornalista e colunista do 247 Lúcia Helena Issa 

"Naquela noite, minha filha de 11 anos entendeu minha profunda tristeza pelo sequestro do futuro do Brasil. Entendeu que a covardia, a maldade e a traição não beneficiam nem mesmo ao traidor. Inacreditavelmente, alguns homens de 50 anos ainda não entenderam. E como as hienas de O Rei Leão, riem, entre alienados e arrependidos", escreve a jornalista e colunista do 247 Lúcia Helena Issa  (Foto: Lúcia Helena Issa)
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Há cerca de dois anos, numa noite de chuvas assustadoras aqui no Rio, meses depois do Golpe de 2016, depois daquele fatídico domingo em que deputados evocaram Deus, a família ou Jesus Cristo em pessoa para aprovarem um impeachment sem crime e depois de Temer começar a confiscar direitos dos nossos irmãos mais pobres, nomear corruptos históricos para o ministério, afirmar que venderia para as multinacionais uma parte maior do Pré-Sal e daria aos estrangeiros uma imensa isenção de bilhões de reais de impostos às petroleiras estrangeiras, lesando a Pátria em mais em mais um de trilhão de reais que seriam investidos na Educação das nossas crianças, minha filha, então com apenas 11 anos, me perguntou:

- Mãe, você pode me explicar uma coisa?

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- Claro, filha, o que você quer saber?

- O Temer não era o vice-presidente da Dilma? Então, por que ele está fazendo tudo isso que lhe deixou triste? Ele não queria as mesmas coisas que ela para o Brasil, ou ele só fingia que queria? Isso não foi uma traição?

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Achei a pergunta boa e de certa profundidade para uma menina de 11 anos.

Refleti um pouco sobre o que responderia e disse:

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- Sim, o Temer e a Dilma formavam uma "chapa", o que significa mais ou menos um grupo musical, um grupo de pessoas que se unem, com algumas ideias em comum, mesmo sendo muito diferentes entre si, apresentam um projeto de Brasil para o povo, como o projeto de uma casa, dizem que partes da "casa" receberão mais investimentos, mais dinheiro (como a cozinha e a biblioteca, por exemplo), e que partes da "casa" receberão menos, falam sobre o que farão para a saúde, para a educação, e com esse projeto de "casa", são eleitos ou não. O Temer nunca teve muitos seguidores nesse grupo musical, as pessoas não o conheciam e os que o conheciam não gostavam muito do que viam, ele não tinha muitos fãs e só foi eleito porque era parte de um grupo maior, um projeto de casa que as pessoas queriam muito, o projeto do grupo representado por Dilma naquele momento.

- Então foi uma traição bem grande, pois ele traiu não só o seu grupo, mas também esse projeto de casa que você disse, mãe?

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- Sim, porque ao trair as pessoas do grupo musical a que ele pertencia, ele acabou traindo também um projeto de país, um projeto que, mesmo não sendo perfeito, tirou quase trinta milhões de pessoas da miséria, filha, um projeto que foi elogiado pela ONU por combater a fome, por fazer programas sociais como o Bolsa Família, o Luz para Todos e que também levou alunos talentosos, mas muto pobres e que não tiveram as mesmas chances que você, para estudar fora do Brasil, através do Ciência Sem Fronteiras. Temer se uniu a um grupo musical rival, um grupo que tinha um projeto muito diferente do que foi escolhido pelos brasileiros nas urnas, entendeu?

- Acho que sim.

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- Para você entender melhor, eu poderia dizer que Temer fez exatamente o que fez o Scar, o tio do Simba, no filme O Rei Leão. Lembra-se de como Scar traiu o Mufasa no filme e, mesmo pertencendo ao mesmo grupo de Simba e Mufasa, ele acabou se unindo às hienas? Ele acabou se unindo ao grupo que levou ao caos e a fome para os bichos mais frágeis da selva?

- Lembro, mãe. O que ele fez foi horrível e acabou levando muitos animais da selva a morrerem, pois a fome voltou e muitos animais começaram a se odiar.

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- Sim, e mesmo na vida real, quando traímos nossos princípios, traímos amigos ou não cumprimos promessas, a história nunca acaba bem.

Temer cometeu uma traição ao se unir a um grupo que tinha planos de excluir os mais pobres desse projeto de "casa", entregar o petróleo do Brasil a preços muito baixos para os estrangeiros, tirar nossos irmãos mais pobres dos programas sociais que os ajudavam a sair de uma situação de miséria. Scars e Mufasas têm visões muito diferentes do mundo, entendeu?

- Scar era muito diferente do Mufasa...

- E sabe o que irá acontecer com Temer, filha? Acho que se tornará um dos governantes mais odiados da História, como foi Scar no filme, porque covardia e traição acabam sempre mal. Acabam levando o traidor para uma gaveta da História que ninguém mais abre.

Naquela noite, minha filha de 11 anos entendeu minha profunda tristeza pelo sequestro do Brasil e por não sabermos ainda como ou quanto nos custaria esse resgate.

Naquela noite, há dois anos, minha filha entendeu que Scars não são líderes, não foram escolhidos para o cargo que ocupam, não têm compromisso com a nação, serão rapidamente esquecidos pela História, mas podem nos fazer um imenso mal no período em que ocuparam o lugar da leoa escolhida de fato.

Naquela noite, minha filha de 11 anos entendeu o que havia acontecido no Brasil.

Inacreditavelmente, alguns homens de 50 anos ainda não entenderam. E, como as hienas de O Rei Leão, riem, entre alienados e arrependidos.

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