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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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O governo Bolsonaro e o fim da modernização conservadora

Desde a década de 1970, o conceito de “modernização conservadora”, cunhado pelo sociólogo estadunidense Barrington Moore Jr., em As origens sociais da ditadura e da democracia, tem nos auxiliado na compreensão do longo processo de revolução burguesa ocorrido no Brasil durante o século XX, com destaque para os períodos históricos iniciados com a Revolução de 1930 e o Golpe de 1964

Desde a década de 1970, o conceito de “modernização conservadora”, cunhado pelo sociólogo estadunidense Barrington Moore Jr., em As origens sociais da ditadura e da democracia, tem nos auxiliado na compreensão do longo processo de revolução burguesa ocorrido no Brasil durante o século XX, com destaque para os períodos históricos iniciados com a Revolução de 1930 e o Golpe de 1964.

Junto aos conceitos de “via prussiana” (Lênin), “desenvolvimento desigual combinado” (Trotski) e “revolução passiva” (Gramsci), a “modernização conservadora” foi em grande parte responsável pelo afastamento intelectual em relação à “razão dualista” que iluminava a forma de pensar dos setores majoritários da esquerda nacionalista – comunistas inclusos – até o “milagre econômico brasileiro” dos anos Garrastazu Médici.

Utilizado pelos principais nomes do pensamento social marxista brasileiro – em especial, por Francisco de Oliveira, Florestan Fernandes, Luiz Werneck Viana e Carlos Nelson Coutinho –, o conceito de “modernização conservadora” nos fez perceber que o Brasil havia se tornado um país plenamente capitalista mantendo intactas as suas estruturas sociais profundamente hierarquizadas e desiguais.

Por não terem sido refratários ao receituário neoliberal, em maior ou menor medida, os oito anos de governo FHC e os catorze anos de governo Lula e Dilma não foram capazes de fazer reverter as mazelas de um processo que, por um lado, transformou o agronegócio na locomotiva da economia nacional, e, por outro lado, resultou na construção de uma nação que ocupa as primeiras posições dos rankings de desigualdade social no mundo.

Pois bem, lamento dizer que, com o governo Bolsonaro, a “modernização conservadora” brasileira parece ter chegado ao seu fim – não no sentido de término, mas sim entendida como finalidade (telos em grego). Aproveitando-se do impulso gerado pela conjunção histórica entre pandemia, negacionismo, ultra-neoliberalismo e autoritarismo, em 2020, o agronegócio passou a representar ¼ do PIB nacional, enquanto o 1% mais rico da população brasileira passou a deter metade da riqueza do país.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.