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Breno Altman

Breno Altman é diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel

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O governo da Nicarágua tornou-se uma ditadura? NÃO

Não há dúvidas de que Daniel Ortega cometeu erros gravíssimos, incluindo amplas concessões aos que hoje tentam tombá-lo, a muitos desapontando. Mas etiquetar seu governo como ditadura, para além de conflitar com a realidade, representa dupla moral a serviço de interesses seculares

O governo da Nicarágua tornou-se uma ditadura? NÃO (Foto: STRINGER/MEXICO)
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A crise política nicaraguense já se estende por quatro meses. Manifestações, conflitos e violência ocupam o cenário desde que o presidente Daniel Ortega propôs uma reforma previdenciária desgostosa a empresários e trabalhadores. Nem sequer a imediata retirada dessa medida foi capaz de levar à pacificação.

A onda opositora, nascida de reivindicação concreta, se transformou em movimento insurrecional, cujo objetivo confesso é derrubar o governo. Os grupos que lideram essa escalada trancaram ruas, tomaram prédios públicos e armaram parte de seus apoiadores, respaldados tanto pelas frações mais conservadoras da comunidade internacional quanto por setores de esquerda.

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Ainda que se comprometendo com a abertura de negociações, Ortega reagiu contra a desestabilização. Não convocou o Exército, mas recorreu à ação policial. A militância sandinista se lançou no enfrentamento às forças adversárias, utilizando-se dos mesmos recursos empregados pelas patotas insurgentes.

Os protestos aparentemente declinaram, mas deixaram um rastro de sangue. A oposição fala em mais de 400 mortes. O governo reconhece metade desses óbitos, que incluem três dezenas de policiais e muitos ativistas das fileiras governistas.

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No entanto, a conclusão serpenteando pelo mundo, impulsionada por meios de comunicação que jamais tiveram problemas para apoiar golpes e ditaduras, aponta para a falência da democracia na Nicarágua.

Acusa-se Daniel Ortega por afrontar o levante em curso. Mas não foi isso que fez o governo espanhol, de forma mais comedida, contra os independentistas catalães, cujos líderes foram presos e banidos?
Quantos dos críticos do sandinismo chamaram de ditador o então primeiro-ministro Mariano Rajoy?

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O presidente da Nicarágua liderou uma revolução em 1979 e se retirou quando perdeu as eleições de 1990. Retornou pelo voto, no pleito de 2006, se reelegendo em 2011 e 2016, dessa última vez com mais de 70% dos votos.

Seu partido tem ampla maioria parlamentar, mas outras sete agremiações também possuem representantes na Assembleia Nacional.

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Nos Estados Unidos, por outro lado, Donald Trump virou presidente com uma votação popular inferior à de sua concorrente, e o sistema legislativo norte-americano é um duopólio há décadas. Por que, então, o sandinismo teria se convertido em ditadura e a Casa Branca seria o templo da democracia?

Também acusa-se o dirigente nicaraguense pela aprovação da reeleição indefinida. O fato é que a personalização do poder afeta até os regimes parlamentaristas. E nem por isso escuta-se a alemã Angela Merkel, há 13 anos no comando, ser chamada de ditadora.

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Atento à história golpista das elites latino-americanas, Ortega luta pela hegemonia em todas as instituições, incluindo o Poder Judiciário. Novamente, não é muito diferente do que ocorre nos EUA. Nem em Israel, onde leis recentes impuseram regras teocráticas e racistas para garantir o predomínio sionista. Quantos qualificam de ditadura o regime de Netanyahu?

Não há dúvidas de que Daniel Ortega cometeu erros gravíssimos, incluindo amplas concessões aos que hoje tentam tombá-lo, a muitos desapontando. Mas etiquetar seu governo como ditadura, para além de conflitar com a realidade, representa dupla moral a serviço de interesses seculares.

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Vale tudo, para as classes dominantes deste continente, quando se trata de combater até experiências políticas parcialmente fora do controle de suas mãos peludas.

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