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Marcia Tiburi

Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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O homem ao lado de Salman Rushdie

"É preciso frear o fanatismo religioso", diz Marcia Tiburi

Escritor Salman Rushdie (Foto: REUTERS)
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É preciso frear o fanatismo religioso

Salman Rushdie foi atacado em 12 de agosto em Nova Iorque em um lugar chamado Chautauqua, o mesmo no qual Franklin Roosevelt em 14 de agosto de 1936 havia pronunciado a seguinte frase “eu vi a guerra na terra e no mar. Eu odeio a guerra”.  

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Chautauqua é uma instituição dedicada às artes, à cultura, ao lazer, onde as pessoas passam férias desde o século XIX. É um cenário onde ninguém jamais imaginaria que pudesse haver violência semelhante a que foi perpetrada contra Salman Rushdie. Que Hadi Matar, um jovem de 24 anos tenha esfaqueado o escritor americano-britânico de origem indiana, 33 anos depois da sua condenação à morte, é de estarrecer ainda mais quando se percebe que o ressentimento move o fundamentalismo e o autoritarismo unindo o que há de mais arcaico às novas gerações. A “Fatwa” foi proferida pelo Aiatolá Khomeini em relação a Rushdie em 1989, mas pode ter relação com a morte por facadas do seu tradutor japonês Hitoshi Igarashi, em 1991, além de outros casos, mostrando que depois que um circuito de ódio é desencadeado, fica difícil interrompê-lo. 

No momento do atentado havia um homem ao lado de Salman Rushdie. Ele se chama Henry Reese e também foi ferido sobre o olho, mas não gravemente como o escritor. 

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Henry Reese e Diane Samuels, sua esposa, fundaram em 2004 uma instituição em Pittsburgh chamada City of Asylum, depois de terem assistido a uma palestra de Salman Rushdie. 

Eles compraram e restauraram casas em uma rua abandonada ao norte de Pittsburgh, na qual eles mesmos moram. A casa deles é simples, mas elegante. No porão funciona o ateliê de Diane Samuels, uma artista que tem como pratica copiar livros em tamanhos gigantescos. Nas cinco casas da Sampsonia Way, eles oferecem oferecem segurança, abrigo e apoio a escritores e artistas perseguidos de muitos países. 

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Em 2018 quando comecei a ser ameaçada em janeiro logo depois de ter deixado um programa de Rádio por me retirar de uma emboscada midiática, tive a sorte de receber o convite de Henry Reese e Diane Samuels para viver na City of Asylum. Eu passei meses evitando sair do Brasil e cheguei a me candidatar, acreditando que a intensificação da luta política poderia mudar as coisas. Evidentemente, eu sabia que tudo pioraria com o governo fascista que estava por vir e que deveria ser evitado a todo custo. Fiquei na City of Asylum por alguns meses, praticamente sozinha em meio à neve, tendo uma casa onde pude continuar meu trabalho como escritora e onde voltei a desenhar. Nunca vou esquecer as flores no vaso sobre a mesa da cozinha no dia que eu cheguei. Nunca vou esquecer da atenção e da gentileza de Henri e de Diane, ela me mostrando seus livros que tanto me inspiraram no trabalho com artes visuais que venho desenvolvendo desde então. 

Eu poderia ter ficado mais tempo, mas recebi um convite para uma universidade francesa e acabei indo para a França. Lembro de ter perguntado a eles por que haviam criado aquele santuário cultural e de receber como resposta “nós amamos demais os livros” em meio a uma conversa sobre liberdade de expressão como o coração da democracia. 

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Em uma entrevista dois dias depois do atentado, Henry Reese resumiu o nexo entre literatura e democracia comentando que “A abertura da escrita é, de facto, justiça social. Os valores de abertura e proteção são o que permite a uma sociedade construir justiça”.

Como escritora, o ataque a Salman Rushdie me causou um profundo mal estar e temor. Tendo sido perseguida por meus livros, inclusive pioneiros na denúncia contra o fascismo brasileiro, bem como por meu trabalho como intelectual pública que implica posicionamentos políticos consistentes para enfrentar o fascismo, eu tenho a certeza do que significa estar à mercê do fanatismo. 

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Como qualquer pessoa que sabe da importância da democracia e da liberdade de expressão, eu me preocupo com o nosso país, mas também com o futuro da espécie humana em nosso planeta. 

O fanatismo religioso é um projeto de poder que precisa ser superado. No Brasil, o fanatismo avança com os jogos sujos envolvendo extorsão do povo, lavagem cerebral, chantagem e ma fé contra as pessoas. As Fake News atuais são a tecnologia política dos pastores neopentecostais que não temem esconder o que fazem. 

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O Brasil que há de vir poder ajudar no processo de tornar o mundo mais aberto e mais justo, mas para isso precisamos evitar que o fundamentalismo avance na política. É preciso frear o fanatismo religioso. Para que ninguém mais seja ameaçado por suas ideias libertárias ou por sua criatividade artística e literári

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