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Rubinho Giaquinto

Ex-covereador da ColetivA-BH, guitarrista, escritor e professor. Graduado em Licenciatura Educação Musical (UEMG). Foi assessor da Coordenadoria para Assuntos da Comunidade Negra da Secretaria Municipal de Direitos de Cidadania de Belo Horizonte. Coordenou o “Movimento dos Sem Palco”, articulando artistas do Hip-hop, rock, literatura e samba da periferia de Belo Horizonte. Coordenador dos Fóruns Pró-Trabalho na questão racial, pessoas com Deficiência e Juventude do Ministério do Trabalho.

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O homem que amava os cachorros

Era um domingo calmo e não tinha Fórmula 1 na TV. As ruas estavam vazias. De repente, um acidente

O homem que amava os cachorros (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

A manhã estava insuportavelmente quente e o asfalto dava para fritar um ovo ou fazer uma feijoada daquelas bem suculentas com farofa. Era um domingo calmo e não tinha Fórmula 1 na TV. As ruas estavam vazias tipo um Lockdown da pandemia do Coronavírus. 

De repente, um acidente. Um atropelamento. Curiosos vieram de todos os lados. Uma mulher ao chão. Começa o desespero. Chama a polícia. Chama o Samu. Também fui ver o acidente. A rua encheu como num clássico no Mineirão. Muito desespero. Uns culpavam a mulher, outros o motorista de uma Kombi caindo aos pedaços. 

Ela gritava de muita dor. Pedia ajuda a todo momento. Algo me chamava a atenção. Seu olhar era de medo. E não de dor. 

Quando escuto: - psiu...psiu... vem aqui, moço. 

Era a mulher que estava no chão acidentada. 

- Por favor, me ajuda. 

- Sim. Já chamamos o Samu. Você tá bem?

- Estou com um pouco de dor. Tô preocupada também. Com o meu celular- Uai! Que foi?  

Por favor, pega rápido na bolsa e some com ele daqui. 

- Por quê? 

- Pega rápido, moço. 

- Num tô entendendo. 

- Moço, te chamei porque você tem cara de bom moço. E tá com esse livro na mão aí do Trotsky. Deve ser comunista. Comunista não julga ninguém e parece ser gente boa. Tô preocupada com meus nudes. Como? Meu nudes, porra! Pega meu celular na bolsa, rápido! 

- Você tá falando sério?

- Moço, deixa ser mole. Tô aqui com muita dor e preocupada com meus nudes. Imagina vazar minhas fotos?  

- Tá bom! Como faço pra te devolver?

- Vou te ligar assim que sair do hospital. Moço comunista, fala uma coisa? 

- O quê? 

- Muito obrigada. 

- Nada.

- Última pergunta, pode ?

-Fala, moço!

- Posso vê?

-Sai daqui agora! 

-Tá bom!

- Vou esperar você me dar um toque, então! 

- Salve! 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.