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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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O Império do caos nos embalos da guerra híbrida

"A guerra híbrida contra o Brasil, que é apenas membro dos BRICS, funcionou como um encanto, mas tentar empreende-la contra uma superpotência nuclear como a Rússia é algo totalmente diferente",  avalia o correspondente internacional Pepe Escobar; "No final das contas: oculto nas sombras da negação plausível – segundo a qual aquilo que entendemos por realidade não passa de mera percepção – o Império do Caos vai lançar mão da caótica e irrestrita guerra híbrida para não 'perder' o coração da Eurásia"

O Império do caos nos embalos da guerra híbrida
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Tradução de Ricardo Silveira 

Estamos na Era da Ansiedade?
Era da Estupidez?
Era da Guerra Híbrida?
Ou todas as respostas acima?

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À medida que o populismo de direita vai aprendendo a usar algoritmos, inteligência artificial e convergência midiática, o Império do Caos vai desfiando em paralelo uma baita guerra híbrida e semiótica.

A Guerra ao Terror deu metástase e voltou como um vira-latas híbrido.

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Mas a guerra de Dick Cheney não seria a Guerra ao Terror sem um espantalho do Velho Oeste. Entra em cena Hamza bin Laden, filho de Osama. No mesmo dia, o Departamento de Estado anunciou uma recompensa de 1.000.000 de dólares pela sua cabeça, o dito “Comitê de Sanções contra o ISIL e a Al-Qaeda do Conselho de Segurança da ONU” declarou que Hamza era o próximo líder da al-Qaeda.

Desde janeiro de 2017, Hamsa é o Terrorista Internacional Especialmente Designado pelo Departamento de Estado, equivalente ao seu falecido pai no início dos anos 2000. A comunidade de empresas de tecnologia no Cinturão de Washington “acredita” que Hamza mora “na região do Afeganistão / Paquistão”.

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Não se esqueçam: essas pessoas são as mesmas que “acreditavam” que o ex-líder Taliban Mullah Omar morava em Quetta, no Baluchistão, quando de fato ele estava escondidinho a uns poucos quilômetros de uma enorme base militar dos EUA em Zabul, no Afeganistão.

Considerando que, na prática mesmo, a Jabhat al-Nusra, ou al-Qaeda na Síria, mal passava de uns poucos “rebeldes moderados” segundo definição da comunidade tecnológica no Cinturão de Washinton, podemos deduzir que esse novo espantalho é um “moderado”. Na verdade, ele é mais perigoso do que o desaparecido Califa fake Abu Baqr al-Baghdadi. Que exemplo de contra hegemonia cultural!

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Me mostra o quadro inteiro

Cabe o sólido argumento de que o Império do Caos, no momento, não tem aliado algum; está basicamente cercado por uma elite submissa, manipulada, traidora e entreguista, praticando vários graus de obediência, ainda que às vezes relutante.

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A política externa do governo Trump pode ser facilmente desconstruída como a cruza de um The Sopranos com uma comédia da madrugada na TV – como foi todo o episódio do rato de laboratório do Departamento de Estado/CIA que se autoproclamou Presidente da Venezuela para mudar o regime. O lendário crítico cultural Walter Benjamin teria chamado o caso de “esteticisação da política” (transformação da política em arte), conforme fez sobre os nazistas, só que agora é a versão “desenho animado”.

Para aumentar a confusão conceitual ainda mais, apesar da palhaçada toda das “ofertas irrecusáveis” sugeridas por psicopatas do calibre de John Bolton e Mike Pompeo, existe uma pérola impressionante. O ex-diplomata iraniano Amir Moussavi revelou que o próprio Trump pediu a visita a Teerã, que foi devidamente recusada. Moussavi disse que “dois estados europeus, dois países árabes e um estado do sudeste asiático” estavam mediando uma série de mensagens repassadas por Trump e seu genro Jared Kushner “das arábias”.

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Será que existe um método por trás de toda essa loucura? Uma narrativa grandiloquente seria mais ou menos assim: O Estado Islâmico / DAESH pode ter ficado em segundo plano – por ora, uma vez que não são mais úteis, de forma que os EUA devem lutar contra o mal maior: Teerã. Resgata-se assim a Guerra ao Terror e, embora Hamza bin Laden tenha sido designado como o novo Califa, a Guerra ao Terror agora se volta para o Irã.

Ao misturarmos tudo isso com a rixa entre Índia e Paquistão, surge uma mensagem mais abrangente. O Primeiro Ministro Imran Kahn, o exército paquistanês e os serviços de inteligência daquele país não tinham a menor intenção de lançar um ataque contra a Índia na Caxemira. O Paquistão estava ficando quase sem dinheiro e prestes a ser resgatado com uma ajuda de 20 bilhões dos EUA via Arábia Saudita e um empréstimo do FMI.

Ao mesmo tempo, houve dois ataques terroristas quase simultâneos vindos do Paquistão – contra o Irã e contra a Índia, em meados de fevereiro. Ainda não há provas cabais, mas os ataques podem ter sido manipulação de algum órgão de inteligência estrangeiro. Quem sairia ganhando com isso é o estado que lucraria muito com uma guerra entre o Paquistão e o Irã e/ou entre o Paquistão e a Índia.

No final das contas: oculto nas sombras da negação plausível – segundo a qual aquilo que entendemos por realidade não passa de mera percepção – o Império do Caos vai lançar mão da caótica e irrestrita guerra híbrida para não “perder” o coração da Eurásia.

Me mostra quantos planos híbridos você tem

O que se aplica ao coração, é claro, também se aplica ao quintal dos fundos.

O caso da Venezuela mostra que a hipótese de todas as opções terem sido lançadas já foi de fato abortada pela Rússia, delineada num impressionante esboço por Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores daquele país, e por fim detalhada pelo seu próprio Ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov.

Ao se encontrar com o Ministro das Relações Exteriores da China Wang Li e o Ministro das Relações Exteriores da Índia Sushma Swaraj numa reunião de cúpula fundamental dos RIC (parte dos BRICS) na China, Lavrov disse: “A Rússia está de olho nas tentativas descaradas dos EUA no sentido de criar pretexto para uma intervenção na Venezuela... A materialização dessas ameaças se dá com a entrada de equipamentos militares e com o treinamento de Forças Especiais dos EUA.”

Lavrov explicou o empenho de Washington em comprar morteiros e sistemas portáteis de defesa aérea “num país do leste europeu e em trazê-los para perto da Venezuela através da empresa aérea de um regime que é... totalmente obediente a Washington no espaço pós-soviético.”

A tentativa que Washington está fazendo para mudar o regime na Venezuela vem fracassando de várias maneiras. O Plano A – uma clássica revolução colorida – falhou de maneira atroz, parcialmente por falta de uma inteligência local decente. O Plano B era uma versão branda do imperialismo humanitário, com o resgate da nefasta responsabilidade de proteger (R2P), e também falhou, especialmente quando o conto estadunidense de que o governo venezuelano tinha queimado caminhões da ajuda humanitária na fronteira com a Colômbia foi deslindado por nada menos do que o The New York Times.

O Plano C já tinha sido revelado pelo WikiLeaks, através de um vazamento de 2010 revelando o cambalacho de uma revolução colorida financiada pelos EUA com sede em Belgrado que ajudou a preparar o autoproclamado “Presidente” Zé Ninguém quando ainda era conhecido somente pelo nome de Juan Guaidó. O memorando em questão dizia que um ataque à rede elétrica venezuelana seria um divisor de águas “provavelmente capaz de galvanizar a insatisfação pública de forma que nenhum grupo oposicionista poderia ousar”.

Mas nem isso bastou.

O que nos deixa o Plano D, que era basicamente uma tentativa de deixar a população venezuelana morrer fome aplicando maliciosamente ainda mais sanções letais. Sob sanção, nem a Síria nem o Irã pereceram. Mesmo com todas as elites entreguistas agregadas no grupo de Lima, os excepcionalistas talvez tenham que se acomodar com o fato de que derrubar a doutrina Monroe só para conter a influência chinesa no jovem Século XXI não é nenhuma “barbada”.

O Plano E – para chegar ao extremo – seria ação militar, uma carta que Bolton não quer tirar de cima da mesa.

Me mostra o caminho para o próximo jogo de guerra

Então, para onde é que todo esse armamentismo da teoria do caos vai nos levar? A lugar algum, se eles não seguirem o dinheiro. As elites entreguistas locais precisam ser regiamente recompensadas; caso contrário, vamos atolar num território pantanoso híbrido. Foi o caso no Brasil – e é por isso que o caso de guerra híbrida mais sofisticado da história até o momento foi bem sucedido.

Em 2013, Edward Snowden e a WikiLeaks revelaram que a NSA vinha espionando a gigantesca empresa do ramo energético brasileiro, Petrobras, e o governo Dilma Rousseff desde 2010. Subsequentemente, um complexo golpe judicial-empresarial-político-financeiro-midiático em andamento acabou atingindo os seus dois principais objetivos: em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, e em 2018, com a prisão de Lula.

Agora é que vem a peça mais substancial do quebra-cabeça. A Petrobras deveria pagar $ 853 milhões ao Departamento de Justiça dos EUA para não ir parar nos tribunais por crimes dos quais estava sendo acusada naquele país. Foi aí que realizaram um indecoroso acordo segundo o qual a multa seria transferida para um fundo brasileiro contanto que a Petrobras se comprometesse a repassar informações confidenciais da empresa para o governo dos Estados Unidos.

A guerra híbrida contra o Brasil, que é apenas membro dos BRICS, funcionou como um encanto, mas tentar empreende-la contra uma superpotência nuclear como a Rússia é algo totalmente diferente. Noutro caso de contra hegemonia cultural, os analistas estadunidenses chegaram a acusar a Rússia de empreender uma guerra híbrida – um conceito que, na verdade, foi inventado nos EUA num contexto de contra terrorismo, aplicado durante a ocupação do Iraque, espalhando-se posteriormente qual metástase por todo o espectro da revolução colorida, e divulgado, dentre outros, num artigo escrito em co-autoria pelo ex-chefe linha-dura do Pentágono James Mattis, em 2005, quando ele era apenas um tenente-general.

Em recente conferência sobre a estrutura militar russa, o Chefe de Estado Maior General Valery Gerasimov destacou que as forças armadas de seu país devem aumentar o seu potencial tanto “clássico” quanto “assimétrico”. Nos Estados Unidos, isso é interpretado como técnicas de subversão / propaganda de guerra híbrida, qual as que foram aplicadas na Ucrânia e no amplamente desmascarado Rússia-gate. De fato, os estrategistas russos se referem a essas técnicas como “abordagem complexa” e “guerra de nova geração”.

A RAND Corporation de Santa Monica ainda se atém a antigas hipóteses de guerra quente. Eles fazem simulações de jogos de guerra “Vermelho x Azul” desde 1952, modelando como as proverbiais “ameaças existenciais” poderiam usar estratégias assimétricas. A última Vermelho e Azul não se saiu lá tão bem. O analista David Ochmanek, da RAND, disse que com o Azul representando o potencial militar dos EUA hoje e o Vermelho representando Rússia-China numa guerra convencional, “o Azul se ferra direitinho”.

Nada disso convence o funcionário do Império do Caos General Joseph Dunford, presidente do Estado Maior das Forças Armadas, que recentemente falou para um Comitê Senatorial de Serviços Armados que o Pentágono vai continuar recusando a estratégia nuclear NFU (no first use). Há aspirantes a Dr. Fantástico acreditando deveras que os EUA seriam capazes de entabular uma guerra nuclear e terminar na boa.

E falar de uma Era da Estupidez Híbrida explodindo como uma bomba!

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