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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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O “jeito Peçanha" de faturar com a COVID-19

Jair Bolsonaro e cloroquina (Foto: Reuters)
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A CPI da COVID-19 está ajudando nós brasileiros a entender o pensamento e a prática bolsonarista. Um elemento importante é uma atitude de sabotagem ao Estado e a democracia liberal. Há uma espécie de proposta de ruptura com as instituições para instaurar no lugar um "salve-se quem puder" a partir de soluções por fora dessa institucionalidade. Para tornar isso mais claro e menos abstrato. 

O exemplo mais evidente disso é a cloroquina ou o chamado tratamento precoce. Essa pretensa solução usa a mesma lógica, na saúde, do "gato" feito nas comunidades controladas por milicianos para conseguir TV a cabo e energia elétrica. É uma solução fora da institucionalidade, ou "paralela", palavra que a CPI está destacando bastante. Só que há uma diferença.

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 A burla do que está instituído, nesse caso, vai além de lesar as empresas que eventualmente fornecem serviços. A burla nesse caso não resolve o problema a que se propõe, que é tratar a COVID-19. E mais, causa problemas de saúde adicionais nas pessoas que aderiram ao tratamento, como complicações hepáticas. Há risco de morte, seja pela COVID-19, seja por outras causas. Mas isso pouco importa, para o Estado paralelo, o que importa é ter controle e faturar com o serviço. E isso o bolsonarismo parece ter conseguido. 

O esquema da cloroquina talvez seja a maior operação de "gato" que qualquer grupo miliciano jamais conseguiu. A CPI da COVID-19 revela que uma a cada quatro pessoas no Brasil fez o tratamento precoce com cloroquina e/ou outros itens do chamado "Kit COVID". 

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Isso deve ter sido extremamente lucrativo. Em entrevista concedida ao canal Meteoro Brasil, o senador integrante da CPI da COVID-19 Randolfe Rodrigues (REDE-AP) informou que as investigações dos parlamentares estão levando a CPI a perseguir a trilha do dinheiro da Cloroquina. O senador declarou que o Ministério das Relações Exteriores de Bolsonaro fez advocacia administrativa para que uma empresa brasileira tivesse liberada uma carga de hidroxicloroquina da Índia. Isso torna mais grave o que já se supunha sobre a Cloroquina ser um elemento de incentivo às pessoas trabalhar sem medo de morrer, o que provocou efetivamente muitas mortes. 

Tudo indica que era isso mesmo, mas também virou um negócio altamente rentável para os idealizadores. Ou seja, as evidências da CPI apontam para uma deliberada ação de boicote da vacina e de incentivo a Cloroquina com vistas a obtenção de vantagens pecuniárias. Se instaurou um esquema milicano que faturou e fatura em cima de cadáveres.  Sobre a omissão da compra de vacina e atuação do que Randolfe chama de "gabinete da morte".

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 Ele revela que do depoimento da médica Luana Araújo em diante fica nítida atuação desse gabinete, que vetou o nome da médica simplesmente por ter uma conduta muito científica, o que poderia atrapalhar os negócios relacionados a cloroquina. 

A omissão de vacinas, portanto, era interligada a atuação desse gabinete paralelo da morte. Ele anuncia que nos últimos dias, o caminho do dinheiro da Cloroquina começa a aparecer nas investigações da CPI. 

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Isso explicaria a movimentação obcecada para a venda desse tratamento precoce. Em qualquer farmácia essa publicidade era escancarada. Lembramos que a publicidade em torno de medicamentos é restringida no Brasil. Mas em relação ao chamado "Kit COVID-19", isso foi ignorado. Ele foi escandalosamente anunciado, separado num saquinho para o cliente levar para a casa, sem nenhum constrangimento. 

A atuação do empresário Carlos Wizard também chama muita atenção. Ele fez grandes esforços para desburocratizar a venda desses medicamentos relacionados ao Kit-Covid-19. Aliás, uma pergunta que não quer calar: Carlos Wizard será ouvido pela CPI da Pandemia? Ele tem muito a explicar de suas movimentações pró-cloroquina.  

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A Pfizer, indústria farmacêutica que produziu uma das vacinas contra COVID-19, entrou em contato com o governo federal oferecendo seu produto em 17 de março deste ano, segundo informa Randolfe Rodrigues. Um mês depois de receber este e-mail, Bolsonaro agiu para adquirir essas vacinas? 

Não, ele ligou para o primeiro-ministro da Índia para pedir um carregamento gigantesco de cloroquina. Um mês depois de ser oferecido a ele um carregamento de vacinas. 

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O que explica isso? A Pfizer enviou dezenas de e-mails ao Palácio do Planalto que foram ignorados. Tudo indica que a deliberada opção pela cloroquina fez parte de uma macabra estratégia de lucro diante do temor da doença. Então, a cloroquina é o ponto-chave de uma estratégia bolsonarista frente a pandemia. Para entendê-la, é preciso entender como uma milícia age. A milícia impõe soluções a revelia das regras formais do Estado.

 O canal de humor da internet Porta dos Fundos tem um personagem chamado Peçanha, que é uma sátira sobre as milícias do Rio de Janeiro. 

O enfrentamento a COVID-19 feito pelo governo federal parece ter sido conduzido pela mentalidade do Peçanha. De forma truculenta, querendo faturar em cima, sem ligar para eventuais mortes que possam decorrer da ação. Segundo essa mentalidade, quem morrer, morreu. Paciência. 

 Se conseguirmos um pouco de lucidez para tentar pensar isso mais calmamente, podemos concluir que esse “jeito Peçanha" de governo é uma decorrência do neoliberalismo na América Latina. 

Aqui, onde nunca o Estado de bem-estar social efetivamente se instaurou, onde fomos jogados diretamente de uma ditadura para os ditames do Consenso de Washigton, foram se criando as condições para o surgimento desses grandes esquemas milicianos. Agora que a milícia ocupou a cadeira presidencial, será duríssima a luta para desalojá-los. Mas necessária, e motivo suficiente para unir toda a sociedade.

 

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