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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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O jogo jogado de 26

As campanhas terão de ser desenhadas para resolver a disputa no tempo regulamentar, sem prorrogação

Tarcísio e Lula (Foto: Reprodução | Ricardo Stuckert/PR)

O quadro eleitoral para 2026 já está desenhado. E, pelo traço dos pincéis, a chance de termos segundo turno fica cada vez menor. Isso porque o eleitor provavelmente encontrará na urna eletrônica uma cédula que estimulará uma lógica de escolha mais próxima do bipartidarismo, em vez das múltiplas escolhas a que estamos acostumados: Lula e Tarcísio devem encarnar os polos que antagonizam no país.

Confesso que tinha dúvidas se Tarcísio de Freitas abriria mão de uma reeleição que se insinua tranquila em São Paulo para se lançar numa disputa presidencial contra Lula - uma candidatura naturalmente forte, ainda mais quando conduzida a partir do governo. Mas os movimentos desta semana dissiparam essas incertezas. Sua ida a Brasília para defender o projeto de anistia aos envolvidos na tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito revelou, com clareza, sua disposição de concorrer.

O gesto foi bem calculado. O áudio em que Eduardo Bolsonaro dizia ao pai que, se Tarcísio entrasse por uma porta do PL, ele sairia pela outra obrigou o governador paulista a fazer movimentos em direção à família Bolsonaro e ao bolsonarismo raiz. Esse aceno facilita para o ex-presidente, inelegível que está, chancelar Tarcísio como seu candidato, superando resistências internas.

Pior para os demais governadores da direita que alimentavam pretensões presidenciais. Caiado, Ratinho e Zema até podem disputar, mas tendem a ser engolidos pela muito provável polarização. Isso porque o perfil de Tarcísio tende a ser mais palatável a parcela do eleitor que está efetivamente em disputa e que poderia virar à direita. Papel que poderia caber a esses governadores em um primeiro turno no caso de uma candidatura da família Bolsonaro. A desidratação, ao que tudo indica, não lhes permitirá sequer cumprir o papel de viabilizar um segundo turno.

Não afirmo aqui que Lula ou Tarcísio vencerão logo de saída. Para isso, seria preciso uma bola de cristal. Mas arrisco dizer que a maioria - hoje com leve vantagem para Lula - será definida já no dia 4 de outubro de 2026.

E é por isso que a decisão de Tarcísio de se lançar à Presidência, sinalizada na defesa da anistia aos golpistas, é tão relevante. A partir dela, as campanhas terão de ser desenhadas para resolver a disputa no tempo regulamentar, sem prorrogação. Com um contingente reduzido de eleitores ainda suscetíveis ao convencimento - de parte a parte -, é perfeitamente plausível imaginar que o primeiro turno de 2026 repita os percentuais do segundo turno de 2022.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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