O jornalista também contribui com a crise da mídia

A grande mídia não se cansa de mostrar o país como música de uma nota só. Crise, crise e crise.

Mas não fala de sua própria grave crise. Com demissões em massa, fechamento de revistas, encolhimento de jornais e baixa audiência na televisão, o setor busca uma sobrevida na Era Digital.

Porém, o desmonte da mídia tradicional não se deve apenas ao avanço da internet. Há uma grave crise de credibilidade também. Como esquecer que repórteres foram expulsos e impedidos de cobrir as manifestações de junho de 2013?

A insatisfação não é só com os políticos. O jornalismo também está na lama.

A primordial isenção do jornalista virou lenda. Na prática o que vemos é o total engajamento do profissional aos interesses do patrão.

Hoje o jornalismo político das grandes empresas está mais para marqueteiros que jornalistas. E os mais "competentes" na obcecada sanha de detonar o PT são recompensados.

Assim, junto a antigas raposas, surgem novas "celebridades", como Reinaldo Azevedo e Raquel Sheherazade, dentre outros, para atacar políticas populares. Passam a fazer parte da 'primeira divisão' da mídia. Um time coeso a proliferar preconceitos e massacres sempre contra os mesmos.

E ainda se apresentam em papéis didáticos. William Bonner, filmado numa palestra, como uma grande sala de aula, afirma que o Jornal Nacional tem como missão atuar com pluralidade e isenção. Parecia um esquete de Porta dos Fundos.

A dúvida é: será esse o jornalismo ensinado nas faculdades? Quem são as referências dessa garotada?

Há pouco tempo uma jornalista que vive clamando contra a corrupção foi desmascarada por copiar 65 reportagens em menos de um mês para seu blog. Onde ela está? Num cargo de destaque na Veja.

A paraibana Raquel Sheherazade, do SBT e Jovem Pan, que, se comparada ao ex-presidente Figueiredo faz deste um grande humanista, só não foi honrada com o título de cidadania goiana pela Assembleia local por conta da ampla repercussão contrária nas redes sociais.

O colunista Fernando Rodrigues, do portal UOL, que acusou blogs e sites progressistas de serem favorecidos pela publicidade do Governo e de estatais federais - quando é notório, pelo menos para os que buscam a informação além da grande mídia, que a quase totalidade desses recursos públicos continua direcionada aos barões da imprensa -, é o jornalista que escondeu de todos os brasileiros a lista das contas secretas do HSBC na Suíça, escândalo conhecido por SwissLeaks. Mais tarde descobriram que seu patrão estava na lista.

A ombudsman da Folha de SP Vera Magalhães, que tem a função de defender o leitor de possíveis manipulações, enxerga um "círculo bajulatório" à presidente Dilma nos blogs e sites independentes, mas não vê parcialidade de seu empregador com a oposição.

Mesma opinião tem o ex-presidente da TV Cultura Jorge da Cunha Lima: "só os blogueiros mercenários estão ativos, ainda que com menos ímpeto, detonando os críticos do PT e mesmo os comentaristas serenos".

Quer dizer, mesmo com opiniões diferentes, ao invés de darem boas-vindas aos que com muito esforço, poucos recursos e quase nenhuma estrutura, conseguem romper o monopólio da informação, preferem execrar os colegas como governistas, quando, na verdade, estão fazendo o contraponto à opinião única da grande mídia, e mais, abrindo um mercado de trabalho altamente concentrado.

Como na política, a classe jornalística também vive seu Fla-Flu.