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O legado de Fidel e da Revolução cubana

Fidel Castro partiu deixando um legado claro e profundo de resistência e de luta exitosa pela descolonização completa da sociedade cubana. Também deixou o exemplo do compromisso internacionalista com as lutas de libertação e descolonização das nações do terceiro mundo na África, América Latina e Ásia

Fidel homenagens (Foto: Paulo R de Andrade Castro)
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"Nenhum cientista social e nenhum socialista revolucionário poderia prever ante eventu a revolução cubana......Havia uma razão ideológica e política que iluminou a visão prospectiva de alguns revolucionários e ela se mostrou sob muitos aspectos, correta. Ainda assim, só um homem, Fidel Castro, chegou ao fundo dessa razão e hoje são evidentes as aproximações e as incertezas que impregnaram suas lutas políticas. Diante de algo tão grande e valioso como essa revolução recomenda-se pois, que se evitem as simplificações para apanhá-la em seu fluir, em sua totalidade e em sua beleza intrínseca...'

Florestan Fernandes no início dos anos 80, sobre a revolução cubana.

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Fidel Castro partiu deixando um legado claro e profundo de resistência e de luta exitosa pela descolonização completa da sociedade cubana. Também deixou o exemplo do compromisso internacionalista com as lutas de libertação e descolonização das nações do terceiro mundo na África, América Latina (AL) e Ásia. Ainda jovem foi o principal líder de uma revolução social, que através de um processo ininterrupto, derrubou a ordem social neocolonial e dinamicamente se transformou em uma revolução socialista. A liderança política e moral que exerceu durante este processo, inconteste até por pares com a estatura de um Che Guevara, foi decisiva para a liberação total da sociedade cubana.  Apoiado, ele e o Movimento 26 de Julho, pelos trabalhadores e camponeses explorados e sendo capaz de compreender os anseios populares que floresceram com o desencadeamento da revolução, teve a capacidade de conduzi-la a seu zênite: A desapropriação e nacionalização de latifúndios, empresas monopolistas, e a instituição da propriedade social.

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Entre 1953, (ano do assalto ao quartel de moncada) até a tomada do poder em 1959, liderou a construção dos instrumentos políticos que forjaram o êxito da revolução. A formação da guerrilha, o movimento 26 de julho e o exército rebelde. A formação do Partido Comunista Cubano após a chegada ao poder.

A revolução cubana não foi organizada e conduzida por um ‘partido revolucionário’. O partido ligado a URSS, o PSP, que possuía influência no movimento sindical, não desejava a radicalização do processo revolucionário. Em certa medida pode-se afirmar que foi uma revolução que aconteceu ‘apesar do aparelho internacional do stalinismo’.

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A “juventude rebelde”, que se tornou vanguarda armada na guerrilha e do exército rebelde, se constituiu ao longo do processo como o elemento de impulsão e de  ligação com o sentido da revolta dos mais humildes (operários e camponeses), e a vanguarda que, cada vez mais radicalizada durante o processo revolucionário, o conduziu ao seu desfecho, com a construção de uma nova sociedade, uma nova ordem, socialista.

Fidel liderou a primeira revolução socialista no hemisfério Sul e na América Latina.  Exemplo concreto, de que a superação da condição neocolonial, da submissão às cadeias de exploração do imperialismo, impõe a reflexão e ação pela transformação socialista da sociedade.

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Devemos a Fidel, um contributo extraordinário para essa realização da sociedade cubana, um exemplo de rebeldia para a nuestra América e para os países mais pobres da periferia do capitalismo.  Como asseverou Florestan Fernandes em seu livro “Da guerrilha ao socialismo”, foi Fidel o homem capaz de compreender profundamente a razão subjacente da revolução cubana. A sua práxis enquanto chefe da revolução lhe possibilitou decifrar a dinâmica social instaurada pelo processo revolucionário e o termo ao qual deveria chegar a revolução. Compreendeu a impotência de setores da burguesia com os quais realizou frente única para derrubada de Batista, para corresponderem aos anseios emergentes nas camadas oprimidas, despertados pelo processo revolucionário. Não relutou em reconhecer e explorar os antagonismos de classe que se explicitaram no curso da revolução.  Por isso cumpriu papel ineludível para sua vitória e longa duração.

É sabido que condições sociais e materiais concretas de Cuba, uma nação de pequeno território e parco desenvolvimento industrial, dificultaram sobremaneira a construção do socialismo cubano. Contudo, as forças sociais despertadas pelo processo revolucionário, sustentaram uma mobilização social intensa, que deu início à obra coletiva da sociedade cubana.  Já em 1961, dois anos após a revolução, Cuba se declarava um país livre do analfabetismo. Rapidamente elevaram-se os indicadores sociais na educação, na saúde, no direito ao trabalho, transformando qualitativamente a vida da população cubana.

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Ainda na década de 60, inicia-se o bloqueio econômico norte – americano que perdura por seis décadas. As administrações norte – americanas transformaram a ilha de Cuba em ‘território sitiado’. Atacado por variadas ações de espionagem, sabotagem econômica, e terrorismo. Fato amplamente conhecido.

A ilha, sob a liderança de Fidel, seguiu resistindo a todas as pressões do maior império da história.  Através desta liderança, mesmo estando sitiada, Cuba apoiou as lutas de libertação na América Latina, na África, no Oriente médio e na Ásia.  Apesar de associada à União Soviética (URSS), potência que buscava a coexistência pacífica com os EUA, Cuba procurou “exportar” sua revolução, apoiando materialmente movimentos revolucionários em inúmeros países.  Entenda-se: apesar da associação e da dependência econômica em relação à União Soviética, preservou a sua soberania e manteve o compromisso com o internacionalismo revolucionário. Foi uma decisão cubana, independente da vontade da Rússia, o apoio aos movimentos políticos de libertação e de resistência às ditaduras militares na AL. Também preservou sua soberania em relação a URSS, no que envolve sua cooperação internacionalista na África ao longo de quatro décadas.

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Esse compromisso internacionalista torna-se claro, entre outros exemplos possíveis, quando se observa a participação cubana direta em processos políticos de libertação nacional na África, como na guerra civil de Angola e na Etiópia, as lutas de libertação no Congo, Cabo Verde, Guiné Bissau entre outros países.   Vale ressaltar que a vitória do MPL em Angola sobre o exército sul – africano, somente se concretizou na batalha de Cuito Canavale, quando as tropas angolanas combateram sob o comando pleno dos generais cubanos e a supervisão de Fidel.  A participação de Cuba contribuiu neste mesmo episódio histórico, decisivamente para a derrota de um dos mais deploráveis regimes políticos da história contemporânea: O apartheid na África do Sul. A atuação de Cuba na África, conforme enfatiza Eric Hobsbawm em seu célebre livro Era dos Extremos, “atesta o compromisso de Fidel com a revolução no terceiro mundo” (Hobsbawm, p. 245, 1994). O apoio dos cubanos as lutas de descolonização na África e em todo terceiro mundo, envolveram o envio de forças expedicionárias contendo dezenas de milhares de soldados, mas também apoio médico (brigadas de médicos cubanos) e know – how técnico.

O apoio de instrutores militares cubanos foi decisivo para a tomada de Luanda pelo MPLA em 1975.  As derrotas dos generais sul-africanos para os cubanos em 1976 e 1988 também aceleraram o término da ocupação das tropas da África do Sul na Namíbia[1].

O fim do socialismo na União soviética e nos países do leste europeu, um duro golpe para a revolução cubana, serviu indiretamente para a demonstração de suas energias quase inesgotáveis. No momento em que seus inimigos propagandeavam o fim inevitável do socialismo, o povo cubano resistiu, após 1991, diante de toda sorte de privações, que não havia conhecido durante todo o período revolucionário. Como falou Raúl Castro no ato de homenagem a Fidel em Santiago de Cuba, antes do seu sepultamento, o povo cubano resistiu, por exemplo, a 20 horas de racionamento de luz durante longos períodos. Faltaram alimentos, itens essenciais como produtos de higiene.  Resistiram e ainda realizaram a façanha de preservar as conquistas sociais da revolução, entre as quais um dos melhores sistemas de educação e de saúde do mundo. Essa resistência sugere o profundo significado da revolução, vivo e compartilhado pelo povo de Cuba.

Esta capacidade de resistência torna-se ainda mais notável pelo fato de que o elevado custo compartilhado pelo povo cubano para a manutenção do socialismo durante o período especial coincide exatamente com um momento de recuo, crise ideológica e desorientação das esquerdas a nível mundial. O momento de aprofundamento da globalização sob a égide do capitalismo financeirizado e da vigorosa investida ideológica do neoliberalismo.

Fidel se despede deixando o exemplo de não ter  abandonado os princípios da revolução e da libertação nacional de Cuba. Após ter provado que as forças sociais despertadas por uma revolução, mesmo em um pequeno país podem infringir ‘dolorosa derrota moral e política ao maior império do planeta’.  Podem sustentar uma das mais longas e heroicas resistências. Mostrando que mesmo uma nação pobre pode contribuir para a libertação e o bem estar de outros povos. Através da ajuda na área militar e da saúde em inúmeros países periféricos a revolução cubana se projetou internacionalmente.  Foi esta obra que possibilitou que o homem cubano alcançasse uma posição de liberdade, ao se encontrar e reconhecer nesse “outro” com o qual compartilha a mesma humanidade e o mesmo ímpeto de libertação.

 

PS: O reconhecimento do povo cubano se mostrou na despedida de Fidel com os atos multitudinários em Havana e Santago. Além disso, a calorosa recepção do povo cubano em todas as cidades onde transitou a caravana do cortejo fúnebre com as cinzas de Fidel.  O reconhecimento internacional a Fidel e a revolução cubana se revelou em variadas manifestações de autoridades, personalidades, instituições e movimentos sociais em diversos países.  Destaca-se que alguns países, como o Uruguai, Venezuela, Argélia, Angola, Equador, Bolívia, Nicarágua e Coréia do Norte decretaram luto nacional.

 

Textos consultados:

 

Britain, Victoria – Cuba in Africa - New Left Review 17, September-October 2002.

Fernandes, Florestan – “Da guerrilha ao socialismo” T. A. Queiroz editora, São Paulo, 1979.

Guevara, Che – Proyeciones sociales del ejército rebelde”, in F. Castro, La revolución cubana.

Jacobs, Sean -  “Viva Fidel”, publicano no site africasacountry.com. Dezembro, 2016.

Hobsbawm, Eric – “Era dos Extremos” O breve século XX – 1914 – 1941.

Morris Emely -  Unexpected Cuba - New Left Review 88, July-August 2014.



[1] Ver texto “Viva Fidel” de Sean Jacobs, publicano no site africasacountry.com.

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