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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O lugar de quem?

Atacar a Ministra na forma como a atacou, ninguém, duvida disso, ofende as mulheres como um todo

Marina Silva e senador Marcos Rogério discutem durante audiência de comissão do Senado (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

“Ponha-se no seu lugar!” disse o Senador Marcos Valério diante de Marina Silva, a Ministra do Meio Ambiente, uma mulher franzina, frágil, que na hora cresceu e se fez três vezes maior do que o seu oponente. O Presidente da Comissão de Infraestrutura, ao pronunciar aquelas palavras dava a impressão de que se dirigia a um subalterno, a quem se habituara a mandar e desrespeitar. Foi secundado por Omar Azis, não menos agressivo, e, pior, pelo Senador Plínio Valério, que odeia medidas de proteção ao ambiente. Em circunstância anterior, já confessara que resistira à ideia de estrangular a Ministra. Desta feita, frente a frente com ela, quis separar a mulher do seu cargo. Não funcionou. Uma pessoa como Marina Silva não teme zangões, nem suas ferroadas. Ocupa a pele de uma personagem que sofreu, passou por muita coisa em sua vida e é capaz de defender propostas com unhas e dentes. Sugere a frase citada no filme de Louis Malle Perdas e Danos, com Jeremy Irons e Juliette Binoche: cuidado com os que sofreram; eles sabem que podem sobreviver.

Fundada em sua firmeza pessoal, a Ministra agiu como deveria agir. Como o Senador Plínio Valério não se desculpou, retirou-se de cena. Os dois envolvidos na confusão, o Rogério e o Valério, ficaram com a cara no chão. O clamor contra eles crescia, dentro e fora do recinto. Aqueles tipos de extrema direita se habituaram a hostilizar os quadros do governo chamados para esclarecimentos, no Senado e na Câmara dos Deputados. Consideram-se acima da Lei, protegidos por uma suposta “imunidade” que, dentro das normas, não lhes assegura impunidade. Agora, aqueles heróis de botequim se verão às voltas com processos judiciais, uma vez que a Ministra não deixará por menos as tentativas de humilhação a que tentaram submetê-la. 

Ao contrário do que se supõe, o Parlamento não existe para perturbar a ordem e promover o caos. Entre suas funções está o debate, a livre circulação do pensamento, a troca de argumentos para encontrar saídas que tragam benefícios ao país. No passado, não há memória de níveis de enfrentamento tão baixos. Isso só revela o inconformismo de quem perdeu o segundo turno das eleições. Associa-se ao golpe de 8 de janeiro, às voltas com a justiça e as punições devidas. Amparam-se em modelos de falta de educação e grosseria, típicos da era Bolsonaro, quando, na falta de razão, cuspiam-se palavrões. 

Quem observou as atitudes de Marcos Valério, confrontando-as à CPMI da Covid, com a sua participação, não pode deixar de recordar como tratava bem os depoentes comprometidos com as falcatruas, em relação ao modo exibido frente a Marina Silva. São dois pesos e duas medidas. O seu lugar, afinal, é na lata de lixo da história?  Atacar a Ministra na forma como a atacou, ninguém, duvida disso, ofende as mulheres como um todo. Que a Comissão de Ética se manifeste desta feita com segurança e sem corporativismo. A nação não gosta de hipocrisia. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.