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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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O luxo, o lixo e o racismo de Val Marchiori

A vitória de Val Marchiori sobre Ludmilla, é um recado da nossa justiça branca e eurocêntrica para os negros deste país

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Racismo agora é liberdade de expressão. Pelo menos, na opinião do juiz que deu ganho de causa a socialite Val Marchiori, diante da ação movida contra ela pela cantora Ludmilla, por ter tido o seu cabelo comparado a um Bombril pela socialite. Segundo a decisão, "em que pese ter sido proferida uma observação de natureza ácida, veiculando opinião em tom de crítica dura, não é possível se extrair dos fatos supracitados qualquer intenção de desqualificar ou ofender a autora em decorrência de sua cor de pele, tampouco de ridicularizá-la ou depreciar a pessoa. O que se vê, em verdade, é que a conduta da apelante se insere no exercício do seu direito de crítica, derivado da liberdade de informação e de expressão”

A sentença é clara. O racismo está liberado! Um brinde com copo de leite e gesto “White Power” com as mãos para celebrar essa grande conquista. A liberdade de expressar-se oprimindo as chamadas minorias, sempre foi e continuará sendo um privilégio branco. A mesma liberdade de expressão que permitiu que os europeus fizessem uma leitura “crítica” negativa e observações de natureza “ácida”, com relação aos povos pretos da África, atribuindo a eles, entre outras coisas, a incivilidade e a desumanização. Assim teve início o processo de epistemicídio da africanidade. O racismo fenotípico é o catecismo do preconceito racial. E Val Marchiori reza de joelhos nessa cartilha.

Malcom X já dizia que os brancos ensinaram os negros a se odiarem, estética e existencialmente. E um dos métodos mais empregados nesse processo, foi a ridicularização dos nossos traços físicos e de nossas características étnicas, que já foram consideradas “animalescas” pelos europeus. Além da cor da pele, o cabelo, o nariz e os lábios, sempre foram os principais alvos dessa sanha patológica eurocentrada. Val Marchiori, num lapso de consciência que parece ser o seu habitual modo de se expressar, apenas reproduziu parte do discurso do colonizador que nunca quis assimilar a diferente beleza de outras raças e culturas. Ser e impor o seu padrão como sinal de supremacia, sempre foi a ideologia da branquitude. Seja de forma consciente ou inconsciente.

Porém, como em toda sociedade colonizada e racializada pelos europeus, a liberdade de expressão e de opressão não se aplica quando fere, de alguma forma, algum instrumento do padrão imposto. A mesma Val Marchiori não entendeu como liberdade de expressão, a declaração de seu ex marido a chamando de “prostituta de luxo”, em alusão ao seu suposto pretérito como garota de programa, e que, segundo ele, foi o meio através do qual ela construiu seu patrimônio. Ela não entendeu tais declarações apenas como observações mais ácidas, e acionou a justiça contra o ex marido e contra os jornalistas que publicaram a carta enviada por ele, exercendo o seu “direito de crítica” contra a socialite.

Todo o luxo que costuma ser ostentado por essa elite obtusa e racista, esconde o esgoto oculto de mentes “subourbonizadas” forjadas pelo sistema colonizador. Um caráter distópico que acredita que ser racista é mais honroso do que ser uma prostituta. Não é não! Vale lembrar, que a socialite é a mesma que ao lado de Bia Dória, esposa do Governador de São Paulo, João Dória, estrelou um vídeo onde ambas pediam à população para que não alimentassem moradores de rua, pois se tratava de pessoas acomodadas e que enxergavam a rua como um atrativo e uma forma de viver sem ter responsabilidade. Isto dito por duas socialites. Um eufemismo usado para denominar mulheres, em sua maioria fúteis e inúteis, cuja existência se resume a gastar a grana de seus maridos ricos ou desfrutar do patrimônio herdado da família.

O racismo recreativo usado por Val Marchiori, ainda é muito comum em nossas relações sociais. Os negros continuam sendo resumidos à cor de sua pele e às suas características étnicas. Isto fortalece o projeto de invisibilização de sua representatividade, ignorando e negando a sua capacidade de produzir cultura, saberes e conhecimento. O que parece uma observação mais ácida, é, na verdade, mais um projétil disparado contra a nossa existência, que visa ratificar a coisificação de nossos corpos e a desumanização que um dia foi atribuída à nossa identidade. É a parte que nos cabe nesse epistemicídio.

A vitória de Val Marchiori sobre Ludmilla, é um recado da nossa justiça branca e eurocêntrica para os negros deste país. O racismo estrutural deve ser preservado. O direito de expropriar fenótipos de povos, cujas identidades não foram assimiladas e reconhecidas pelos europeus, é sagrado e garantido pela jurisprudência colonial que aqui estabeleceu o seu conceito (distorcido) de ética e moldou o comportamento da sociedade. Tamanha distorção, que permite a socialite comemorar em suas redes sociais, o racismo da decisão que lhe foi favorável. O que deveria ser motivo de vergonha, gera orgulho e exaltação da própria estupidez.

Racismo não é liberdade de expressão. É crime!

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