O mal que a naturalização dos absurdos faz ao país

Um twitter do bravo jornalista Xico Sá joga luz sobre uma das principais mazelas do país: “Três anos de governo Bolsonaro e zero mídia de herdeiros (Globo, Folha, Estadão, Zero Hora, etc) pra definir este governo como fascista ou extrema-direita...o q vc acha q irá acontecer se a tal terceira via não vingar como competitiva???”
Para além da constatação correta de que os barões da mídia podem apoiar Bolsonaro novamente, o post me levou a uma reflexão mais ampla sobre o papel central da imprensa na naturalização de absurdos atentados à democracia, a premissas republicanas e à saúde pública.
Nesta terça-feira (25), me chamou atenção como o noticiário da rádio CBN abordava os vetos e a sanção de Bolsonaro ao Orçamento da União aprovado pelo Congresso.
A forma protocolar como foi citada a sanção de Bolsonaro ao famigerado “orçamento secreto”, como se fora uma mera decisão burocrática do Executivo na sua relação com o Legislativo, é mais uma elemento revelador do tipo de oposição para inglês ver, ou até a página dois, feita pelo cartel da mídia ao governo fascista.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEÉ estarrecedor que mesmo o Supremo Tribunal Federal, a quem cabe zelar pela Constituição, tenha tratado com frouxidão e leniência o orçamento secreto parido pelo Congresso Nacional. Essa jabuticaba brasileira em uma só tacada viola os cinco princípios básicos da administração pública, presentes no artigo 37 da Constituição: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Ou seja, em qualquer democracia minimamente consolidada os responsáveis por essa afronta à lei maior do país estariam prestando contas à justiça. Por aqui, 17 bilhões de reais do erário são distribuídos pelos presidentes da Câmara dos Deputados (Lira é o pai do orçamento secreto) e do Senado, sob a rubrica mandrake de “emendas do relator”. Não por acaso os mais aquinhoados são os parlamentares do Centrão.
Nesta toada de normalizar o que não pode ser visto como normal, os principais jornalões publicaram, no fim de 2021, editoriais vociferando contra a decisão da CPI de taxar Bolsonaro de genocida, ainda que tenha ficado sobejamente provado que sua omissão na compra de vacinas, propaganda de medicamentos sem eficácia e incentivo diuturno ao descumprimento de medidas básicas de proteção, como uso de máscara e distanciamento social, tenham contribuído fortemente para centenas de milhares de mortes.
A rigor Bolsonaro sequer merecia ser tratado pela mídia como presidente da República, pois ele personifica como nenhum outro mandatário na história do país uma ofensa permanente à dignidade da instituição Presidência da República. Para provar o viés ideológico dessa reverência prestada a Bolsonaro, basta lembrar que o líder venezuelano Nicolas Maduro só é chamado pela imprensa como “o ditador Maduro.”
Outra coisa: alguém em sã consciência pode levar a sério o médico Marcelo Queiroga como principal responsável pelas políticas de saúde ? No lugar dos holofotes ofertados a Queiroga para que ele dissemine insanidades contrárias à ciência e à vida, não seria a hora de os meios de comunicação darem voz e vez para os que defendem a cassação do diploma de Queiroga?
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