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Hildegard Angel

Jornalista, ex-atriz, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do militante político Stuart Angel Jones

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O medo que os militares tinham de Brizola

"Não precisei estudar a recente história para achar que Leonel Brizola foi o político que "mais assustou" a elite. Mais até do que Lula", diz Hildegard Angel

Leonel Brizola
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Por Hildegard Angel, do Jornalistas pela Democracia

Hoje, o Centenário de Leonel de Moura Brizola não saiu na Globo, mas as redes sociais se transformaram num emaranhado de fotos, artigos, elogios, louvações, fogos de artifício, depoimentos, histórias, tudo dedicado aos 100 anos de nascimento de Leonel Brizola, que, a cada ano, mês, minutos, se torna maior, ao olhar da História.

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Não precisei estudar a recente história brasileira para achar, como concluiu o historiador Thomas Skidmore após pesquisar, que Leonel Brizola foi o político que "mais assustou" a elite. Mais até do que Lula.

Eu vi, eu acompanhei, eu mesma fui inoculada com o vírus do medo de Leonel Brizola, e só fui votar nele para governador do Rio de Janeiro da segunda vez, totalmente abduzida pelo seu carisma, a devoção aos pequenos, a coragem sempre demonstrada e as boas companhias, como Darcy Ribeiro, Oscar Niemeyer, Nilo Batista e outros que já admirava.

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O temor a Brizola não foi construído pela mídia, como foi o temor a Lula. Foi construído pelos seus atos e por seu temperamento. Brizola não era manso, muito menos conciliador. Era agitador, desafiador, destemperado. Foi o único que peitou e conseguiu evitar um golpe no Brasil, já prontinho, bem cozido no forno das conspirações dos militares, para ser servido ao povo.

Como governador do Rio Grande do Sul, Brizola conseguiu fazer o assado desandar e garantir a posse do cunhado, João Goulart, na Presidência, com a formação de sua genial "Cadeia da Legalidade". Assim como tem Lula, o gaúcho Leonel tinha um dom invulgar para a oratória. Discursava com raiva esfuziante, era um talento histriônico, magnético no palanque, no rádio e na TV.

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Falava como bandeira desfraldada, espada desembainhada, e cunhava imagens extraordinárias. Brizola estava pronto, não estava crescendo nem aprendendo. Era engenheiro, era culto, era ameaçador. Foi ele quem os militares mais temeram.

Era o governo de Figueiredo. Cobri o governo para minhas páginas do Globo. Ia às festas em Brasília, às reuniões sociais, acompanhei viagens, vi e ouvi muita coisa. Muita mesmo. Ninguém me contou.

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Eu estava hóspede em Brasília na casa dos amigos Rai e Said Farhat, o ministro da Comunicação Social. Era um domingo, e a vizinha da casa ao lado, na QL 12, quadra onde residiam os ministros de estado, Liliane Andreazza, esposa do Ministro dos Transportes, telefonou, convidando o casal para um  churrasco. Rai informou, "estamos com hóspedes em casa, a Hilde". E Liliane, atenciosa como sempre, estendeu o convite.

Era uma reunião de amigos, informal, com ministros militares e civis, assessores. Um recorte expressivo da Corte conversava abertamente. Ali pude atestar ao vivo e a cores a enorme preocupação dos homens da ditadura com Brizola. Isso já era sabido, mas fui testemunha ocular e auditiva, senti o pulso das palpitações que despertava o receio, naqueles homens e em suas mulheres, de um possível retorno de Leonel Brizola ao Brasil e à política brasileira.

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Naqueles anos, quase não se falava em PT, muito menos em Lula. A volta de Brizola foi o maior argumento para emperrar a porta da abertura. Foi o pivô que justificou as lutas intestinas do poder. Foi o medo de Brizola que alimentou o cabo de guerra no Governo Figueiredo. Por um lado, fazia força a linha dura, com o general Otávio Medeiros e um grupo de militares de óculos com lentes pretas. Sem aparecer, do alto de seu pedestal de eminência parda, o general Golbery puxava para esse lado (sim, posso dizer isso).

 

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Na linha pró-abertura, Figueiredo puxava a corda, tendo o incentivo de alguns militares, sendo o único civil o ministro da Comunicação Social, Said Farhat, que devido a isso mesmo acabou defenestrado por pressão de Golbery – assim Farhat pensava.

Foi o medo de Brizola que adiou a volta dos exilados, foi o medo que a repressão tinha de Brizola que inspirou uma anistia que também os anistiava, foi o medo de Brizola e tudo o que ele representava que quase espichou a ditadura por mais um ou dois mandatos. Foi o medo de Brizola que soltou bombas na OAB, no Riocentro e incendiou a Tribuna da Imprensa. Os que faziam “o circo pegar fogo” eram os que não queriam largar o osso do poder. A eles servia incentivar o medo de Brizola.

O Inimigo Nº 1 da Ditadura era Brizola, não era Lamarca ou Marighela ou Jango ou JK ou Rubem ou Herzog ou Sônia ou Yara ou Gabeira ou Astrogildo ou Chael ou Pomar ou Fiel ou Santa Cruz ou Palhano ou Marilene ou Stuart ou Zuzu. Esses incômodos já haviam sido eliminados.   

Não contavam, porém, com o temperamento de Figueiredo, que não era de voltar atrás à palavra dada, sobretudo após declarar na posse “juro que farei desse país uma Democracia” (discurso redigido por Farhat), e depois dizer que caso criassem dificuldades “eu prendo e arrebento”.

 A ala das bombas era a dos ‘óculos pretos’, que, no auge da insatisfação com a liberalidade de Farhat com a mídia (que desancava o governo), enviou de presente para sua esposa não uma caixa de bombons, mas um livro, recheado com uma bomba.

Voltando ao governador Brizola, por mais maravilhas que realizasse para o Rio de Janeiro, mais a imprensa o desprezava. Fez os Cieps, inventaram que eram “elefantes brancos”. Depois os tucanos os copiaram em São Paulo, e depois a TV Globo instalou, no primeiro Ciep (despejado), o seu “Criança Esperança”. Fez a Linha Vermelha. O Sambódromo (inicialmente, com falhas, em seguida corrigido). Fez uma política de Segurança Pública que exigia para os moradores dos morros e favelas o mesmo respeito e a mesma norma cumprida nos condomínios e prédios da Zona Sul: o mandado de busca.

Isso, principalmente isso, revoltou a polícia, quase toda anti-Brizola. Não poder meter o pé na porta de um barraco. Não poder fazer zunirem balas sobre as cabeças dos moradores. Não poder terceirizar os assaltos aos menininhos pobres, os pivetes, que depois entregavam aos policiais a ‘parte do leão’, a ‘féria’ dos roubos.

O Rio de Janeiro de Brizola também era insuportável para aqueles com pensamento curto, que julgavam poder manter seus privilégios ad eternum, que a violência continuaria a passar longe de seu cercadinho e as balas perdidas jamais encontrariam o caminho da Zona Sul.

Encontraram, estão aí, zunindo sobre nossas cabeças.

Brizola, que falta faz você!

#Lula2022

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