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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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O meu pesadelo militarista

Durante quatro anos da minha vida, tive o desprazer de viver in loco a síntese mais que perfeita entre quatro das principais instituições responsáveis pela edificação da sociedade disciplinadora moderna estudada brilhantemente por Michel Foucault

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Para os dissidentes da ETAM.

Sou imensamente grato à Marinha do Brasil pelo fato de me ter tornado um professor de História, um professor de História marxista, meio pós-moderno, mas ainda marxista.

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Isso porque foi exatamente no interior de uma instituição de ensino militar localizada na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, que, entre os anos de 1982 e 1985, me dei conta do desapreço nutrido pelos militares em relação às liberdades democráticas.

Durante quatro anos da minha vida, tive o desprazer de viver in loco a síntese mais que perfeita entre quatro das principais instituições responsáveis pela edificação da sociedade disciplinadora moderna estudada brilhantemente por Michel Foucault.

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Isso, porque realizei meus estudos do então Segundo Grau numa “escola” situada dentro de um “quartel”, que era ao mesmo tempo uma “fábrica” e uma “prisão” – uma prisão, não nos esqueçamos nunca disso, onde foram barbaramente torturados muitos prisioneiros políticos durante o regime ditatorial de 1964.

Foi nesse espaço profundamente coercitivo que, em 1982, brizolista convicto que já era com apenas 15 anos de idade, fui obrigado por um bizarro sargento a retirar a camisa que usava por baixo do uniforme com os dizeres “Brizola Governador”.

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Também foi nesse espaço que, em 1983, quando do lançamento do Navio Escola Brasil (navio este onde sofri um acidente de trabalho que por muito pouco não tira a minha vida), vi de perto o presidente general que apreciava mais o cheiro dos cavalos do que o cheiro do povo, com o grito de “abaixo a ditadura!” preso na garganta.

Foi igualmente ali que, em 10 de abril de 1984, compareci meio que escondido ao Comício das Diretas, na Praça da Candelária, depois de receber o comunicado de que as aulas naquele dia seriam suspensas por problemas de ordem maior.

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Por fim, foi ali que, no ano de 1985, assisti à primeira greve operária da história do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, uma história que remonta à passagem do século XVIII ao século XIX.

Então, pude ver com meus olhos juvenis a violência empregada pelos fuzileiros navais contra os trabalhadores e sindicalistas da recém-fundada Central Única dos Trabalhadores, que se manifestavam encapuzados na Praça XV, nas proximidades da Estação das Barcas que fazem a travessia marítima do Rio para Niterói.

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Esse microscópico relato baseado naquilo que os historiadores franceses chamam de “ego-história” não é evidentemente desprovido de propósito, pois que o retorno dos militares e do militarismo ao campo da política sob o governo de JM Bolsonaro assinala a emersão do temor de que aquilo que, para mim, representou um pesadelo distante, vivido na passagem da adolescência para a juventude, pode vir a ser revivido de maneira mais brutal e trágica por esse já maduro professor de história marxista pós-moderno, defensor incansável da democracia e dos direitos humanos.

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