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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O mico Eduardo Cunha

"Toda gangue tem um operador maldito, que faz o jogo mais sujo, é indispensável, mas ao mesmo tempo um tipo explosivo, que pode colocar tudo a perder", diz o colunista Emir Sader, referindo-se ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), peça fundamental no golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff; "Editoriais hipócritas falam em tirá-lo depois da votação no Congresso. Outro diz que ele não poderia assumir a presidência do Brasil, Vergonha agora do aliado incômodo, depois que ele ja fez o trabalho sujo, sem o qual o projeto não seria possível"; segundo ele, "terminar o jogo com esse mico na mão pode colocar a perder toda a operação, enquanto Eduardo Cunha segue operando, sabendo muito bem os trunfos que tem"

Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante sessão plenária em Brasília. 24/11/2015 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Emir Sader)
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Toda gangue tem um operador maldito, que faz o jogo mais sujo, é indispensável, mas ao mesmo tempo um tipo explosivo, que pode colocar tudo a perder. Fujimori tinha Vlademiro Montesinos – preso hoje junto com ele -, a gangue do Collor tinha o Paulo Cesar Farias. A que pretende assaltar o Estado brasileiro tem o Eduardo Cunha.

Ele é útil até um certo momento, quando é necessário fazer jogos sujos de maneira mais pesada. Depois, se torna um estorvo.

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Isso passa com Eduardo Cunha. Nem o um tipo como o Paulinho da Força, sem nenhum caráter, que afirma que ele é a pessoa mais honesta que ele conhece, desconhece que se trata do politico mais corrupto do Brasil. Ele é o operador mais sujo da gangue, indispensável para angariar fundos e apoios, para chantagear, corromper, ameaçar, obter maiorias no Congresso, financiar campanhas e constituir sua bancada de bandidos e se valer dela como instrumento de força para negociar, vender apoios, se tornar indispensável.

Foi assim, desde a campanha eleitoral em que, valendo-se da oposição frontal ao governo praticamente da totalidade dos grandes empresários, arrecadou recursos e elegeu uma bancada à sua feição. E articulou sua candidatura à presidência da Câmara, com todo o profissionalismo de um gangster, usando aviões, fazendo promessas, comprando apoios, constituindo lobbies.  

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Fez da Câmara seu território, em que manda e desmanda a seu bel prazer, convocando sessões e desconvocando, nomeando e destituindo, provocando. E associando toda sua acao a posições extremamente conservadoras, ligadas aos evangélicos fundamentalistas, à bancada da bala, à do agronegócios – em suma, a tudo o que ha de pior no Congresso, na politica e na sociedade brasileira.

Tornou-se o bandido preferido da elite brasileira, aquele que faz o que ela precisa, sem que ela suje diretamente suas mãos. Às vezes, hipocritamente, alguns editorias se queixam da incomodidade de ter alguém como ele do seu lado. Mas sabem que devem muito a ele, que sem ele seu projeto não existiria.

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Graças a ele conseguiram os 2/3 na Câmara, num dos dias mais vergonhosos da história politica do Brasil, mas a que seus aliados fecharam os olhos, da mesma forma que fizeram sobre o tipo de gente que se manifestava e o que diziam nas ruas. Tudo é coerente: aquela maioria e o tipo de ódio manifestado por setores da classe media, expressos no tipo de pessoa que é Eduardo Cunha. Nenhum desses lados do golpe pode existir sem o outro.

E agora, o que fazer com o Eduardo Cunha? Ele cabe nos corredores da Câmara, mas pega mal no Palacio do Planalto, mais ainda se tivesse que assumir a presidencia da republica. Seria a imagem mais expressiva do caráter gangsteril do golpe em curso, que livra o bandido das garras da lei, e ainda o promove ao posto politico mais alto do pais. Uma bela recompensa, mas que não deveria ser vista por todo o pais e pelo mundo. Os excessos revelam a essência de um fenômeno, dizia Brecht. Nesse caso, Eduardo Cunha presidente do Brasil seria a exibição da natureza mesma do golpe e da gangue que o promove.

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Editoriais hipócritas falam em tirá-lo depois da votação no Congresso. Outro diz que ele não poderia assumir a presidência do Brasil, Vergonha agora do aliado incômodo, depois que ele ja fez o trabalho sujo, sem o qual o projeto não seria possível. Fala-se em tira-lo da presidência da Câmara e preservar seu mandato. Mas o bandido agora se sente mais forte, não vai entregar seu cargo, que lhe da as condições de força para negociar e chantagear, porque sabe que sem esses instrumentos, o passo seguinte pode ser algum dos tantos processos – apesar de que ele ja se precaveu e ganhou a simpatia do STF, com o aumento exorbitante dos salários, que a Dilma tinha vetado.

De qualquer maneira, ele se tornou um tipo incomodo, um verdadeiro mico. Ficar com ele é ruim, incomodo, tira-lo é uma operação de muito risco, por tudo o que ele sabe, por tudo o que pode revelar, arrastando o próprio projeto pro ralo. Eduardo Cunha se baseia no papel jogado por Roberto Jefferson, conhece o poder dos bandidos e estaria disposto a arrastas a todos com ele e implodir o projeto golpista.

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Terminar o jogo com esse mico na mão pode colocar a  perder toda a operação. Dai que ninguém na gangue sabe o que fazer, enquanto Eduardo Cunha segue operando, sabendo muito bem os trunfos que tem. Não faltasse os planos de assalto ao Estado como um botim para ser ser pilhado, bastaria esse personagem para definir a esse grupo como uma gangue.

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