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Edmar Antonio de Oliveira

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O milagre econômico de Ruanda 25 anos depois do genocídio

É possível dizer que essa estranha, mas não incomum, mistura de autoritarismo e desenvolvimento econômico deve perdurar ainda por um tempo no país africano

Paul Kagame (Foto: REUTERS/Ruben Sprich)
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Décadas de instabilidade étnica fomentada artificialmente desde os terríveis anos da colonização, quando os belgas decidiram que os membros da tribo Tutsi deveriam ser a casta governante em Ruanda, deixando os membros da tribo Hutu como subordinados. Em 1994, as tensões chegaram ao seu ápice, quando extremistas hutus promoveram um massacre contra tutsis e hutus moderados, ceifando 800 mil vítimas, mortas em grande parte a golpes de facão, enquanto a comunidade internacional fazia vistas grossas. O genocídio só foi interrompido quando o general Tutsi Paul Kagame entrou no país com a Frente Patriótica Ruandesa (conhecida localmente como RFP),  partindo de Uganda e tomando o poder, encerrando a matança.

Uma vez no controle da nação devastada, o general Kagame e a RFP, agora um partido político de centro, realizaram uma série de reformas econômicas e sociais que tornaram Ruanda um país em franco desenvolvimento e que caminha para ser uma potência regional, com resultados econômicos surpreendentes, apresentado taxas de crescimento em média de 7% desde os anos 2000 e retirando mais de 1 milhão de pessoas da extrema pobreza. 

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O sucesso ruandês se baseia em três pilares: a reconciliação nacional, medidas de redução da pobreza e ação ativa do Estado para o desenvolvimento econômico nacional.  Em primeiro lugar, o governo priorizou a estabilidade nacional, a fim de impedir novos conflitos. Adquirida a estabilidade, o próximo passo foi utilizar os recursos do país oriundos da agropecuária para obras de modernização logística, produção e distribuição de energia elétrica e descentralização do poder, atribuindo a cada localidade a incumbência de apresentar estratégias para seu desenvolvimento regional. Além disso, foram implementadas diversas técnicas de melhoria na produção rural, com novas técnicas e equipamentos adquiridos junto ao apoio das Nações Unidas para reconstrução do país. Este processo foi crucial para a criação de um pujante setor de turismo, que se estabelece como principal fonte de renda, atraindo investimentos internacionais, principalmente chineses. Outro ponto crucial foi a descoberta e exploração de reservas minerais de cobre, minério de ferro e ouro.

A partir da estabilidade social, construção de infraestrutura e entrada de recursos, a economia ruandesa começou a se aquecer, levando ao surgimento de diversas empresas locais, que estão em franca ascensão. Embora a agricultura ainda comporte 80% da população nacional, este número tem caído ano após ano ao mesmo tempo em que as condições de trabalho rural seguem melhorando. Ruanda também investe em educação, para que o crescimento econômico seja suprido com mão de obra qualificada, e busca construir um estado de bem estar social, com políticas de saúde pública e previdência acessíveis a toda a população.  

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Todo este desenvolvimento se dá sobre a mão de ferro do hoje presidente Kagame, que se encontra no poder desde o fim dos conflitos entre tutsis e hutus. Os organismos internacionais frequentemente denunciam Ruanda como uma “democracia imperfeita”, onde a oposição real ao governo não é tolerada e a população não tem acesso a direitos políticos e sociais básicos, como liberdade de expressão e de associação. A população, no entanto, parece enxergar esta restrição de liberdades como um preço para a paz e a estabilidade, principalmente porque os trágicos eventos de 1994 ainda estão na pele e na memória da maioria dos ruandeses. O próprio Kagame parece sinceramente acreditar nesta tese e é visto como um herói nacional não apenas em Ruanda, mas pelos países vizinhos. 

Diante deste cenário, é possível dizer que essa estranha, mas não incomum, mistura de autoritarismo e desenvolvimento econômico deve perdurar ainda por um tempo no país africano, pelo menos até que as novas gerações se sintam mais seguras em buscar uma maior abertura também na área dos direitos civis.

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