O "misticismo" de Trump está quebrado? O MAGA sente a traição?
A nuvem Epstein está se metastatizando e se tornando um ponto de união para um profundo sentimento de alienação popular
Publicado originalmente por Strategic Culture em 29 de julho de 2025
A nuvem Epstein está se metastatizando e se tornando um ponto de união para um profundo sentimento de alienação popular em relação a certas elites dominantes. O público, embora relutantemente, já se resignou a aceitar que seus "governantes" mentem e roubam rotineiramente. No entanto, muitos (especialmente dentro da facção MAGA) começaram a perceber, ainda que vagamente, que pode haver vícios dentro da esfera pública que consideram demasiado repugnantes para imaginar. As pessoas estão percebendo que Trump esteve, de uma forma ou de outra (mesmo que como espectador), ligado a toda essa cultura degradada.
Isso não passará facilmente – ou talvez nem passe. Trump foi eleito para drenar todas essas teias emaranhadas de oligarquias interligadas, estruturas de poder e serviços de inteligência que agem em prol de interesses ocultos. Era isso que ele prometia: “America First” [Os EUA e primeiro lugar].
Distrair o público do caso Epstein provavelmente não funcionará. A exploração, o abuso e a destruição da vida de incontáveis crianças em busca de poder, riqueza e devassidão diabólica atingem o cerne mais profundo da moralidade. Não se pode desviar a atenção disso apontando para outras jogadas de poder e vilania monetária das elites. O abuso (e pior) infligido a crianças está em uma categoria infernal à parte.
Trump pode dizer que não fez nada ilegal. Mas o ponto é que agora ele está manchado – e gravemente. Como consequência, ele pode estar entrando no território de um presidente lame-duck [pato manco], a menos que ocorra algum deus ex-machina capaz de desviar a atenção pública.
Para deixar claro: é característico de Trump resistir ferozmente a se tornar um presidente lame-duck. E aqui reside o perigo geopolítico. Trump precisa de distrações e de "vitórias" nos noticiários.
No entanto, ele está em um momento de fraqueza, no qual o Estado de Segurança e seus aliados no Congresso estão assumindo mais controle. Da mesma forma, muitos no eixo que liga políticos e funcionários dos EUA, Reino Unido e Israel a negócios obscuros e laços de inteligência estarão extremamente adversos à exposição. Indivíduos, incluindo Ghislaine Maxwell, presa, podem se tornar perigosos, como um homem que se afoga e, em pânico, agarra a pessoa mais próxima, afogando a ambos.
A equipe de política externa míope de Trump encurralou as iniciativas do presidente em uma gaiola, cujas grades têm nomes como "arrogância e hubris".
Sobre a Ucrânia, Trump deu a Moscou efetivamente 50 dias para capitular ao ultimato de cessar-fogo de Kellogg ou enfrentar consequências.
Enquanto sanções de terceiros a 100% – afetando principalmente as importações de energia da China e da Índia da Rússia – foram totalmente rejeitadas pela China (e provavelmente também pela Índia), Trump estará sob pressão dos seus falcões no Congresso para fazer algo que cause dor à Rússia.
O problema é que o cofre de guerra está vazio. Nem os EUA nem a Europa possuem um estoque relevante de armas para a guerra. Mesmo que pagassem e encomendassem mísseis ou outras armas agora, levaria meses até a entrega.
Trump, porém, precisa de vitórias/distrações rápidas.
Sem um estoque significativo, Trump só pode escalar efetivamente usando mísseis de longo alcance contra Moscou ou São Petersburgo. Mísseis Tomahawk com alcance de 2.000 km estão no inventário dos EUA (e foram discutidos pela equipe de Trump, conforme relatado por David Ignatius.
E se esses mísseis Tomahawk antigos forem facilmente interceptados pelas forças russas? Bem, então há um vazio. Um vazio sério. Porque não há nada entre o fornecimento de armas simbólicas (alguns mísseis Patriot) e os armamentos nucleares táticos pré-posicionados dos EUA, que poderiam ser lançados por caças estacionados no Reino Unido.
Nesse ponto, Trump estaria acelerando em direção a uma Grande Guerra com a Rússia.
Há um plano B? Bem... sim. É bombardear o Irã novamente, como alternativa a uma escalada contra a Rússia.
Os iranianos acreditam que outro ataque ao Irã é provável, e Trump já disse que pode fazer exatamente isso. Portanto, o Irã está se preparando totalmente para essa eventualidade.
É bem possível que Trump tenha sido informado de que as consequências de grandes ataques ao Irã seriam a desmilitarização efetiva de Israel por mísseis – causando impactos profundos na política dos EUA e na região.
Também é possível que Trump ignore esse briefing, preferindo ver Israel como "tão bom" (como exclamou durante o ataque furtivo israelense em 13 de junho).
E no Oriente Médio agora? Parece que Netanyahu está puxando as cordas de Trump. Gaza já é um escândalo – um escândalo de crimes de guerra, com todas as perspectivas de piorar.
Max Blumenthal relata que "quando Tucker Carlson alegou que Epstein tinha ligações com a inteligência israelense [e que isso explicava] por que Trump está encobrindo [o Caso Epstein], os israelenses aparentemente entraram em pânico. Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro israelense, foi convocado para declarar que lidava, todos os dias, com o Mossad e que Jeffrey Epstein não trabalhava para o Mossad nem era um agente israelense. Ele então ameaçou Carlson, dizendo: 'Não vamos tolerar isso'. O ministro israelense para Assuntos da Diáspora também denunciou Tucker Carlson. É como se a relação entre o movimento conservador dos EUA e Israel estivesse se rompendo por causa de Epstein", sugere Blumenthal.
Netanyahu talvez pressinta problemas para Israel nos EUA, à medida que jovens estadunidenses e seguidores do MAGA se voltam contra Trump por ter traído o America First; por "co-proprietariedade" do massacre em Gaza; da guerra civil sectária na Síria liderada por Israel e EUA; do bombardeio ao Irã; e da destruição do Líbano.
As pesquisas sugerem que 81% dos estadunidenses querem que todos os documentos relacionados a Epstein sejam divulgados. Dois terços – incluindo 84% dos democratas e 53% dos republicanos – pensam que o governo está encobrindo evidências sobre a sua "lista de clientes" e a sua morte. A taxa de desaprovação de Trump está em 53% atualmente.
Netanyahu está (talvez como consequência) em uma campanha apressada para impor o "Grande Israel". "Impor", porque os Acordos de Abraham originalmente eram, supostamente, um acordo para normalizar relações com Israel. Hoje, sob ameaça militar, os Estados árabes estão sendo forçados a aceitar os termos israelenses – e a subjugação a Israel.
Isso representa uma distorção da antiga noção israelense de uma aliança de minorias. Hoje, as "minorias" (às vezes maiorias fragmentadas) estão sendo deliberadamente colocadas umas contra as outras. EUA e Israel reintroduziram o ISIS 2.0 no Oriente Médio. Os assassinatos de alauítas, cristãos e xiitas na Síria são a consequência direta.
A perspectiva é de um Oriente Médio devastado, com apenas as monarquias do Golfo servindo como ilhas obedientes em meio a uma paisagem mais ampla de guerra fratricida, assassinatos étnicos e Estados balcanizados.
O novo Oriente Médio...?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




