O mito do analfabetismo de Lula
O que podemos perceber, é que o mito criado em torno do analfabetismo de Lula, se dá muito mais pelo preconceito que a nossa sociedade tradicional e elitista, tem contra aqueles que não são oriundos de sua casta e que foram alçados a um patamar, antes destinado apenas aos da sua linhagem
Inicio esse artigo fazendo um questionamento e propondo uma reflexão. Lula é mesmo um analfabeto? Justifique a sua resposta. Antes, porém, leia a definição de analfabeto, segundo o dicionário Michaelis:
1 - Que ou aquele que não conhece o alfabeto; que ou aquele que não sabe ler, nem escrever; iletrado, não letrado.
2 - Que ou aquele que não tem instrução primária.
3 - Que ou aquele que tem dificuldade de raciocinar; que ou aquele que é muito ignorante, bronco.
4 - Que ou aquele que conhece de forma rudimentar ou desconhece determinado assunto.
Isto posto, convido a todos a refletir, não apenas sobre a definição do dicionário, mas também sobre a possibilidade de associarmos Lula, à mesma definição.
Acredito que Lula conheça o alfabeto e tenho certeza de que ele sabe ler e escrever. Não ser letrado, no sentido de possuir grande erudição ou formação acadêmica, não faz de ninguém um analfabeto. Ao que consta, instrução primária ele também possui, o que já seria suficiente para o tirar de tão ingrata lista. Mas eu sei que os haters do ex presidente não ficarão satisfeitos apenas com esses argumentos que acabei de apresentar. Não tem problema! Se eu odiasse Lula, tal como eles, eu também não ficaria. Mas tudo é um pouco mais.
O dicionário diz ainda que analfabeto é aquele que tem dificuldade de raciocinar - o que, de pronto, já tira Lula de jogada - e que é ignorante e bronco, o que já incluiria Jair Bolsonaro na lista, se ele não fosse formado em Educação Física, uma área de graduação, que apesar de fazer parte das ciências biológicas, não justifica o fato de ele não entender nada de economia. Lula não é formado em academia, mas entende como poucos do assunto. Isso já exclui a possibilidade do seu conhecimento ser rudimentar sobre a função a qual ele já exerceu por duas vezes, e exercerá pela terceira vez. A de presidente da república.
Os haters ainda dirão que é pouco e que Lula é, sim, um analfabeto funcional. A UNESCO discordaria de tal afirmação. Segundo a entidade, "uma pessoa funcionalmente analfabeta é aquela que não pode participar de todas as atividades nas quais a alfabetização é requerida para uma atuação eficaz em seu grupo e comunidade, e que lhe permitem, também, continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo a serviço do seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento de sua comunidade. Entende-se por analfabetismo funcional a incapacidade que algumas pessoas têm de entender (compreender) o texto que acabaram de ler, ou seja, quando, mesmo que as pessoas saibam ler e escrever, apresentam incapacidade para interpretar o texto que lhes foi dado para ser interpretado. Este tipo de analfabetismo é bastante comum."
Os odiadores de Lula nem perceberão, mas muitos deles se encaixariam nessa definição de analfabetismo funcional. Principalmente aqueles, que por não conseguirem interpretar esse texto - seja por deficiência cognitiva ou por má vontade mesmo (o que é mais provável) - irão me chamar de petralha, mortadela, defensor do Lula e até de analfabeto. Haverá também quem diga que estou ganhando um troco para falar bem dele. Isso também é bastante comum. No entanto, o que podemos perceber, é que o mito criado em torno do analfabetismo de Lula, se dá muito mais pelo preconceito que a nossa sociedade tradicional e elitista, tem contra aqueles que não são oriundos de sua casta e que foram alçados a um patamar, antes destinado apenas aos da sua linhagem. Tal preconceito produzido, é disseminado em larga escala e acaba sendo consumido de forma cultural e acaba se naturalizando até mesmo nas relações entre membros de classes sociais menos favorecidas.
A história do simples operário, que saiu do sertão de Garanhuns e chegou ao palácio do planalto, nunca foi bem digerida pelos herdeiros das capitanias e qualquer erro cometido por esse "quebrador de paradigmas", será elevado a trigésima potência, impondo a ele um banditismo, que essa mesma parte da sociedade costuma acobertar e até mesmo defender, nos bem nascidos filhos de suas entranhas. Mas a escrotice de uma parte da nossa sociedade - e que não é um comportamento apenas da elite - é julgar analfabeto qualquer pessoa, cujo grau de instrução seja inferior ao seu. Principalmente se essa pessoa se destaca, "incomodando" e "afrontando" com sua ideologia, carisma e capacidade de convencimento, aqueles que se julgam superiores a ela, apenas por terem um pouco mais de estudo. Reflita. Você, que chama Lula de analfabeto, teria condições de assumir a presidência da república, de levar o país a posição de sétima potência econômica mundial, de diminuir consideravelmente o índice de pobreza no país, de criar projetos de inclusão que promovam ou pelo menos tente promover a igualdade social e, principalmente, de resistir a uma caçada implacável, justamente por ter governado olhando um pouco para os mais pobres?
Não! Lula não é um analfabeto e será, pela terceira vez, o presidente do Brasil. Queira ou não queira os eruditos ou os pseudos integrantes da classe. A possível parceria com o senador Roberto Requião como vice na sua chapa, é um componente que potencializa ainda mais as suas chances de vitória. Requião, que mesmo sendo do PMDB, é um crítico feroz do governo Temer e de seus aliados e não se deixou seduzir pelos jantares e pelos favorecimentos oferecidos pelo atual presidente, na intenção de obter apoio em suas reformas que visam destruir de vez com a vida do povo brasileiro.
O analfabetismo de Lula é um mito. Assim como também o é, a existência política do seu principal oponente na disputa ao planalto em 2018. Em sete mandatos como deputado federal, Jair Bolsonaro não aprovou um único projeto e também não apresentou nenhum que pudesse ser levado em consideração. Ou seja, ainda não saiu do primário na política. Estaríamos diante de um caso de analfabetismo parlamentar?
É por essas e por outras, que podemos dizer que a vitória de Lula - pela terceira vez - poderá matar dois mitos numa cajadada só.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

