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Jean Goldenbaum

Músico, professor da Universidade de Música de Hanôver, Alemanha. É membro fundador do ‘Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil’ e fundador do coletivo ‘Judias e judeus com Lula’

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O mundo está compreendendo? Em 3.11 uma catastrófica Nova Ordem Mundial pode se iniciar

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Carxs leitorxs, no artigo de hoje gostaria de dizer a vocês que estou preocupado com a pouca importância que o mundo tem concedido ao evento que ocorrerá em 3 de novembro de 2020: as eleições presidenciais dos EUA. Talvez muita gente não tenha percebido ou realizado que estamos diante de um momento único, ímpar na história da humanidade. Por isso dedico este texto a discorrer a respeito dele, explicando o porquê de minha imensurável inquietação.

Vejam, desde o Nazismo que resultou no Holocausto e na Segunda Guerra Mundial, a humanidade não era confrontada por uma ameaça tão perigosa como a dos dias de hoje. O Neonazifascismo – este é o termo que considero mais adequado – começou a se alastrar pelo planeta no século XXI e em duas décadas dominou considerável parte dele. Certamente os dois países que encabeçam este movimento são os EUA e o Brasil, mas há outras nações menores também comandadas pela extrema-direita, ainda que não tão relevantes no cenário geopolítico como estes dois gigantes. Entre brasileiros e estadunidenses estamos lidando com uma população combinada de mais de meio bilhão de pessoas vivendo em potências econômicas e, com os “ajustes certos”, militares.

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Quando em 2016 Trump apresentou ao mundo o até então desconhecido poderio da indústria das fake news, apostando em racismo, xenofobia, sexismo, anticiência (ou seja, a cartilha completa do Neonazifascismo), muita gente não sabia o quão horrenda e ameaçadora seria sua presidência. Em seu primeiro mandato vimos claramente os três pilares do mundo humanista, Democracia, Direitos Humanos e Justiça Social, se enfraquecerem como nunca antes no país. Em quatro anos Trump mostrou ao mundo tudo o que ele realmente é: o líder deste movimento internacional, o porta-voz da legitimação do ódio, o patriarca da demolição do tripé que acima mencionei.

Sob a batuta de Trump um aumento sem precedentes de crimes de ódio foram registrados no país, principalmente contra negros, mas também contra judeus (sim, o antissemitismo disparou na Era Trump, apesar do absurdo discurso de que hoje em dia a ultra-direita é “amiga” dos judeus). Imigrantes foram literalmente presos em jaulas, com o claro intuito de serem humilhados. Crianças foram separadas de seus pais. Foi uma violação de Direitos Humanos atrás da outra. E para quem tem dúvidas, todos os dados estão disponíveis na internet. Muitos deles, inclusive, estão citados em meus próprios artigos anteriores aqui no Brasil247.

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Ah, mas a economia vai bem! Não, não vai. A economia nos EUA de Trump só cresceu para a minoria mais poderosa. O pobre ficou ainda mais pobre, continua sem plano de saúde e sendo devorado pelo selvagem capitalismo criado para poucos terem muito e muitos terem pouco. Isso sem contar a postura indecente do presidente com relação à pandemia! Não é à toa que os países que lideram o mórbido ranking de falecimentos por COVID-19 são EUA e Brasil.

Pois bem, não vale mais a pena perder tempo elencando todos os crimes de Trump, afinal eles são indiscutíveis e inegáveis. São fatos documentados na história da humanidade. Irei direito ao ponto principal deste artigo: se Trump vencer novamente, ele terá muito mais poder (uma vez que pairará sobre um trabalho de destruição de quatro anos) e muito menos escrúpulos (afinal se sentirá muito mais seguro, protegido e impunível). Pela primeira vez na história teremos o líder mundial da Extrema-direita no comando do país mais poderoso do planeta. E isto configurará uma Nova Ordem Mundial.

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Quando Hitler assumiu a Alemanha e começou a conquistar a Europa, por mais poder que fosse, não tinha um poder mundial. Trump terá. A China, a Rússia, a União Europeia podem controlar esse poder? Pouco. E nada disso é simples. Por acaso alguém pode colocar a mão no fogo por Putin? Alguém se sente confortável em afirmar exatamente de que lado um homem daqueles está? E a União Europeia, comandada pela Alemanha que, na verdade, possui muito poder econômico mas pouquíssimo em termos de ação sobre o planeta? Vai fazer o que? E a China, o que podemos esperar de um regime que também não é democrático e comprometido com os Direitos Humanos?

Os EUA são a maior potência do Ocidente e sua influência em termos econômicos e ideológicos ainda é quase infinita. Em minha opinião não haveria Bolsonaro sem Trump. Não haveria Brexit sem Trump. E não haveria tanto poder e confiança para Netanyahu, Orbán, Salvini, Le Pen e cia. sem Trump. E relembro o caro leitor e a cara leitora daquilo que escrevi em um artigo anterior, há algumas semanas: os neonazistas alemães hoje em dia desfilam com a bandeira dos EUA, indicando que Trump é seu líder. O Neonazifascismo é internacional, unificado, organizado, globalizado. E o novo Führer é um clown, mas ainda assim é o Führer.

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E não só isso. Vejam: Trump não tem números para vencer. Mesmo levando-se em conta o estúpido processo eleitoral estadunidense de colégios eleitorais, todas as previsões indicam que ele perderá na eleição em si. Mas ele já deixou claro que não pretende aceitar uma derrota de maneira pacífica. Assim, qualquer um que compreende minimamente a política deste país sabe que ele fará de tudo para vencer através de métodos criminosos. Ele tentará executar fraudes com relação aos votos pelo correio (algo inédito por causa da pandemia), ele desde já incita que o acesso ao voto a minorias seja dificultado ou impedido; ele até mesmo poderá exigir que os delegados republicanos deliberadamente contradigam a escolha democrática do voto popular e votem a favor dele. Especialistas acreditam que ele irá até mesmo tentar impedir a contagem dos votos feitos por correio, decretando “vitória incontestável” em unicamente uma primeira fase de apuração.

Estamos lidando com um criminoso com muito poder e muito dinheiro nas mãos. Para falar a verdade, a chance de ele conseguir fazer o que quiser e de fato encerrar a Democracia nos EUA – que sempre foi manca, mas sempre se manteve – é imensa. Quem combaterá esse homem? Qual será o preço? Guerra civil? Acho difícil. Terceira guerra mundial? Mais possível. Ou os nazifascistas simplesmente vencerão sem guerras? Simplesmente irão acabar com tudo o que as civilizações construíram em nome do Humanismo, das ideias Iluministas e dos avanços dos pensamentos comunitários? Escrevo e suspiro...

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Ontem tivemos o primeiro debate entre Trump e Biden. Errado desde o início. Os próprios democratas – muitos deles cúmplices de Trump – acabaram com a chance de Bernie Sanders (o maior político estadunidense das últimas décadas e um dos maiores do mundo, em minha opinião) estar lá para combater o monstro como se deve. Enfim, em um debate caracterizado por muitos da imprensa progressista como o pior da história, Trump fez as duas únicas coisas que sabe fazer: mentir e agredir. Biden se defendeu como podia, mas não é combativo o suficiente. E nesta altura do campeonato, quem é fascista continuará a ser e quem não é continuará a não ser. E os imbecis que ainda não se decidiram? Pois é, provavelmente continuam sem entender minimamente o que está acontecendo.

Ok, preciso relatar dois dos “melhores momentos” do debate. No primeiro Trump foi questionado (de novo) se entregaria a presidência pacificamente caso perdesse. Enrolou e não disse que sim. Deixou muito claro a ideia que tentará transformar em verdade: “Se eu venço, foi honesto. Se eu perco, foi desonesto e, desta forma, não aceito”. E o segundo momento foi ainda mais asqueroso. O mediador perguntou se ele condena os movimentos de Supremacia Branca que cada vez mais se evidenciam com armas nas mãos de forma livre e orgulhosa pelas ruas do país. Mais uma vez Trump se recusou a condená-los. É, a mensagem hoje é passada praticamente sem disfarces. Ele deixa muito claro a que veio. Imagino os white supremacists, os neonazistas, todos estes comemorando suas vitórias ao assistirem o presidente dos EUA legitimá-los em rede nacional.

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Biden teve postura razoável. Não esteve em seus piores dias, mas não há milagre, ele não é um bom debatedor e não é um político que sabe lutar contra o um monstro desses. (A mesma realidade ocorreu no Brasil em 2018. Haddad, um dos meus políticos preferidos, não é do tipo que sabe lutar contra um adversário baixo e sujo como o que enfrentou. Deu no que deu.) Enfim, Biden tentou contragolpear, na medida do possível. Mandou que o fascista calasse a boca, ao ser interrompido a todos os momentos (típica estratégia de quem não sabe discutir), o acusou de ser o “puppy” (filhote de cachorro) de Putin, o chamou de clown e disse em sua cara que ele foi o pior presidente que os EUA já tiveram na história. Mas não soube de fato atingi-lo, derrubá-lo, vencê-lo. No fim das contas, acredito que a contenda terminou em empate ou, como o próprio americano diz, em “no contest” (luta sem resultado). 

Pois bem, antes de terminar gostaria somente de colocar a vocês alguns comentários de Bernie Sanders sobre este negativamente histórico debate. Ele disse ao apresentador Jimmy Kimmel em seu show:

“Nós temos um presidente que é verdadeiramente um racista. E ele tem usado a questão da raça há muito tempo, tentando dividir o povo americano. E ele não é somente um racista. Ele é um xenófobo, Deus sabe os terríveis ataques que ele fez à comunidade latina. É também um fanático religioso.”

“Entendam que a essência da Democracia norte-americana está em jogo nestas eleições. O futuro do planeta está em jogo, com um presidente que rejeita a ciência com relação às mudanças climáticas. E as divisões raciais neste país irão se alargar com um presidente que é um racista.”

“É absolutamente imperativo que a gente se livre do mais perigoso presidente da história dos EUA. Este é um cara que continua a dizer que possivelmente ele não entregará a presidência. Eu digo isso a Republicanos e Independentes, e não somente a Democratas: se você acredita em Democracia, se você acredita na Constituição e no Estado de Direito, Trump deve sair, pois ele não acredita nestas coisas.”

Enfim, talvez algumas pessoas estejam pensando que estou sendo ultra-dramático e exagerando na preocupação. Talvez pensem que será ruim se aquele cidadão vencer, mas falar em Nova Ordem Mundial já é demais. Até mesmo colegas analistas políticos já discordaram de mim com o argumento de que “republicanos e democratas são tudo a mesma coisa”. Sinto muito, mas não. Em muitos sentidos realmente são, mas esta ideia não se aplica a este momento singular. Infelizmente não estou exagerando. Repito: pela primeira vez teremos solidificado no poder o líder do Neonazifascismo como presidente do país mais poderoso e imperialista do globo terrestre.

Mas quem parece concordar comigo é outro de meus grandes ídolos. Com a palavra, Noam Chomsky, do alto de seus 91 anos de idade, em entrevista à Smashing Interviews Magazine e à frente Internacional Progressista:

“A menos que Trump vença os colégios eleitorais, todos os cenários levarão auma guerra civil, se Trump e os Republicanos simplesmente se recusarem a aceitar a derrota. Há muitas opções que eles poderiam seguir para tentar minar a Democracia. É como as ações de um ditador em uma neo-colônia em algum lugar qualquer – um pequeno país onde há um golpe militar a cada poucos anos. Não há precedente histórico para isso em uma sociedade democrática em funcionamento. Isso é a deterioração da Democracia em um nível nunca visto antes, sendo conduzida seriamente nos patamares mais altos. Temos um maníaco sociopata na Casa Branca.”

“Não houve nada parecido na história da humanidade. Tenho idade suficiente para lembrar muito vividamente a ameaça de que o nazismo pudesse assumir grande parte da Eurásia. E isso não era uma preocupação descabida. Os planejadores militares dos EUA previram que a guerra terminaria com uma região dominada pelos EUA e uma região dominada pela Alemanha. Mas mesmo isso, por mais horrível que fosse, não era como o fim da vida humana organizada na Terra, que é a ameaça que hoje enfrentamos.”

“Há uma crescente ameaça de guerra nuclear, que provavelmente é mais severa do que durante a Guerra Fria. Há a crescente ameaça de catástrofe ambiental. E a terceira coisa que tem se mostrado nos últimos anos é a forte deterioração da Democracia, que a princípio soa como se não pertencesse ao problema, mas realmente pertence, porque a única esperança de lidar com as duas crises existenciais que ameaçam nossa extinção é enfrentá-las por meio de uma Democracia vibrante com cidadãos engajados e informados que participem do desenvolvimento de programas contra essas crises.”

E, sem mais, concluo este artigo na esperança de que a Luz vença a Escuridão em 3 de novembro de 2020. Ainda que seja só mais uma batalha, é das maiores e pode nos custar a guerra contra o Neonazifascismo. E ao que tudo indica, se perdemos essa guerra, o grande palco do mundo não oferecerá muitas chances àqueles e àquelas que preferem o Amor ao Ódio.

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