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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O nacionalismo deles e o nosso

"O nacionalismo é fenômeno reacionário, de direita e de extrema direita. Se atribui ao nacionalismo europeu", diz Emir Sader

Bolsonaristas brigam em QG do Exército (Foto: Reprodução / Portal Metrópoles)
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Se generalizam as críticas ao nacionalismo, conforme a globalização neoliberal corre solta. Estaria na contramão das tendências gerais no mundo, seria populista, projetaria líderes carismáticos, fecharia as economias, impediria a livre circulação de investimentos. Seriam fenômenos do século passado, de uma época de Estados fortes, com grande capacidade de investimento, fenômenos do século XX.

O que a mídia chama de “lição de casa”, são os ajustes fiscais, que promovem o Estado mínimo e, no seu lugar, a centralidade do mercado. Que seria dinâmico, eficiente e globalizado.

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A visão globalizada sobre os nacionalismos é a que nasce na Europa, centrada no seu eurocentrismo. São os que definem o significado dos conceitos de liberalismo, estatismo, nacionalismo, fascismo, entre tantos outros e depois os exportam para cá.

Nesse mundo, o liberalismo é a ideologia da burguesia ascendente e está ligado à democracia, à superação do feudalismo, à industrialização e à urbanização.

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O nacionalismo é fenômeno reacionário, de direita e de extrema direita. Se atribui ao nacionalismo europeu – aquele que se baseia na posição de que “o meu país é melhor do que o seu”- a responsabilidade pelas duas guerras mundiais.

O nacionalismo na América Latina, mas também na África e na Ásia, tem outro caráter. Está vinculado à fundação dos Estados nacionais, à afirmação de ideologias nacionais, ao surgimento de líderes nacionais. E, principalmente, tem um caráter antiimperialista, totalmente ausente na Europa.

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A esquerda tradicional e os partidos de centro e de direita se uniram contra o nacionalismo, assimilando-o ao fascismo e ao nazismo europeus, porque o nacionalismo latino-americano é anti-liberal. O que, na Europa, é sinal de fascismo e nazismo, que foram anti-liberais por lá'.

Vários partidos comunistas latino-americanos – entre eles o argentino e o brasileiro – se opuseram ao Peron e ao Getúlio – como se fossem versões de Hitler e de Mussolini na América Latina. Ao importar as visões eurocentristas, se opuseram frontalmente a esses líderes, em aliança com as forças de centro e de direita. O nacionalismo desses líderes tem um tom antiimperialista, de resistência à dominação norte-americana sobre nossos países.

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O liberalismo, por sua vez, na América Latina, está vinculado aos modelos primário-exportadores e de abertura dos mercados nacionais aos investimentos estrangeiros. Está dissociado da democracia e dos processos de industrialização, que foi levada a cabo por líderes nacionalistas.

Ao ser contra o liberalismo, esses líderes foram, frequentemente, não democráticos, que o associavam a ele. Mas deram origem ao nacionalismo latino-americano, antiimperialista, industrializador, contra o latifúndio, pela reforma agrária, pela ampliação do mercado interno de consumo de massas.

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Por isso o nacionalismo tem plena vigência na América Latina, porque resiste à hegemonia norte-americana, ao domínio imperialista. Por isso, Lula, por exemplo, é profundamente nacionalista. Por isso que o PT combina, no seu programa, o socialismo e o nacionalismo.

A esquerda não pode aderir à globalização neoliberal. Ela deve buscar uma outra forma de inserção internacional, que proteja seu mercado interno, que fortaleça e não enfraqueça os Estados nacionais.

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Os governos progressistas latino-americanos são nacionalistas mas, ao mesmo tempo, desenvolvem políticas de integração latino-americana e alianças com outras forças no mundo, pela construção de um mundo multipolar. É o caso dos Brics, onde se articulam forças que resistem às tentativas norte-americanas de impor sua hegemonia global.

No nacionalismo europeu os países se opõem uns aos outros. O nacionalismo europeu não tem caráter antiimperialista, são fenômenos em geral de extrema direita. A grande maioria dos governos europeus, por sua parte, são aliados dos Estados Unidos, como no caso da OTAN, criada para consolidar a hegemonia norte-americana, na luta contra o suposto expansionismo soviético. A inserção internacional da Europa é completamente diferente da nossa, a começar pelas relações que cada continente tem com os Estados Unidos.

Somos nacionalistas, democráticos, por um mundo multipolar. Nosso nacionalismo e nossos líderes são pela emancipação nacional dos nossos países, integrados e em aliança com outros países do Sul do mundo.

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