O Nobel da Paz foi para Corina Machado. E Trump? Perdeu, mané
A Casa Branca fez beicinho, Oslo manteve o pulso firme — e o mundo descobriu que vaidade não traz paz
Era de se esperar: a revolta de Donald Trump por não conquistar o Nobel da Paz 2025 estourou como uma tempestade. A decisão do comitê norueguês, anunciada hoje, premiou a líder da oposição venezuelana María Corina Machado — e não o presidente dos Estados Unidos — o que levou a Casa Branca a reagir com fogo e veneno.
Nos principais jornais do mundo, a manchete é unânime: “Trump perde o Nobel da Paz para Corina Machado” (The Guardian); “Trump volta a ficar de fora do Nobel, mesmo com nomeações de peso” (Associated Press); “Comitê do Nobel prioriza política em vez de paz, acusa Casa Branca” (Reuters); “Governo Trump critica escolha e ameaça retaliações” (Bloomberg/análise); e ainda: “Noruega teme reação agressiva de Trump se ele não ganhar o prêmio” (The Guardian).
A frustração da Casa Branca diante da decisão do Nobel da Paz foi explícita. O governo de Donald Trump criticou hoje a decisão do comitê norueguês por conceder o prêmio da paz a María Corina Machado e não ao presidente dos EUA.
“O presidente Trump continuará fazendo acordos de paz, encerrando guerras e salvando vidas. Ele tem o coração de um humanitário, e nunca haverá ninguém como ele, capaz de mover montanhas com a força de sua vontade”, disse o porta-voz da Casa Branca, Steven Cheung, em uma publicação no X.
“O Comitê do Nobel provou que prioriza a política acima da paz”, insistiu. Em outras palavras, o discurso oficial ecoa o ressentimento: Trump afirma ter sido preterido por razões políticas, não por falta de méritos para a paz.
No noticiário internacional, analistas lembram que muitas das nomeações ao Nobel para Trump chegaram após o prazo limite, o que inviabilizou formalmente sua candidatura para 2025 — não era suficiente apenas “ganhar apoios” depois. Também se apontam contradições mais amplas: Trump reivindica papéis de mediador em conflitos globais, como o cessar-fogo entre Israel e Hamas, mas seus críticos questionam até que ponto essas iniciativas foram efetivas — ou se foram exageros retóricos.
Do lado norueguês, fala-se que o comitê tomou a decisão antes do anúncio público do plano de paz para Gaza, justamente para evitar que o impulso momentâneo influenciasse o resultado. E há temor oficial em Oslo: autoridades vinham se preparando para uma eventual retaliação diplomática ou econômica por parte de Trump.
Trump, segundo declarou, já teria “parado oito guerras” — algo que, segundo ele, “nunca antes havia ocorrido” — e essas alegações reforçariam a mágoa de não ser reconhecido. Em entrevistas anteriores, ele insinuou que seria um “grande ultraje” se não ganhasse.
Ontem, a Casa Branca se valeu desse discurso heroico: para os apoiadores, Trump é um tipo de redentor global que está sendo injustamente punido. A tática retórica é clara — como ele próprio disse: o comitê “prioriza política acima da paz”.
A repercussão não recai apenas sobre Trump, mas sobre o próprio valor simbólico do Nobel da Paz. Se um ex-presidente tão controverso — com elevada rejeição interna e políticas polarizadoras — é publicamente hostilizado por não receber o prêmio, o Nobel corre o risco de parecer politizado.
Mesmo entre americanos, a desaprovação é expressiva: uma pesquisa do Washington Post–Ipsos mostrava que 76% dos cidadãos acreditam que Trump não merece o Nobel da Paz.
A decisão de premiar María Corina Machado vai além de ignorar Trump — ela é interpretada por muitos como uma manifestação clara de onde o comitê quis colocar seu voto: na democracia, na oposição ao autoritarismo, no símbolo da resistência venezuelana.
Talvez isso magnifique ainda mais a ira de Trump — que terá agora de fazer da sua revolta discurso internacional, maratona diplomática e – inevitavelmente – nova narrativa política.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

