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Michel Zaidan

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O ódio à senectude

Só os que manifestam vocação para golpista ou ditador se arrogam o direito de decidir soberanamente que deve viver ou deve morrer. E a massa bolsonarista brada:” Cesar, os que vão morrer, te saúdam!"

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No belíssimo filme “Rapsódia de Agosto”, onde os sobreviventes da bomba (americana) jogada em Hiroshima e Nagasaki, no final da segunda grande guerra mundial, cultuam seus antepassados mortos e desaparecidos na hecatombe nuclear e marcam o encontro com eles, num momento vindouro, é um traço forte da cultura nipônica de louvar a ancestralidade, como fonte de respeito e admiração. Sentimento claro, presente no marcante filme “A balada de Naraiama”, onde o sacrifício para salvar a comunidade recai voluntariamente nos mais velhos. Este tributo aos mais velhos é uma característica das culturas orientais e contrasta vivamente com o culto ao novo e a novidade das sociedades ocidentais, onde os idosos são concebidos como fardos insuportáveis a serem custeados pela Previdência Social.

Estas observações vêm a propósito dessa fúria assassina contra os mais velhos, no atual governo do Brasil, que, aliás, se arrogou no direito de decidir soberanamente quem deve viver e quem morrer, em conseqüência da pandemia do coronavírus. O direito à senectude é fruto do amadurecimento da consciência social da humanidade. Resulta da criação de um micro código chamado “Estatuto do idoso”, não é favor, privilégio, esmola ou outorga de nenhum governante. Significa um aumento do patamar da dignidade humana, num país como o nosso.

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As mudanças drásticas no financiamento da saúde, da assistência social e da Previdência pública, iniciadas no governo Temer (com a aprovação da malfadada PEC da morte) expressaram claramente um retrocesso ou uma triste mudança de prioridade da administração pública no Brasil. Os cortes no orçamento da seguridade social se refletem de imediato na qualidade de vida (ou sobrevida) da população mais idosa, ou que necessita de cuidados especiais. De uma época de grande avanço nas políticas de ação afirmativa, destinadas a amparar coletivos vulneráveis, passamos rapidamente a uma política darwinista da “sobrevivência dos mais aptos”, através de uma seleção que não tem nada de natural, mas de política e social.

O objetivo da atual política econômica é claramente sacrificar a vida dos mais frágeis e dependentes  - em meio a uma grande crise sanitária e social - em favor dos interesses da banca, do mercado, das empresas, dos patrões. É como se a pandemia da Covid-19 viesse sabotar o plano ardentemente preparado de destruir as conquistas sociais da Constituição de 1988, em benefício do capital e da especulação financeira internacional. Depois da reforma trabalhista e da reforma da Previdência pública, parecia que o atual governo ia mesmo entregar aos seus patrocinadores a mercadoria que vendeu na campanha eleitoral: a desregulamentação completa da economia brasileira. Mas foi atropelado pela pandemia mundial, provocando um crescimento negativo de 5% do PIB, um exército de 14 milhões de desempregados, um rombo fiscal nas contas públicas que vai além do R$ 125 bilhões de reais. Grande frustração para o gerente do capitalismo internacional. O que fazer para cumprir as promessas de campanha!

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É com o sangue da população mais velha e dos setores mais frágeis da população brasileira que o governo que pagar a conta. Aquilo que já foi chamado de “população excedente”, sem fins ou utilidade econômica. Peso morto no orçamento público da nação. Gente que já não tem mais lugar no mundo (econômico, do capitalismo). Para os gestores da economia, ela deve ser eliminada. E nada como os efeitos mórbidos e letais de uma pandemia para realizar essa tarefa. É só cortar o investimento no combate ao vírus, reduzir o gasto com leitos hospitalares, pessoal da área da saúde, e instar os idosos a irem para rua. Curioso o interesse do Ministério da Defesa pelo número de covas disponíveis nos cemitérios públicos. Fazem a complementação da visão dos evangélicos de que a praga ocorre por um desígnio divino. Se as orações não evitarem as mortes, cuidemos de enterrar as vítimas em covas rasas, ou valas comuns. Se fosse na Índia, cremavam-se os cadáveres e se jogavam as cinzas no rio Ganges. Aqui, acumulam-se corpos nos hospitais ou se guardam em contêineres refrigerados. Uns cuidam da alma pecaminosa dos condenados. Outros, dos corpos putrefatos. Uma combinação macabra e tanto.

Não nos assustemos muito. Só os que manifestam vocação para golpista ou ditador se arrogam o direito de decidir soberanamente que deve viver ou deve morrer. E a massa bolsonarista brada:” Cesar, os que vão morrer, te saúdam!”.

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