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Elisabeth Lopes

Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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O país envelhece embaixo de telhado de vidro

A pirâmide das faixas etárias está se invertendo. O país de jovens está ficando idoso

Fila do INSS (Foto: Antônio Cruz/ABr)
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Estamos vivendo uma realidade preocupante nos rumos dos governos progressistas brasileiros. Subsumidos à ditadura de um congresso, em sua maioria, de uma direita retrógada e de uma extrema direita destiladora de ódio, vamos sucumbindo na perspectiva de um projeto de diminuição da desigualdade social.

Nesse contexto, observamos o excedente protagonismo do Supremo Tribunal Federal a salvaguardar os mandamentos constitucionais, perante os constantes ataques à letra da Constituição, o poder executivo encolher e o congresso se agigantar em pautas suspeitas. 

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Nesta perspectiva conjuntural dos três poderes, sofremos as influências desse desequilíbrio nas atribuições de cada um, por volta e meia trilharem pelos terrenos do outro. Esta atrofia acentuou-se, principalmente, depois do impeachment da Presidenta Dilma, sobretudo no período bolsonarista, que delegou ao legislativo o ato de executar os destinos financeiros das políticas públicas de competência do executivo. Durante mais de cinco anos, o regime passa longe de ser presidencialista para, de fato, transverter-se em uma versão torpe de parlamentarismo ou semipresidencialismo, como deseja o titular da Câmara Federal, deputado Lira, ao ser recentemente entrevistado num canal por assinatura.

Como o país sobreviver, saudavelmente, nessa configuração política? Nessa materialidade, realizar qualquer diálogo consensual, torna-se uma insana batalha de titãs. Com lideranças ambiciosas, tanto na Câmara de deputados, quanto no Senado, assistimos diariamente movimentos perigosos, chantagens, estrelismo em detrimento dos projetos do executivo.

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Em meio a esse cenário e das várias necessidades da população à mercê da possibilidade de concretização de políticas públicas pelo governo, da destinação interesseira das emendas distribuídas aos deputados, vislumbramos carências sociais em vários sentidos, entre estas, o envelhecimento de uma maioria vulnerabilizada da população.

A pirâmide das faixas etárias está se invertendo. O país de jovens está ficando idoso.  

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Ainda que o país esteja se encaminhando para essa condição, em contrapartida, não está se preparando para arcar com as vicissitudes de uma população longeva. Segundo projeções da Organização Mundial da Saúde em 2030 o Brasil terá mais idosos, do que crianças e adolescentes entre zero a 14 anos. 

Num país com um sistema econômico excludente pensar nos homens e mulheres que passam dos 60 anos sem disporem de uma estrutura que lhes garanta um modo de vida saudável e sustentável é devastador. Há poucos dias nos chocamos com a história do senhor de 68 anos, já sem vida, levado pela sobrinha para efetivar um empréstimo. É importante salientar as condições de precariedade dessa família, sem prévias condenações dos personagens. 

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Após a trajetória de trabalho árduo que absorveu o tempo em que poderiam ter desfrutado melhor a vida pelo vigor do corpo, a maioria dos longevos do país acumulam filas nas frentes dos postos de saúde, vivem à revelia de qualquer atendimento e abrigo minimamente saudável. Assistimos diariamente na mídia, a busca da saúde pelos idosos. Estes madrugam para obtenção de uma consulta e, a partir desta, são submetidos a um longo e demorado caminho até o atendimento pela medicina especializada. Ao lado de uma parte ínfima da sociedade, que tem uma velhice bem assistida, existe uma maioria que não logra da mesma sorte.

Apesar de observarmos esforços empreendidos pelos governos progressistas, por meio de políticas sociais em vários âmbitos da vida do povo, o país mergulha em disparidades brutais de uma desigualdade social agravada.

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Num país como o nosso, que oscila politicamente entre os impensáveis governos neoliberais e governos progressistas, que para sobreviverem se arrastam presos a correntes pesadas pelas alianças que carregam, uma mudança efetiva na melhoria das condições de vida da população de mais idade, tem sido rarefeita. 

Quase que diuturnamente, assistimos os abusos praticados pelos bancos à população idosa. É comum observar a exploração destas instituições financeiras aos aposentados por meio de oferecimento de empréstimos pre aprovados, ou de vantagens ilusórias, geralmente acompanhadas de venda casada. O idoso vai ao banco para receber seu parco benefício e retorna a sua casa repleto de contas a pagar.

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Enquanto escrevo este texto, me deparo com uma notícia grave de última hora em Porto Alegre. Os habitantes desta cidade, administrada por um governo de direita neoliberal, acabam de presenciar um incêndio numa pensão localizada no centro da cidade, que vitimou fatalmente dez pessoas, além de fazer onze feridos. O estabelecimento tinha convênio com a prefeitura, mas funcionava de modo irregular. Não tinha Plano de prevenção e proteção contra incêndios. Era usado por moradores idosos, entre outras pessoas em condição vulneráveis. 

Em que delírio estamos mergulhados? Por que perdemos a capacidade de luta por um país   para justo para todos? O que tem levado parte do povo a fazer escolhas tão vis para representa-lo. É inconcebível termos um governo progressista, tendo que se aliar para sobreviver a forças interesseiras, o que nos impede de ir às ruas para protestarmos contra essas agruras, como tem ido o povo inconformado da Argentina? O que nos impede de lutar pela dignidade de existir do povo que está envelhecendo, entre tantas indignidades que assistimos todos os dias nesse país que envelhece abaixo de telhado de vidro?   

 

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