O país naufraga... Onde estão meus pares psicólogos(as)?
Conforme o genial médico austríaco, Sigmund Freud (1856-1939) – que de médico não tinha nada –: "toda Psicologia é Social". Neste contexto, pode-se dizer: "Toda Psicologia é Política", pois traz em seu bojo sua intepretação de mundo com os seus mais variados saberes e a sua subjacente ideologia de Poder
Durante o curso de Psicologia e a formação para Psicólogo Clínico, aprende-se tantas coisas e desaprende-se outras, como em qualquer outro curso acadêmico. Contudo, é evidente que não bastam as maravilhosas teorias e conceitos das Ciências Humanas, Biológicas, Exatas... se essas belezas construídas pelas mentes de pessoas geniais não servirem ao ser humano e à coletividade, possibilitando-lhes enfrentar, na "cara dura", as mazelas da existência e a convivência ética com a natureza, o corpo, e, fundamentalmente com o Outro.
No que se refere à Psicologia em particular, é inegável o grande empenho de vários aprendizes de Psicólogos(as) para estudar todo o "corpo conceitual de algumas teorias" às quais se optem por determinadas "afinidades pessoais conscientes" ou pelas "suas próprias fantasias inconscientes", identificando-se mais com umas do que com outras. Entretanto, pode-se conjecturar que tanto "os seus desejos velados (inconscientes)" quanto "as suas escolhas conscientes" estejam totalmente bordeadas pelas ideologias sociais de mercado, assim como as suas visões de mundo.
Nesse processo de formação teórica e técnica, sempre à luz do olhar de seus mestres e supervisores, é comum esquecer-se da "dimensão ética profissional (Código de Ética)" e da "ética do desejo (Psicanálise)", embora essas duas dimensões possam se confrontar: "a norma universal do código" com o "desejo inconsciente singular" – também "estruturado como uma linguagem" – conforme o inclassificável psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981)], porém de difícil "decodificação".
Daí a importância da "análise do desejo inconsciente" (ou da "psicoterapia") de cada um dos jovens aprendizes da Psicologia e da atenção constante ao "Código de Ética Profissional" da categoria, em especial, àqueles que de fato pretendam exercer a profissão, em quaisquer das suas áreas: Recursos Humanos, Esportes, Jurídica, Trânsito, Clínica, Comunitária...
Não é o bastante "comer" livros de Psicologia Comportamental; Cognitiva, Psicanálise; Existencial Humanista; Fenomenológica; Gestalt; etc., se não se atêm ao seu "próprio desejo" e "às normas da profissão".
Assim sendo, não há sentido algum das teorias e dos saberes fora do "campo discursivo" e dos "laços sociais amplos", cultuados apenas em pequenos "recortes sociais" com os seus "settings específicos", ou seja, para o exercício da profissão de Psicólogo, onde quer que seja, é preciso "avalisar-se" quanto ao próprio "desejo clareado e decidido", cuidar das "regras éticas da profissão" e "levar em consideração a realidade social na qual se está inserido", tanto o "profissional Psi" quanto o "seu objeto de intervenção (cliente, paciente)", com todos os impasses políticos e culturais que atravessam a nossa civilização (ou que a constrói).
Saliente-se que o próprio "discurso do saber" que se supõe deter esses profissionais, "é um discurso do Outro", de onde emanam posições éticas e ideológicas bem como a forma de conceber a "realidade social construída". Mesmo que se pense, sociologicamente, na "realidade social" como um "fato social" empiricamente independente, que de fato tem o "poder de coerção" sobre o indivíduo – Émile Durkheim (1858-1917) –, há que se lembrar que "fatos sociais" são produzidos por "agentes discursivos" que se inserem no "lugar do agenciamento de um saber direcionado ao Outro", na tentativa de produzir uma "verdade" sobre "as coisas do mundo físico e social", e assim "forjar uma realidade", neste caso, uma "realidade social" que se pretende "natural" (objetiva, comum e verdadeira).
Portanto, questionar a "realidade social" perpetrada (forçada, induzida) em seu formato supostamente "natural" como querem os "mestres da verdade" "é uma das tarefas mais nobres e importantes do profissional Psicólogo", aonde quer que ele esteja atuando, haja vista que o seu cliente (paciente) é "um sujeito social", portanto, um sujeito político, inserido que está numa dada cultura, onde as tensões e os conflitos diversos são acirrados e permanentes.
Conforme o genial médico austríaco, Sigmund Freud (1856-1939) – que de médico não tinha nada –: "toda Psicologia é Social". Neste contexto, pode-se dizer: "Toda Psicologia é Política", pois traz em seu bojo sua intepretação de mundo com os seus mais variados saberes e a sua subjacente ideologia de Poder.
O grande agente do discurso atual é o capitalismo, "o mestre é o capital", aquele que produz e impõe uma "realidade social" e os modos de subjetivação das individualidades, sobrepondo ao "desejo singular o gozo do consumo pelo objeto-fetiche da mercadoria". De uma forma ou de outra, todos os "sujeitos sociais" entram nessa "ciranda mortífera", de dentro ou de fora.
Propiciar catarses, ab-reações, escansões, pontuações, modelagens de comportamentos e crenças, relaxamentos, etc., pelos "profissionais Psi", em seus "settings disjuntivos da realidade política e social" é o mesmo que "enxugar gelo". É como "ensinar o peixinho a viver no aquário, para em seguida, após o pagamento "in cash" ou via "Unimed" da "sessão terapêutica de adestramento repetitivo automático", lançá-lo aos "tubarões do mar". O que "exala algo perverso" por parte desses "profissionais dependentes das teorias psicológicas e de seus settings encantados", desvinculados do "cenário social regulador e opressor" de si mesmos e de seus "ratinhos skinnerianos".
Aqui talvez o filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) e a Esquizoanálise possam ser de grande valia, de forma despretensiosa e aforística: "Édipo, filho de Sófocles, se tornou capitalista".
Neste sentido, não se pretende "politizar" o paciente no "consultório", mas de politizar o "profissional psi na sociedade". Entendendo "Política" como "um debate democrático contínuo e aberto" e "não uma profissão politiqueira profissional institucionalizada pelo Poder".
Enfim, sobre "o desejo": "Compreendemos que a fórmula proposta por Lacan, 'não cedas de teu desejo', significa não abrir mão daquilo que se enuncia na fala que endereçamos ao outro, ou seja, sustentarmos o que falamos com voz própria". – Mario Fleig (Filósofo e Psicanalista).
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2595&secao=295
Todavia, há que se não confundir "a vontade" com "o desejo", pois o desejo inconsciente não se reduzir à vontade consciente do ego. A vontade racional é mera ilusão, entretanto, sempre está condicionada pelo desejo inconsciente. Daí a necessidade de entrar em contato com essa verdadeira instância condutora de nossas vidas.
E, sobre o Código de Ética do Psicólogo:
"PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:
I – O psicólogo baseará seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal de Direitos Humanos.
II – O psicólogo trabalhará visando a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III – O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
IV – O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e prática.
V – O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população à informação, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
VI – O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
VII – O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre suas atividades profissionais, posicionando de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.".
"DAS RESPONSABILIDADES DO PSICÓLOGO:
"(...)"
"Art. 2º - Ao psicólogo é vedado:
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão".
"(...)".
Desta forma, negligenciar, omitir e desconhecer a "realidade social" na qual está inserido o seu cliente (paciente, grupo, empresa ou comunidade) é "desmentir" o seu código profissional e se insurgir, consequentemente, com "um desejo débil, para não dizer perverso".
É preciso encontrar uma "dialética ética" entre a "linguagem singular do desejo" e o "código universal da profissão".
Independentemente de siglas partidárias; política e realidade social se implodem, o Brasil vive um Estado de Golpe e do desmanche dos Direitos Democráticos Básicos, como a Saúde, a Educação, a Previdência Social, a Assistência Social.... A cena social e subjetiva onde vivem os "profissionais psi" e os seus "clientes" se liquefaz...
Onde estão os "meus pares"?
Parece que foram ao cinema assistir ao Titanic...
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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