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Bruno Lima Rocha

Jornalista, cientista político e professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise

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O Partido Militar e a guerra psicológica contra a sociedade brasileira

A ameaça de golpe e instabilidade política já é parte do “novo normal”, aplicado no Brasil desde o começo da Operação Lava Jato

O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira e o presidente da República, Jair Bolsonaro, (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/ EBC)
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14/11/2022 - Bruno Lima Rocha (@blimarocha)

No intervalo de tempo entre o segundo turno das eleições de 2022 e o feriado do golpe militar que finalmente derruba o carcomido 2º Reinado e instaura o ciclo republicano iniciado com o governo dos marechais, o Partido Militar mostra suas facetas e manobras. Cumprindo à risca um ritual de morde e assopra, tivemos o inócuo relatório da auditoria paralela do Ministério da Defesa – erroneamente comandado por um general, o bolsonarista Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – e depois duas notas típicas da ação psicossocial. Nunca é demais lembrar, Golbery do Couto e Silva com certeza está sorrindo no inferno ao lado de Joseph Goebbels e outras excrescências similares. 

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A ordem cronológica dos ataques contra o sistema liberal-democrático é essa:  4a dia 09/11, a Pasta da Defesa anuncia a divulgação do “relatório” iniciado a partir de uma decisão idiota do Tribunal Superior Eleitoral de “convidar” técnicos militares a fazerem um trabalho que já estava sendo feito. A íntegra das 63 páginas pode ser baixada neste link e o resultado é nulo. Ou seja, nada consta. Logo, mais recursos, tempos e movimentos em uma ação estúpida e prepotente.

Na noite da própria 4a nove de novembro o TSE traz uma chamada de webradio com o título: “Relatório das Forças Armadas confirmam segurança nas urnas”. Assim, em tese, a querela que nunca existiu deixaria de ser citada e comentada, diminuindo a escalada de fake news e negações plausíveis, artilharia de mentiras usadas dentro do arsenal da extrema direita. Para não enterrar a a sua participação nesta ópera bufa, a guerra de nervos continua. Em nota oficial e publicada na página do Governo Brasileiro, o Ministério da Defesa afirma que “Relatório das Forças Armadas não excluiu a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas eletrõnicas”.

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Assim, em menos de doze horas, a temperatura volta a subir novamente, em maobra orquestrada de informação e contra-informação, alentando as vivandeiras que deixaram a maior parte dos pontos de bloqueio das estradas e ficam acampadas de fronte a quartéis das três forças. Qual o objetivo? Impedir o avanço do governo de transição, promover uma intervenção militar e quem sabe assegurar um autogolpe, com Bolsonaro à frente mas com a tutela do alto comando? Afinal, o objetivo estratégico é a instabilidade mas a meta finalista é sem dúvida a tomada do Poder Executivo por todos os meios necessários. Está distante o engajamento concreto da maior parte dos oficiais da ativa, mas ainda mais longe estamos de ver essa crise superada e de afirmar, sem nenhuma sombra de dúvida, que a maioria dos militares profissionais do Brasil não nutrem simpatia pelo bolsonarismo. Nutrem sim, e muita. 

Para garantir a “popularidade” na sociedade civil mobilizada pelo capital apoiador da extrema direita (financiando caminhões, custos de diesel e pedágios, horas rodadas e pagas de motoristas, infraestrutura como alimentação, barracas e banheiros químicos), entrou em cena o alto comando das três forças. Como nos tenebrosos tempos da Junta Militar – entre a vacância do moribuno Costa e Silva e antes da posse de Médici, no auge da ditadura, entre agosto e outubro de 1969 – no dia 11 de novembro os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica lançam uma nota condenando as “restrições ao direito de protestar” diante de bases militares. Além de ser um crime federal, o de incitar militares a darem golpe de Estado, o comando das tropas está permitindo a permanência na área ao redor das organizações militares, em terreno de sua prerrogativa de segurança. Ou seja, está na prática permitindo.

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Vamos aos fatos. Desde a pré-campanha de 2014 que o então deputado federal Jair Bolsonaro ganhou carta branca do alto comando para frequentar cerimônias militares e fazer proselitismo com duplo sentido para a caserna. A guerra psicológica começou com os bonecos infláveis do general Hamilton Mourão, ainda na ativa e hoje senador eleito pelo RS, olhando para a Praça dos Três Poderes batendo continência. A Comissão da Verdade incomodou a milicada, mas a possibilidade de terem de se portar como forças 100% profissionais e enfrentarem reais ameaças contra a nossa soberania molesta ainda mais. Logo, preferiram se dedicar no frente interno e se posicionar como estamento fardado, contrabalançando o poder em ascensão do outro estamento, o togado no auge do lavajatismo. 

O presidente não reeleito Bolsonaro surfa na onda, é criador de uma base sociopolítica através das redes sociais e criatura da guerra psicológica do Exército que o defenestrou. Seu ídolo sempre foi o coronel argentino Aldo Rico, patético na guerra profissional, constante ameaça a retomada dos direitos democráticos na década de 1980. Enveredou pela política profissional e não foi muito longe. Já Bolsonaro nunca assumiu nenhum cargo executivo antes de ser presidente. Era o desastre visível: bom na manipulação do protofascismo brasileiro, péssimo como presidente do país que já foi 6ª economia do mundo. 

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Já as Forças Armadas em geral, e o Exército em particular, estariam realmente dispostos a parar de simular um Poder Moderador e se restringirem a defesa do território nacional e os interesses estratégicos do país? Caso o façam, estarão apenas cumprindo sua obrigação como serviço público fardado. Do contrário, a ameaça de golpe e instabilidade política já é parte do “novo normal”, aplicado no Brasil desde o começo da Operação de Lawfare, apelidada de Lava Jato e insuflando o “terceiro turno das eleições de 2014”.

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