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Cesar Locatelli

Economista e mestre em economia.

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O pensamento de Manuel Castells em 12 tópicos

Bolsonaro é um ser primitivo, fundamentalmente. Ele é muito mais estúpido que Donald Trump, que no fundo é sua grande conexão

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O sociólogo Manuel Castells expressou sua opinião sobre Bolsonaro, Trump, mídia, redes sociais, internet das coisas, insurgência no Chile, entre outros assuntos. Ele foi entrevistado por Jorge Fontevecchia, para Perfil 

1 Nossa interação com a mídia é mais para confirmar nossas opiniões

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Um elemento estabelecido na pesquisa em comunicação é que, como somos animais emocionais, olhamos apenas para a mídia com a qual concordamos politicamente. E para aquelas em que confiamos. Interagimos com a mídia para confirmar mais do que para nos informar. Quando há algo que quebra fortemente o que pensamos, na falta de meios institucionais para nos expressarmos, culpamos o mensageiro, não a mensagem ou a origem da mensagem. Às vezes acontece devido a distorção da percepção. A mensagem não é distorcida, mas a própria percepção. Como eles me dizem isso se eu sinto outra coisa? Há um choque emocional e uma reação violenta pode surgir, a comoção é de tal ordem que mesmo a vida pode ser posta em risco.

2 A eliminação dos motoristas que virá depois da eliminação dos motoristas de táxi

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É necessário criar uma população humana cada vez mais inteligente, para que possamos controlar as máquinas e não vice-versa. Isso se chama educação. [A mudança nas leis trabalhistas] é uma reação burocrática para enfrentar um novo problema que requer análise e compreensão do que são esses processos. Aqui, o mais importante não é a legislação trabalhista, mas o sistema educacional.

3 O perigo das plataformas Google e Facebook

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É o oligopólio mais perigoso que existe na história, [essas plataformas] oligopolizam a mídia e a informação. A mídia tradicional não é nada comparada a essas empresas. Nem mesmo os grandes grupos de multimídia. Existem sérios problemas do ponto de vista desde a tributação, por exemplo, até falta de privacidade.

(…)

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Regular seriamente o poder de controle, privacidade e tributação dessas empresas é um dos problemas mais importantes do nosso tempo. A Comissão Europeia vai dar muito trabalho ao Google e ao Facebook.

Elizabeth Warren [postulante à candidatura democrata à presidência dos EUA] tem uma série de medidas para controlar o Facebook em particular. Mark Zuckerberg está contratando advogados, o que mostra que sua intenção é resistir. A batalha ainda não acabou. O que acontece é que eles partem de uma vantagem competitiva que, sem a intervenção regulatória dos Estados, não há como evitar abusos, além de boas intenções.

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4 Como Trump usa a mídia tradicionais

[O] caso de Trump é mais interessante. Porque ele passou por cima dos partidos tradicionais, mas seu relacionamento com a mídia o ajudou e foi uma estratégia deliberada. Trump vem do mundo da mídia. E a regra número um da política é estar presente na grande mídia.

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Ele começou sua campanha dizendo que todos os mexicanos eram estupradores, criminosos e traficantes de drogas. Algo que inevitavelmente afeta a mídia. A partir daí, a controvérsia começa. E ele continuou dizendo barbaridades sobre as mulheres. Eu vivo a maior parte do ano nos Estados Unidos. E pode-se perceber que Donald Trump está na mídia o tempo todo. Você não fala sobre política, você não fala sobre outras pessoas: tudo acontece em relação a Trump. O resto desaparece. Essa é uma ótima estratégia de mídia. A mídia, para Trump, era o inimigo. Steve Bannon tem uma maneira extraordinária de sempre mantê-lo em evidência.

5 A estratégia de Bolsonaro comparada à de Trump

Existem elementos semelhantes [entre as estratégias de Trump e Bolsonaro]. Neste caso, houve meios de comunicação que primeiro o apoiaram, mesmo que indiretamente, porque foram decisivos para destruir a credibilidade do PT, que possuía grande apoio popular. Eles também eram meios ideologicamente ativos. Eles intervieram em campanhas de política editorial para responder a interesses econômicos e financeiros ligados à mídia.

6 “Despertar” e “dignidade” como palavras-chave no movimento chileno

Tudo aqui se resume a que "o Chile acordou". Como é essa vigília? Sair desse tipo de sonho que dizia que já era um país desenvolvido, que eles podiam ganhar muito dinheiro, que as aposentadorias poderiam ser pagas por sistemas privados, que depois não as cobriam.

Acordar é uma palavra. A outra é dignidade. Aparece em todas as diferentes expressões semelhantes em todo o mundo, em diferentes idiomas. Não se tratava apenas de demandas sociais, mas de respeito como seres humanos. Dignidade, palavra-chave em todo o mundo.

7 Onde se gera o poder

Falar sobre o espaço da comunicação socializada refere-se ao fato de ter capacidade para atingir todas as pessoas e não poucas no sentido amplo integrado pela mídia tradicional. Já sabemos que hoje a imprensa, televisão, cinema compõem redes multimídia. Por outro lado, as redes sociais estão de certa forma integradas, mas não possuem o mesmo sistema de controle e disseminação de mensagens. Na enorme galáxia da comunicação, as redes sociais não são algo separado, são articuladas. É aí que o poder é gerado, através da comunicação de ideias, imagens, projetos, críticas.

8 A diferença entre internacionalização e globalização

Internacionalização e globalização não são a mesma coisa. Internacionalização refere-se ao fato de que aumentam relações internacionais de todos os tipos, algo que existia no século XIX. Globalização é quando todos os sistemas, em todos os países, trabalham com base em conexões globais. Nesse sentido, vivemos em um mundo globalizado, não apenas internacionalizado.

Não vivemos sozinhos em economia, comunicação, ciência ou no imaginário das pessoas. Não vivemos sozinhos no que estamos vendo ao nosso redor. Além disso, alguns setores, comércio, finanças, são internacionalizados, a geopolítica é internacionalizada. Estamos todos sempre nas duas dimensões, apenas que alguns têm informações e controle e a maioria deles não.

9 O primeiro ano de Jair Bolsonaro

Estive recentemente no Brasil por cerca de dez dias, em julho, no Rio de Janeiro. Percorri o Brasil a pé. A insegurança no Rio de Janeiro é muito maior. Entre outras coisas, agora há permissão para matar. Muitos se sentem James Bond. Tem uma licença para matar. A polícia pode matar, os grupos para-policiais podem matar. 

Nas favelas que visitei recentemente, há nas escolas, no telhado, uma placa que diz: "Cuidado, aqui é uma escola". Porque a nova tática é colocar helicópteros da polícia que sobrevoam as favelas e atirar nos adolescentes que assumem que traficam drogas. Eles são baleados. Eles atiram em qualquer objeto suspeito que se mova.

Assim, entre outras coisas, eles mataram a vereadora Marielle Franco, que estava tentando defender as favelas contra abusos policiais. Eles a mataram, sobre isso há um julgamento, há um processo. Pessoas próximas a Bolsonaro estão sendo acusadas por isso. Não é uma fantasia da minha parte.

(…)

Bolsonaro é um ser primitivo, fundamentalmente. Ele é muito mais estúpido que Donald Trump, que no fundo é sua grande conexão. 

10 A sociedade da informação como base para o estado de bem-estar

A chave está no que chamo de círculo virtuoso entre uma economia baseada na produtividade da informação e dos recursos humanos. É a base da produtividade e do desenvolvimento do estado de bem-estar social, que consiste em oferecer saúde, educação, de modo que todas as pessoas que mereçam possam chegar à universidade.

Tudo isso é capacidade criativa que se traduz em capacidade produtiva. Por sua vez, essa capacidade produtiva aumenta a competitividade na economia global e, a partir daí, mais capital se acumula no território e, portanto, o estado de bem-estar social é financiado, em bases reais e não demagógicas. 

Para mim, é uma questão fundamental. É por isso que estudei a fundo a Finlândia e me registrei lá. Sim, sou um cidadão finlandês. (…) A Finlândia que eu conhecia e que amo muito, por várias aspectos se tornou um país xenófobo.

11 O avanço da internet das coisas com a tecnologia 5G

Fiz uma investigação que achei emocionante em agosto passado em Shenzhen, o Vale do Silício Chinês. Concentrei-me essencialmente na Huawei. (…) 

[A tecnologia 5G] não muda muito o telefone, com velocidades mais rápidas. Essa conectividade com transmissão, velocidade e capacidade de volume atende às máquinas e isso que é realmente importante. O desenvolvimento da inteligência artificial é exponencial. As máquinas não são inteligentes como nós, mas serão cada vez mais capazes de calcular e tomar decisões a partir de uma série de programas.

12 A China é comunista, não capitalista

A crise na China é sempre prevista e não ocorre. Existe uma espécie de preconceito, especialmente nos intelectuais ocidentais que afirmam que "para realmente desenvolver o capitalismo global, é preciso ser democrático, ter os valores, os valores do Ocidente" e assim por diante. E acontece que o fenômeno econômico mais importante do desenvolvimento do capitalismo global de nossa época, nos últimos vinte anos, foi liderado por um estado comunista, porque a China é comunista, não capitalista.

Um único partido que controla tudo. Por exemplo, muitas vezes não se sabe que qualquer grande empresa chinesa, incluindo multinacionais, possui um comitê do Partido Comunista dentro da empresa que supervisiona tudo. Isso não os impediu de se tornarem mais competitivos. Entramos em uma era na qual empresas de tecnologia chinesas como Huawei e Tencent são tão dominantes quanto as americanas.

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