O pintinho amarelinho e o maior frango de todos os tempos

Como se não bastasse a fatídica matéria exibida em seu programa de estreia onde "visitou" a psicopata Suzane Von Richthofen e sua amasia "Sandrão", o apresentador Gugu Liberato parece que está disposto a investir no jornalismo policial. Ou seria no sensacionalismo proposital? O psicopata da vez foi Bruno, ex-goleiro do Flamengo e condenado a prisão por ser o mandante do assassinato de sua amante, Eliza Samúdio, com quem teve um filho. Aparentando a mesma marra e o olhar altivo dos tempos de jogador e empunhando uma Bíblia como símbolo da sua redenção e arrependimento (sic), o ex-atleta tentava demonstrar sinceridade e provar a sua inocência. Era como se ele estivesse tentando se justificar com o árbitro por ter acabado de cometer um pênalti no atacante adversário. Todo mundo viu que foi pênalti, mas ele insiste em dizer que não cometeu. Ah! E porque não recorrer a Bíblia antes de cometer crimes? Enfim, isso é mais complexo. Não vou entrar no mérito. Mas ver presidiários assassinos e psicopatas com a Bíblia na mão não me sensibiliza e tampouco me convence. Pelo contrário, me faz desconfiar ainda mais de suas futuras intenções.

Eu confesso o meu estranho desconforto ao ver a imagem do ex-goleiro na TV. Estranho desconforto porque o cara já foi ídolo do meu clube de coração. Já fez defesas milagrosas que salvaram o time da derrota. Já defendeu pênaltis importantes que garantiram títulos ao Flamengo. Já fez até gol de falta em Libertadores. Como alguém que já me proporcionou momentos de felicidade, ainda que supérfluos, pode hoje me provocar toda essa repulsa? Talvez a equação seja mais simples do que pareça. Ídolo + Assassino = Assassino ao quadrado. Ou seja, alguém que você nunca imaginou que fosse capaz de tamanha crueldade, torna a sua revolta potencializada. É muita decepção. É gol contra. É entregar o jogo para o adversário. Eu sei que vão dizer que todos merecem uma segunda chance, mas aos assassinos psicopatas eu não a ofereceria. Prefiro lhes oferecer a prisão perpetua. E que Deus me perdoe por isso. Tirar ou mandar tirar a vida de alguém de forma cruel e por motivo banal é muito vil. É uma vibração muito baixa e negativa. Pessoas capazes de tal ato não devem conviver em sociedade.

Assim como na ocasião da matéria com a Suzane, eu me pergunto qual o interesse do público em ver e ouvir explicações de presidiários na TV? Principalmente quando todos já sabemos como será o comportamento dos entrevistados frente as câmeras. Por que não dar voz a quem tenha a algo de produtivo e de positivo a dizer? Será que gente boa não dá ibope? Alguns vão dizer que não devemos julgar a atitude criminosa dos outros e que o julgamento a Deus pertence. Até concordo em partes. Mas tente se colocar no lugar das famílias que foram destruídas por crimes bárbaros cometidos por psicopatas como Bruno, Guilherme de Pádua, Suzane e outros? São vidas completamente destruídas. São feridas que nunca irão cicatrizar em suas almas. É dor que desatina. É uma lembrança encharcada de lágrimas. Por isso eu julgo um desrespeito com as vítimas e suas famílias, e também com muitas mulheres vítimas de violência no dia a dia, apresentar essas pessoas como atrações em programas de TV como se elas fossem grandes artistas e como se alguém estivesse interessado no que elas têm a dizer. Eu pelo menos não tenho nenhum interesse. Você tem?

Eu cheguei a ler alguns comentários na época do crime que tentavam justificar o acontecido alegando que a vítima era garota de programa e que eles haviam se conhecido praticando sexo grupal. Antes de ser uma garota de programa ela era um ser humano. O nível de moralidade do ofício que ela exercia não está em questão. A questão principal é o crime, cruel e impiedoso que a vitimou. Alguém se lembra de que alguns dos envolvidos no crime foram misteriosamente abatidos? O menor que confessou participação e declarou que os restos mortais da vítima foram jogados aos cães, foi praticamente interditado. Silenciado. Ninguém sabe ninguém nunca mais ouviu falar. Ora! Vivemos num País de impunidade onde quem tem fama e grana dificilmente vai em cana. Se ele fosse inocente estaria preso até hoje, sendo goleiro do Flamengo e tendo o status que ser jogador de futebol lhe confere? Duvido.

Em tempos de clamores por mudanças, protesto, manifestações e pedidos de intervenção, é lamentável constatar que o sensacionalismo ainda tem e ainda terá muito espaço na nossa TV. Será que estaria na hora do povo pedir intervenção militar no programa do Gugu? Afinal, só aparece criminoso como atração principal. Será que os "novos manifestantes" não julgam isso nocivo a sociedade? Não teria sido motivo para um panelaço quando as entrevistas de Suzane Richthofen e do goleiro Bruno foram ao ar? Acho que seria um protesto bem legítimo do povo contra uma parte da mídia que tenta manipular e transformar vilões em mocinhos e heróis em bandidos.

Mas uma vez o "pintinho amarelinho" saiu da casca antes do tempo. Chocou o ovo. Não deu para digerir. O estômago não aceita. Quanto ao goleiro Bruno, podemos dizer que ele tomou o maior frango de toda a sua carreira e fez a sua própria vida perder de goleada. Que pague o preço e amargue o "banco de reservas" por um bom tempo. A regra é clara.

Fim de jogo!