O PL Antifacção, os bandidos ricos e a destruição da PF
O PL aprovado pela maioria – mais de 300 votos – , desfigurou a proposta original encaminhada pelo Governo Lula
Diante de mais uma operação da Polícia Federal contra o crime organizado envolvendo personalidades que não moram nas favelas brasileiras, mas em condomínios e coberturas de luxo, não há como não desconfiar da forma como a Câmara dos Deputados encaminhou e votou o substitutivo ao chamado PL Antifacção (PL 5.582/2025), com relatório do emissário do governador bolsonarista de São Paulo, o secretário de Segurança licenciado Guilherme Derrite (PP-SP).
Ora, o PL aprovado pela maioria – mais de 300 votos – , desfigurou a proposta original encaminhada pelo Governo Lula e não apenas deixa à míngua o funcionamento da PF, com diminuição dos recursos financeiros da entidade, como também lhe retira poderes e enfraquece as operações de combate ao crime organizado, num escancarado propósito de autoproteção aos interesses de muitos que apoiaram o relatório.
É de se perceber que os líderes dessa iniciativa já sabiam dos rumos da operação que a PF desenvolvia para chegar a ilustres personalidades do mundo financeiro e político envolvidos com o crime, como foi o caso do banqueiro Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, acusado de crime contra o sistema financeiro do País, na ordem de R$ 12 bilhões. Esse é um escândalo que envolve, notadamente, bandidos ricos.
Afinal, o banqueiro é acusado de fraudes no sistema financeiro e lavagem de dinheiro para muita gente da elite brasileira, incluindo lideranças políticas da direita e do centro. Aliás, na mesma operação da Polícia Federal foi preso também o banqueiro baiano Augusto Lima, esposo da ex-ministra do governo Jair Bolsonaro, Flávia Arruda (PL).
As ligações de muitos políticos com o Banco Master certamente foi o que levou a corrida dos líderes partidários à direita para carimbar o apoio ao emissário do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na elaboração do relatório que enfraquece o papel da Polícia Federal nas investigações contra os bandidos ricos e o crime organizado em geral.
E neste processo agiram todos os interessados na autoproteção como o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que mandou para os cofres do Banco Master mais de R$ 1 bilhão, dinheiro do fundo de pensão de 235 mil servidores fluminenses, como denunciou na Câmara o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ). Além dele, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que assistia de camarote aos negócios suspeitos entre o banco de Vorcaro e o BRB, do DF.
Soma-se a tudo isso cinco municípios de São Paulo que enviaram para os cofres do Master mais de R$ 218 milhões e, lamentavelmente, a prefeitura da minha querida Maceió, que aportou no mesmo banco R$ 117 milhões, também dinheiro dos aposentados, gerando uma crise no Instituto Municipal de Previdência.
Ou seja, o Banco Master lavou dinheiro para muita gente rica. Portanto, há no caso um envolvimento político muito forte nessas transações, felizmente descobertas pela Polícia Federal. Como esses crimes atingem, principalmente, figuras de “colarinhos brancos”, deu-se, portanto, a revolta contra a PF e veio, obviamente, o emissário paulista para se livrar da instituição que tanto incomoda os interesses da Farias Lima,das Fintechs e, claro, das elites.
Para essa gente, que costuma dizer que bandido bom é bandido morto – desde que os corpos estendidos no chão sejam de moradores pretos e pobres das favelas do Brasil – afastar as operações policiais do seu entorno é missão determinada. E dessa forma, quando flagrados no crime, passam a fazer o silêncio sepulcral. Como se nada tivesse acontecido. Ficou clara a necessidade de autoproteção.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

