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Danilo Molina

Jornalista, foi assessor do Ministério da Educação e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) durante o governo Dilma Rousseff e servidor do Ministério durante o governo Lula

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O PL do Veneno e as eleições presidenciais

O candidato tucano ao Planalto já deixou claro que defende o PL do Veneno, colocando , ao que parece, o interesse do agronegócio acima do proteção da saúde da população e do meio ambiente

O PL do Veneno e as eleições presidenciais (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
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Nem bem saiu do papel, a coligação tóxica entre tucanos e a bancada ruralista, tendo como vice da chapa uma líder parlamentar do agronegócio, já começa a mostrar a que veio. Em um dos primeiros atos públicos após o fim de semana das convenções partidárias, o candidato Geraldo Alckmin defendeu publicamente, nesta segunda-feira (6), o PL do Veneno, que libera a farra dos agrotóxicos nas lavouras brasileiras, com efeitos devastadores para a saúde e para o meio ambiente.

Conforme o candidato tucano, "não é Lei do Veneno. É Lei do Remédio". "Como os animais ficam doentes, as plantas também ficam doentes. Então, você precisa ter defensivos agrícolas para defender a planta", afirmou. A declaração do candidato omite que, na prática, o PL possibilita a entrada, no mercado brasileiro, de agrotóxicos que podem causar câncer, malformação em fetos, desregulação endócrinas, danos irreversíveis ao meio ambiente, entre outros.

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Não resta dúvida na literatura científica internacional quanto aos impactos dos agrotóxicos na saúde humana, seja em razão de intoxicações agudas ou dos efeitos crônicos, no meio ambiente e na própria agricultura. Por isso, o atual regulamento do setor prevê que um agrotóxico só pode entrar no mercado se comprovar eficácia agronômica, sem causar prejuízos ao meio ambiente e à saúde humana, depois de avaliação técnica dos órgãos das três esferas de governo.

Com o PL do Veneno, a bancada ruralista pretende esvaziar as competências e a atuação dos órgãos de saúde e do meio ambiente no controle e na regulação do uso agrotóxicos no país, delegando exclusivamente ao Ministério da Agricultura uma série de ações que são, hoje, exercidas pela Anvisa e pelo Ibama. Sob o falso argumento de morosidade na análise técnica do registro de agrotóxicos como impeditivo para o desenvolvimento do agronegócio, mesma tesa defendida pelo candidato tucano para justificar seu apoio a esse arbítrio, o PL chega a prever um mecanismo de registro automático de agrotóxicos, permitindo que sejam utilizados produtos que não passaram por qualquer avaliação.

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Prova mais recente do impacto desses produtos na saúde é o número divulgado pela Agência Pública, coincidentemente também nesta segunda-feira (6), de que cerca de 40 mil pessoas foram atendidas no sistema de saúde brasileiro após serem expostas a agrotóxicos nos últimos dez anos. Desse total, 26 mil foram diagnosticados com intoxicação aguda por médicos, o que corresponde a uma média de sete intoxicações por agrotóxicos por dia. Além disso, recente relatório da Human Rights Watch constatou a intoxicação aguda por agrotóxicos em sete localidades rurais do Brasil, incluindo escolas.

Ao praticamente excluir a Anvisa e o Ibama da regulação de agrotóxicos, o PL ignora o risco para a segurança dos alimentos e os efeitos nocivos que esses produtos podem gerar na saúde das pessoas e no meio ambiente. Também expõe, ainda mais, milhares de trabalhadores rurais e de pessoas que vivem ou trabalham nas imediações das áreas tratadas com agrotóxicos a agravos de saúde, muitas vezes, irreparáveis.

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É claro que o agronegócio e a agricultura familiar, setores estratégicos para o desenvolvimento nacional, não podem ficar à mercê do entulho burocrático e da lentidão dos órgãos públicos. Acontece que o tempo de análise de avaliação toxicológica de agrotóxicos por parte da Anvisa, maior crítica dos patrocinadores do PL do Veneno, é compatível com o de demais países do mundo, sendo de três anos para produtos de maior complexidade e de três meses para os de menor complexidade.

A distorção entre os prazos brasileiros e os prazos de outros países está no tempo em que os processos ficam parados na fila aguardando para começarem a ser analisados. Enquanto, os Estados Unidos dispõem de 750 funcionários para analisar processos de agrotóxicos, a Anvisa conta com pouco mais de 30 servidores. Nesse caso, a solução está na contratação e na capacitação de servidores e no aprimoramento dos marcos regulatórios do setor.

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A defesa do PL do Veneno vai na contramão do que tem acontecido nos países desenvolvidos, que se preocupam cada vez mais com a agricultura sustentável, que agrega valor ao produto por meio do uso de tecnologia no campo, do manejo integrado, do aperfeiçoamento do vazio sanitário e da priorização do uso de produtos fitossanitários de menor toxicidade.

Agrotóxicos são agentes químicos desenvolvidos com o objetivo de matar uma determinada praga e, por isso, sofrem forte controle do Estado em quase todos os países do mundo. É evidente que as plantas precisam de alternativas tecnológicas para serem cuidadas, mas a saúde das plantas não pode ser mais importante do que a saúde das pessoas e do meio ambiente.

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O candidato tucano ao Planalto já deixou claro que defende o PL do Veneno, colocando , ao que parece, o interesse do agronegócio acima do proteção da saúde da população e do meio ambiente. É preciso, agora, acompanhar a posição dos demais candidatos sobre esse tema, que é fundamental tanto para a saúde dos nossos filhos, quanto para a saúde do tomate e do pimentão.

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