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Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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O "Plano Cohen" de Marçal

"Sempre traiçoeiro, escolheu a antevéspera para detonar a 'bomba'", avalia Alex Solnik

Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YouTube/Roda Viva)

No dia 1 de outubro de 1937, os jornais acordaram os cariocas com manchetes dramáticas. 

Em letras garrafais, gritavam que o Estado Maior do Exército havia apreendido um documento com instruções do Komintern para os comunistas brasileiros derrubarem o governo Getúlio Vargas. 

Dentre outras ações, deveriam ser promovidos saques e depredações na capital da República, a fim de incendiar o país. 

Em poucas horas instalou-se um clima de pânico. Os adultos, ansiosos por notícias, se aglomeravam nas bancas de jornal. A consternação era geral. 

Os cidadãos mais apavorados corriam para deixar as crianças em segurança, dada a lenda de que comunistas comiam criancinhas. 

Lojistas baixaram as portas, temendo a iminente invasão vermelha. Fábricas mandaram os empregados para casa. As aulas foram suspensas. 

Os deputados, também assustados, nem pestanejaram para aprovar, em alguns minutos, o estado de guerra solicitado por Getúlio. Tropas foram enviadas para o Rio Grande do Sul, por onde, supostamente, o país seria invadido.  

Dez dias depois, sem que um só comunista fosse preso, sem saques e sem depredações, Getúlio fechou o Congresso Nacional, acabou com os partidos e decretou o Estado Novo.

Somente com o fim da ditadura, em 1946, o país ficou sabendo que o “Plano Cohen” - atribuído a um judeu de sobrenome Cohen - era mais falso que um esquimó de bermudas. E mais: foi elaborado não em Moscou, mas no Rio, por ordem de Getúlio, pelo capitão integralista Olímpio Mourão Filho, como pretexto para o golpe de Estado.

Nem o falsário nem o mentor da falsificação jamais foram punidos, seja pela Justiça, pelo Exército ou pela população. Getúlio foi eleito presidente pelo voto popular em 1950 e Olímpio comandou o golpe militar de 1964. 

O prontuário comprovadamente falso, elaborado por um médico já morto, por ordem de Pablo Marçal, no qual Boulos aparece como usuário de cocaína, é apenas uma pequena amostra do que Marçal é capaz para vencer a eleição. 

Experiente na vida delinquente, ele sabe que a pena para esse crime é branda - dois anos e pouco, sempre transformados em prestação de serviços comunitários - e o processo é vagaroso. Sempre traiçoeiro, escolheu a antevéspera da eleição para detonar a “bomba”, quando não há mais debates, nem horário eleitoral e nem tempo para o “acusado” rebater a calúnia.   

Marçal plantou a dúvida na cabeça do eleitor, o que é o bastante para Boulos perder votos dos que temem mais as drogas que o fogo do inferno. 

Quando a Justiça proclamar que o prontuário é o Plano Cohen de Marçal, será tarde demais.

E, de mais a mais, o Plano Cohen, embora criminoso, deu certo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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