O PMDB na margem de erro

O governo Michel Temer não conseguiu resolver o maior problema dos brasileiros: o desemprego. A queda da inflação, a sociedade sabe, deveu-se à falta de postos de trabalho e as suas consequências sobre a renda e o consumo.

Ao contrário do que se esperava da gestão de um partido de centro, por uma década aliado a um partido de esquerda, ofertou-se à ansiedade das classes C, D e E a insistência em reformas impopulares, cuja necessidade deveria, pelo menos, ser alvo de ampla discussão nacional.

De que adianta tratar bem parlamentares, prefeitos e governadores se, em seguida, eles são sempre sacrificados como portadores de más notícias aos mais pobres, trabalhadores e para a classe média?

Impressionante que, com toda a governabilidade que ainda possui, o governo do maior partido municipalista do País não tenha conseguido sequer fazer uma gestão à semelhança do peemedebismo.

Pelo menos no Norte e no Nordeste, as lideranças do partido tem a marca de realizadores de obras, que geram empregos, e políticas que sempre foram denunciadas pela grande imprensa como assistencialistas, mas, sim ou não, atendem aos mais pobres.

Ao PMDB seria bastante útil refletir se valeu à pena não ter bancado a posse de Lula na Casa Civil, ao invés conduzir a fórceps a deposição da ex-presidenta Dilma Rousseff.

O resultado está aí...Impopularidade, desgaste, fuzilamento quando poderiam ter seguido como base fundamental da aprovação do Bolsa-Família, do Programa de Aceleração do Crescimento, do Luz Para Todos e outras políticas, seja no Congresso Nacional, seja nos ministérios.

A maioria do partido foi Iludida por uma conversa de que nas gravações de Lula, ilegalmente divulgadas pelo juiz Sergio Moro, o ex-presidente não teria dito nada sobre o Brasil, mas apenas sobre sua própria defesa.

O partido mediador e estabilizador se perdeu em múltiplas guerras campais.

E agora, quando o ex-presidente Lula aparece liderando as intenções de voto para 2018 em todos os cenários, inclusive de segundo turno, porque há saudade dos tempos de prosperidade, e a sociedade se inclina para a centro-esquerda, qual caminho o PMDB seguirá?

Vai com Bolsonaro, Doria Jr., Marina Silva, Joaquim Barbosa, quiçá Sergio Moro ou Rodrigo Janot, as finas flores da antipolítica?

Vai dobrar a aposta malfadada numa agenda de reversão de direitos e redução de políticas e serviços públicos ?

Vai ensaiar uma candidatura própria, cujo cabo eleitoral seria um governo com a maior rejeição da história recente, justamente por causa daquela agenda?

Depois de governar o Brasil vai liberar cada estado para apoiar o candidato presidencial que mais lhe apetecer, pulverizando votos em favor da antipolítica?

Antes disso, vai torrar o capital político que ainda lhe resta, sobretudo de suas lideranças estaduais, ou embarcar numa saída política que deixe para trás a atual situação de Michel Temer e do sistema democrático, como, por exemplo, antecipar as eleições para que se construa a cena de uma Assembléia Nacional Constituinte, para que todas as percepções sociais possam acertar suas contas e refazer o pacto nacional?

O fato do ex-presidente Lula, segundo as pesquisas, levar no segundo turno revela que há uma parcela importantíssima do País que, mesmo não sendo petista, lulista, de esquerda e sequer veja lá muito sucesso na obra social dele (bem pelo contrário), não deseja entregar o governo a um aventureiro e, menos ainda, deixar o Brasil à mercê da vontade da outra parcela da sociedade de embarcar numa aventura, como é o até onde chegou a atual crise política, econômica e institucional.

Qual será a escolha do PMDB nacional, do Norte e Nordeste agora e no futuro imediato?

A margem de erro desta decisão é tão pequena quanto a que separa Temer da mínima aprovação da nenhuma.