O povo, a psicopata e o pintinho amarelinho

Uma canção do grupo Titãs, sucesso nos anos 1980 já dizia: “A televisão me deixou burro demais”. Hoje, já no ano 2000, podemos constatar três coisas. A primeira é que a letra da música continua bem atual. A segunda é que aquela geração era bem mais inteligente e criativa do que a de hoje. E a terceira é que a televisão continua deixando muita gente burra demais.

Essa semana, tivemos o retorno de Gugu Liberato, aquele do pintinho amarelinho, a TV Record e logo na sua reestreia ele nos oferece uma taça de veneno. Aliás, tudo que a nossa televisão, de um modo geral tem nos oferecido nos últimos tempos é veneno. Cicuta da melhor qualidade e com o mais alto poder de destruição. Seja moral ou psicológica. Um tipo de veneno que invade o cérebro e faz com que o certo se torne errado e vice-versa. Que faz com que enxerguemos os mocinhos como bandidos e vice-versa.  Que faz com que acreditemos que na época do governo dos tucanos tudo era um mar de rosas, nos induzindo assim a clamar por um impeachment que resolveria de forma mágica todos os problemas do país. Ah! Essa televisão....

Mas o que mais estaria por detrás dos interesses de algumas emissoras que manipulam a informação de maneira covarde e mambembe? Por que a programação de quase todas elas segue o mesmo padrão de alienação popular, distorção dos fatos e circo dos horrores? Citei o retorno do Gugu a TV para falar sobre a grande personalidade nacional que foi a principal atração do seu programa de estreia. A meiga, pura e angelical Suzane Von Richthofen. Eu gostaria de saber qual é o interesse dos telespectadores em deixar entrar em seus lares a imagem de uma figura tão repugnante e negativa quanto a atração em questão? Eu não tenho nenhum interesse em saber o que anda fazendo ou o que deixa de fazer essa figura. Talvez você também não. Mas é interessante para a televisão colocá-la dentro da sua casa, ainda que seja goela abaixo. Seria uma forma de nos habituar a conviver com assassinos e psicopatas e com suas desculpas e justificativas esfarrapadas para os crimes que cometem? No caso da loirinha diabólica nem isso se viu. Nem um falso arrependimento ela tentou transmitir. O que se viu foram sorrisos, caras e bocas para a câmera e demonstrações de amor e carinho entre ela e sua nova paixão. Ou seria sua nova comparsa? Sandrão é a graça da atual companheira da menina Suzane. Pelo sufixo aumentativo do nome já dá para se ter noção da doçura que envolve esse ser.

E você na frente da telinha assistindo a duas criminosas, uma delas psicopata da pior espécie, que deveria estar incomunicável se o nosso sistema prisional fosse sério, sendo entrevistadas como se fossem atrizes vencedoras de um Oscar. Nem parece que elas mataram alguém. A impressão que se tem é que elas estão apenas cumprindo punição sócio educativa em um reformatório para moças por terem furtado bombons nas Lojas Americanas. Pelo tom amistoso da entrevista e pelas imposições que dizem que foram feitas pelas duas beldades para concedê-la, não duvido que daí surja uma nova dupla artística musical. Sandrão e Suzane. As musas do sertanejo presidiário. É como diz o título de outro programa: “Tudo pela audiência”. Pela nossa audiência. Ou pelo nosso mau gosto na escolha da programação que assistimos. Há um tempo o Ratinho foi criticado, e muito bem, diga-se de passagem, por ter levado o também assassino e psicopata Guilherme de Pádua em seu programa.

Se Ratinhos e pintinhos amarelinhos com seus sensacionalismos ainda cabem na programação, a nossa indignação e revolta com o que vemos e com o que anda acontecendo no país não cabe mais dentro do peito. Será que ainda somos tão inocentes a ponto de não percebermos o que está por trás de boa parte de nossa programação televisiva? Será que somos tão inocentes a ponto de acreditarmos nessa onda de ataques ao governo e creditarmos apenas ao PT tudo o que de mal vem acontecendo no Brasil? Então foi o PT que instituiu a corrupção no país? O PT é apenas tão culpado quanto os outros partidos que estiveram no poder. É muita manipulação de informação. É muita distorção de fatos.

A verdade é que nós também somos feito ratinhos e pintinhos de todas as cores e cabemos direitinho nas mãos de quem detém o poder da informação.