O preço da obediência: como o lobby sionista ameaça engolir o Partido Democrata
A subserviência à agenda pró-Israel pode custar aos democratas sua base jovem, progressista e crítica à ocupação da Palestina
O Partido Democrata dos EUA vive uma encruzilhada histórica. De um lado, enfrenta o avanço do trumpismo e da extrema-direita. De outro, vê sua base progressista, jovem e diversificada se distanciar diante da crescente submissão do partido ao lobby sionista. O episódio mais recente — e simbólico — dessa crise foi a derrota de Kamala Harris nas prévias eleitorais. Marcada por seu silêncio frente ao genocídio promovido por Israel em Gaza, Harris perdeu apoio em setores decisivos da juventude universitária, do eleitorado árabe-americano e de organizações progressistas que antes se alinhavam ao campo democrata.
Durante um evento organizado por Bernie Sanders, ativistas pró-Palestina foram violentamente retirados da plateia. Nenhuma liderança democrata protestou. Nenhuma palavra de solidariedade foi dita. A omissão, como destaca o Monitor do Oriente, reforçou a percepção de que até mesmo vozes dissidentes dentro do partido estão rendidas à lógica de silenciamento imposta pelo lobby sionista nos Estados Unidos.
A força desse lobby é mensurável. Organizações como o AIPAC (American Israel Public Affairs Committee) e o PAC United Democracy Project gastaram mais de US$ 30 milhões nas eleições de meio de mandato de 2022, majoritariamente contra candidatos democratas considerados "críticos de Israel". Ou os democratas alinham-se incondicionalmente à narrativa israelense, ou perdem apoio financeiro, cobertura positiva da mídia corporativa e, em última instância, a competitividade eleitoral.
Paradoxalmente, a maioria da opinião pública americana está mudando. Uma pesquisa Gallup de 2024 mostrou que menos da metade dos norte-americanos hoje é simpática a Israel, o menor índice em décadas. A base jovem do Partido Democrata é majoritariamente crítica à ocupação e apoia abertamente os direitos do povo palestino. Mas a cúpula do partido parece surda a essa mudança.
Segundo análise do Institute for National Security Studies, o dilema dos democratas é evidente: romper com a dependência do lobby sionista é arriscado, mas manter-se refém dele pode ser suicídio político no médio prazo. Se o Partido Democrata não tomar posição clara em defesa dos direitos humanos, da autodeterminação Palestina e contra os abusos de Israel, arrisca perder sua alma progressista e com ela, sua relevância política. O trumpismo agradece.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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