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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O projeto macabro de Osmar Terra

"Osmar Terra era aluno de mestrado de neurociência da PUC/RS e pretendia investigar o cérebro de 50 adolescentes que haviam cometido homicídio. A comunidade científica gaúcha conseguiu impedir que o plano fosse levado adiante pelo estudante e então secretário da Saúde do Estado", escreve o jornalista Moisés Mendes

(Foto: José Cruz/Agência Brasil)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

Osmar Terra, o bolsonarista sempre a postos, agora cotado para substituir Luiz Henrique Mandetta, poderia retomar, com a autoridade de ministro da Saúde, um projeto macabro de 2008.

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Terra era aluno de mestrado de neurociência da PUC/RS e pretendia se consagrar como aprendiz de cientista. Iria investigar o cérebro de 50 adolescentes que haviam cometido homicídio. A comunidade científica gaúcha conseguiu impedir que o plano fosse levado adiante pelo estudante e então secretário da Saúde do Estado.

O objetivo da pesquisa era identificar o que havia de errado no cérebro dos adolescentes. Em resumo, queria confrontar os pesos de fatores genéticos, neurobiológicos, psicológicos e sociais no acionamento de atos violentos. O foco era a neurociência.

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Os pesquisados seriam selecionados entre internos da Fase, a antiga Febem gaúcha, onde estão encarcerados os menores infratores. Os exames envolveriam ressonância magnética, amostragens genéticas e outros recursos das ciências sociais.

Terra foi bombardeado e desistiu. Por que pretendia fazer a pesquisa com adolescentes pobres? Por que só com eles? Por que tentar vincular miséria e violência a fatores genéticos e neurológicos, mesmo que com a desculpa de que questões sociológicas e ambientais seriam examinadas?

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Que benefício a pesquisa poderia oferecer, se não poderia ser confrontada, por exemplo, com nada semelhante com exames das cabeças de filhos de ricos e da classe média?

Psiquiatras, psicólogos, médicos, psicanalistas, gente de todas as áreas da saúde carimbaram a ideia de Terra com uma dúzia de definições desqualificadoras. Seria preconceituosa, racista (a maioria dos apreendidos da Fase é de negros e pardos), eugenista, estigmatizante, criminosa, ilegal, reducionista e científica e eticamente insustentável.

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Terra recuou – com outros dois professores que o orientavam – diante da avalanche de críticas e de um manifesto assinado por nomes de peso da comunidade científica gaúcha, e a pesquisa foi engavetada. Prevaleceu a reação dos que os acusavam de se dedicar a um experimento com meninos pobres como se fossem animais de experimento em laboratório.

Alguém sugeriu que Terra e seu grupo pesquisasse os cérebros de meninos brancos e bem-nascidos, que nunca são apreendidos e recolhidos ao encarceramento para menores, e assim permitisse um confronto. Poderiam fazer descobertas óbvias sobre a violência desvinculada de fatores como miséria, fome e abandono do Estado.

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Esse é o médico que agora contesta alguns dos maiores infectologistas do mundo sobre como enfrentar a pandemia.

Que estabeleceu uma guerra moralista com os que tentam amenizar o sofrimento de doentes com a ajuda do uso medicinal de substâncias da maconha.

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Que retirou 1 milhão de mulheres e seus filhos do Bolsa Família.

Que espalha fake news com dados e análises grosseiras e falsas sobre o coronavírus nas redes sociais.

E que tenta, com o diploma de formado em medicina, dar ‘base científica’ a tudo o que diz.

Quando secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, no governo de Yeda Crusius (2007-2011), Terra era o único secretário da área de todo o Brasil que escondia os números da aplicação de recursos estaduais em saúde pública.

Na época, o portal do Ministério da Saúde exibia números e percentuais orçamentários de todos os Estados, menos do Rio Grande do Sul.

Esse é o médico que tenta convencer Bolsonaro a levar seu reacionarismo extremo e sua política de transparência para a guerra à pandemia e para a saúde pública.

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