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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O projeto que Eduardo Leite construiu até chegar ao golpe em Doria

"Leite é o melhor exemplar do neoliberalismo no poder no Brasil. É moço, tem vitalidade e ambição, vendeu o que queria no Estado", escreve Moisés Mendes

(Foto: Reprodução/Youtube)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

Eduardo Leite prepara-se para o segundo turno das prévias no PSDB, que pretende arquitetar e vencer como golpe. Será um golpe inédito contra um colega governador e colega de partido.

Leite será um golpista também inédito pelo poder que não tem. Poucos brasileiros apostam nele como candidato a presidente (só 1%, segundo o Datafolha) e a maioria da parceria na política o vê com desconfiança. Mas é o que há no momento como possibilidade de surpresa.

Leite não deve estar sendo levado a sério nem pelos que ele e Aécio Neves pretendem chamar para o seu entorno, MDB, União Brasil e Cidadania, na tentativa de aglutinar o que ainda seria a terceira via.

O que esses supostos futuros aliados já devem saber é que mais do que a racionalidade da mitologia da política gaúcha o que move o moço é o impulso para a frente. Quem o conhece sabe que ele achou que venceria Doria nas prévias, e com certa facilidade.

Mesmo os que não o conhecem direito sabiam que, derrotado, não se contentaria em ser militante do tucano paulista.

E desde a vitória de Doria pelo menos metade do Rio Grande do Sul desconfiava que ele tentaria ser candidato de qualquer jeito.

Leite fracassou na tentativa de se oferecer ao PSD de Kassab, recuou e fica no PSDB como se o partido fosse um brete inevitável, com Doria à sua frente.

Chega ao cenário nacional com um projeto pessoal obsessivo, que os moradores de Pelotas, onde foi prefeito, conhecem bem.

Circula há muito tempo na cidade, e não é lenda, que ele pretendia saltar dali do sul gaúcho direto para uma candidatura a presidente. Sem passar pelo desgaste de ser governador de um Estado com o setor público quebrado.

Chegaria aos 35 anos, idade mínima para ser candidato ao Planalto (tem agora 37), e se apresentaria, no deserto do conservadorismo, como novidade terrivelmente sedutora. Um ungido pelos deuses da direita.

Leite tem um desafio que parece não lhe custar quase nada como risco político, até porque é muito jovem. Já fora do governo, liberado para fazer a pré-campanha, vai para a estrada.

Se tirar os 3% de Doria, dá o golpe que Aécio planeja e força a derrubada do candidato tucano. Se avançar um pouco mais nas pesquisas, estará pelo menos habilitado a piscar o olho para os outros partidos.

Se chegar perto dos 8% de Sergio Moro, empurra o ex-juiz suspeito para o valo e cresce como alternativa de quase toda a direita hoje sem pai nem mãe.

Leite faz uma aposta previsível. Pretende avançar no eleitorado de Moro, Ciro e Doria, impedir que Simone Tebet seja competitiva, tirar alguma coisa de Bolsonaro e acrescentar algo mais dos indecisos, para que a soma da terceira via passe dos 22%. Vai investir nos jovens e nas mulheres.

Se não der certo, se não conseguir nem mesmo tirar Doria do jogo, poderá ter somado experiência, visibilidade e capacidade de combate.

E terá muitas eleições pela frente, se conseguir se cacifar como novo líder de um PSDB hoje sem dono e com ninhos caindo aos pedaços.

Mas há um problema seguido de outros probleminhas. Está marcado como o oportunista que aderiu ao bolsonarismo em 2018 para se eleger e formar um governo com participação da extrema direita gaúcha.

Tem tatuagem de mau perdedor, ao decidir passar a perna em Doria, ao invés de se engajar à sua campanha, como havia prometido.

E ganhará outra marca como golpista fracassado, se não conseguir tirar à força a candidatura do governador paulista à presidência.

Leite é o melhor exemplar do neoliberalismo no poder no Brasil. É moço, tem vitalidade e ambição, vendeu o que queria no Estado, abriu a porteira para a boiada que não liga para normas ambientais.

Precarizou salários e relações com servidores públicos e se firmou como um político de direita que não consegue convencer com o disfarce de social-democrata, que ele diz ser.

Leite é esquemático, faz reflexões com a empostação do senso comum, é quase sempre básico ao abordar temas complexos e tem voz e jeito de personagem do Brasil Império.

O tucano que pretende aglomerar a terceira via não passa naturalidade e fidelidade, nem ao PSDB, nem aos colegas de partido.

Mas tudo isso pode ser virtude no Brasil de hoje. Se nada der certo nessa empreitada, na última hora ainda poderá ser candidato a deputado ou senador.

O hino gaúcho diz, pretensiosamente, que o Rio Grande do Sul é "modelo a toda Terra". Leite é o modelo que temos para o momento para a direita em desalento.

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