O quase-herói

O Quase-Herói é quase porque não chega a semideus. É, sem dúvida, um indivíduo notabilizado por suas realizações.

Costuma ser reconhecido por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade. Em muitos casos, recebe inúmeras homenagens, virando ainda mais o centro de atenções. Acontece que o Quase-Herói promove boa parte de suas ações, não necessariamente por desprendimento, ou em nome da justiça, mas por pura vaidade.

Parece haver uma necessidade interna muito potente nesses tipos de serem vistos como paladinos de causas nobres. Tanto é que podemos encontrá-los facilmente se folhearmos abaixo-assinados. Em especial, os que incluem chamamentos urgentes da sociedade. Encabeçando esses documentos, com certeza, estarão um ou mais Quase-Heróis.

O Quase-Herói se alimenta, além de notoriedade, da impressão alheia de que ele é irreprochável. Se há uma demanda social qualquer em que é preciso colaborar, a fim de que se dirima uma injustiça, uma parcialidade, lá estará o Quase-Herói de caneta, megafone ou câmera do celular na mão, dependendo do caso.

Não há nada que aborreça mais um Quase-Herói do que não ter aderido a um litígio por falta de informação de sua assessoria. É quando cabeças rolam em seu staff. Porque é premente abraçar todas as questões mobilizadoras. Se possível, não apenas as de âmbito nacional, mas as de todos os rincões do planeta.
Como em todos os setores, há Quase-Heróis e Quase-Heróis com “Q” maiúsculo. Quem excede suas qualificações são os que, além de viverem batalhando por dezenas de pleitos elevados, ainda criam os seus próprios combates. Tais ações, contudo, precisam ser grandiloquentes. Não adianta apenas gerar um abaixo-assinadozinho online. É necessário instigar, estimular massas de indivíduos a abraçá-las e aplaudi-las.

O céu nunca é o limite para o ególatra. Não basta, por exemplo, a uma celebridade ser tratada como uma odalisca. Será preciso muito mais gente arrulhando em seus ouvidos que a deusa Atena é sua madrinha de batismo. Sem isso, garante o Quase-Herói, é melhor viver no anonimato.

Por outro lado, um Quase-Herói é como um criminoso. Uma vez no mundo do banditismo, não há mais como retornar ao plano dos honestos. Ameaçar que pode se tornar um homem invisível é só chantagem, e mimimi, para continuar gozando de fama e idolatria.

O Quase-Herói pode ser identificado com relativa facilidade em festas. Festas privadas, diga-se. Um Quase-Herói nunca será avistado em locais que não sejam de caráter reservado, a não ser em grandes manifestações populares. E sempre de longe.

Nessas reuniões fechadas, o Quase-Herói é aquele que fala mais alto, não deixa os seguidores darem sua opinião e sempre têm uma versão melhor para as histórias que os convivas estão narrando. Em outras palavras, o Quase-Herói, não fosse pelo bem que faz à humanidade, seria um Quase-Chato.