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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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O que afinal é “bancarização” e “financeirização” da economia

O passo mais audacioso para a "financeirização" ocorreu quando o governo decidiu estimular a "bancarização", com a transformação dos pobres em clientes dos bancos. Isso aconteceu principalmente mediante o chamado "crédito consignado"

O que afinal é “bancarização” e “financeirização” da economia (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
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Você provavelmente já viu falar em "financeirização" da economia. Muito provavelmente ninguém lhe explicou o que isso significa exatamente. Não darei uma explicação acadêmica, não é preciso. Darei alguns exemplos tomados ao acaso. Antes disso, é importante saber o que é "bancarização", pois este é um dos instrumentos principais para que o grande capital financeiro promova a "financeirização" da economia, isto é, como ele faz para apanhar em sua vasta malha toda a sociedade, inclusive os pobres e os muito pobres.

"Financeirização" é o processo pelo qual todas as relações econômicas passam pela intermediação bancária, rendendo juros para os banqueiros. Para que isso seja possível, o máximo de pessoas numa sociedade deve ter conta em banco. Daí, a "bancarização". Na origem, quando os bancos comerciais, criadores de moeda, tinham como principal função transformar poupança de uns em empréstimos para outros, os depósitos da clientela não eram remunerados, e os bancos não tinham razões para cobrar por serviços de intermediação.

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Aconteceu então que os protetores mundiais dos bancos privados, o FMI e o BIS, passaram a recomendar sistematicamente que os bancos remunerassem seus depósitos à vista. Com isso, eles se sentiram à vontade para cobrar também por serviços. Supostamente para remunerar esses depósitos, o que parece muito interessante para os depositantes (no Brasil, over). Mas vá agora mesmo a uma caixa automática de banco e veja quantos "serviços" são cobrados, da simples transferência eletrônica de dinheiro para outros bancos até a retirada de extratos, tudo eletronicamente, sem interferência de gente, e mais do que compensando os custos eventuais dos depósitos à vista.

Qualquer operação é oportunidade para os bancos cobrarem por serviços. Inclusive para operações especulativas no mercado financeiro. Com isso a atividade bancária principal, converter depósitos em investimento real de curto e médio prazo, está desaparecendo. Isso é visível nos balanços bancários, especialmente no Brasil, onde o Banco Central e os governos permitiram uma tremenda concentração bancária e praticamente não há concorrência entre eles. Cobram o que querem, e o Banco Central capturado por eles olha de longe.

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O passo mais audacioso para a "financeirização" ocorreu quando o governo decidiu estimular a "bancarização", com a transformação dos pobres em clientes dos bancos. Isso aconteceu principalmente mediante o chamado "crédito consignado". Apoiado no desconto em folha, ele permite a concessão ao cliente de uma conta bancária e de empréstimos praticamente sem risco. Os juros acumulados podem chegar a 40% de um vencimento, dependendo do prazo. E como as prestações do empréstimo são sacadas compulsoriamente dos vencimentos, o cliente do consignado acaba quebrando em outras obrigações.

O "crédito consignado" é uma das maldades do capitalismo que espantam pelo excesso. Aproveita-se da desinformação e da piedade de quem pensa que "bancarização" é uma vantagem para os pobres. Não fora o sistema bancário brasileiro o mais especulativo do mundo, seria possível imaginar um sistema "consignado" a juros de 0,1% ao mês, de caráter quase concessivo. Entretanto, o Banco Central – o mais independente banco central do planeta, a serviço exclusivo dos bancos privados – ignora essa situação e abdica de sua função reguladora do sistema financeiro.

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Por outro lado, temos a "desbancarização" assistida pelo Banco Central. Informatizados, providos de todos os recursos da telemática e da automação, os bancos brasileiros odeiam a relação pessoal com a clientela, pois isso requer a mediação de empregados, que para eles é custo. Com isso se livraram das contas por serviços reais a não clientes – eletricidade, gás, telefone, internet etc – e os repassaram às lotéricas, repassando também as filas. Isso pode se chamar "desbancarização" seletiva, para se livrar do peso de ter que ter muitos empregados.

Mas há a "bancarização" reversa, isto é, a "bancarização" induzida pelos grandes grupos, sobretudo na área dos planos de saúde, para pagamentos das mensalidades. Uma vez bancarizadas as prestações mensais, o cliente torna-se escravo do conluio entre banco e plano de saúde, sob suave supervisão da agência reguladora. Isso acontece sobretudo nos planos coletivos, nos quais aparece um quarto intermediário, a empresa ou ente instituidor. Nesse caso a "financeirização" aparece nos momentos de imposição de reajustes anuais geralmente exagerados, fora de qualquer controle, pois o instituidor entra em conluio com o plano e aceita o reajuste que impõe.

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Sob essa pirâmide de quatro agentes intermediários, que no fundo não valem por um, o cliente ou paga as prestações absurdas, ou abandona o plano. Nesse caso, é justamente isso que querem os administradores do plano. Livrar-se de um idoso ou de uma idosa que pagaram suas prestações, religiosamente, por décadas é um bom negócio. Eles não representarão mais o risco saúde para frente. E certamente não encontrarão alternativa de inscrição a outro plano no mercado, a preços compatíveis, justamente por serem idosos. Idosos "banqueirizados e financeirizados".

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