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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O que é racismo estrutural no Brasil?

Sociólogo Emir Sader diz que o racismo uma prática constitutiva do Brasil como país. "Vem de sua história, de sua configuração social, do enraizamento em sua prática cotidiana. O combate à desigualdade no Brasil é, antes de tudo, assim, o combate ao racismo", avalia

(Foto: Tania Rego/Agência Brasil)
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Parece haver consenso de que existe um racismo estrutural no Brasil. O país é o modelo do país escravista no mundo. Por pelo menos três séculos, os trabalhadores brasileiros foram milhões de negros trazidos da África para serem escravos. Assim, ao mesmo tempo, tanto o negro quanto o trabalho, considerado uma atividade menor, exercida pelos negros como escravos, foram degradados.

No Senegal existe uma ilha, a ilha da Goreia, onde se concentravam os negros, classificados entre homens, mulheres, crianças, doentes, como se fosse um açougue, antes de passarem por uma porta - a porta do adeus -, quando tinham a última visão do seu país. Antes de entrarem nas porões dos navios negreiros, para uma longa viagem ao Brasil, na qual morreria grande parte.

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Eles trabalhavam em média nove anos, era mais fácil e barato trazer mais escravos do que cuidar dos doentes. Eles foram trazidos por mercadores europeus, para trabalhar como uma raça inferior, como escravos, para produzir riqueza para os europeus.

O Brasil foi o último país da América a acabar com a escravidão. Em outros países do continente, quando foi proclamada a independência, foi introduzida a república, onde, legalmente, todos são iguais diante da lei e, portanto, a escravidão terminou.

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O Brasil passou da colônia monarquia e não a república. O monarca português colocou a coroa na cabeça do filho, dizendo: "Meu filho, põe a coroa na tua cabeça, antes que qualquer aventureiro o faça". Aventureiro foi Tiradentes. Aventureiros foram San Martin, Bolívar, Sucre, O’Higgons e outros heróis da independência em outros países latino-americanos.

Em meados do século 19 foi criada uma Lei de Terras, que legalizava todas as terras do país, em grande medida pela grilagem. Assim, quando, no final do século 19, a escravidão acabou oficialmente no Brasil, os escravos tornaram-se homens livres, mas sem terras. Livres, mas pobres.

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A questão colonial está assim ligada, no Brasil, à questão racial e à questão social. Isso dá a particularidade da história brasileira entre os países do continente. Isso produz o racismo como fenômeno estrutural no Brasil. Por pelo menos três séculos, os negros foram oficialmente uma raça inferior, sem liberdade, que trabalhava para os outros, para os brancos.

O fim oficial da escravidão não acabou com o racismo. Ao contrário, saiu a escravidão, mas deixou o racismo, a discriminação, a segregação e a exclusão social. Os negros são a maioria da população brasileira - cerca de 54% -, são, em sua maioria, pobres. Hoje 2 de cada 3 dos 14 milhões de desempregados são negros.

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Um juiz considerou recentemente que os crimes raciais não deveriam ser caracterizados como racismo. Ou seja, as expressões cotidianas que desqualificam os negros, das quais a internet apresenta exemplos abertos de homens ou mulheres brancos ofendendo negros, não deveriam ser classificados como racismo, um crime inafiançável pela constituição brasileira.

Quando não é só no tratamento dado aos negros, mas também na forma como são chamados, como são ofendidos, desqualificados, que o racismo estrutural e cotidiano se expressa no Brasil. São inúmeras as palavras, expressões e formas de tratá-los de forma depreciativa, que reforçam, o racismo estrutalmente enraizado na sociedade brasileira.

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É algo constitutivo do Brasil como país, vem de sua história, de sua configuração social, do enraizamento em sua prática cotidiana. O combate à desigualdade no Brasil é, antes de tudo, assim, o combate ao racismo.

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