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Jair Antonio Alves

Dramaturgo

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O que o PT não fez?

Mas enfim, o que PT deixou de fazer? Em primeiro lugar ouvir os artistas, jornalistas, poetas, umbandistas e, quem sabe, até Caetano Veloso e os Titãs. Há uma “revolução” ainda a ser feita. O melhor é imediatamente, antes que seja tarde demais

***FOTO EMBARGADA PARA VEÍCULOS DE RS E SC*** PORTO ALEGRE, RS. 15.12.2012: PT/DIRCEU - O ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu partcipou de evento do Partido dos Trabalhadores na manhã deste sábado no salão da igreja Pompeia, em Porto Alegre. Ovaci (Foto: Jair Antonio Alves)
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Com toda a certeza não abriu contas no exterior, para “camuflar” dinheiro recebido ilicitamente. Contra ele, no entanto, tudo foi feito para desacreditá-lo tendo como alvo sempre os seus expoentes ou, dependendo das circunstâncias, quem ocupava momentaneamente cargos na administração publica petista. Sobram exemplos da imprensa, feroz e lasciva, à cata de um deles em busca de um deslize. A prova mais contundente, na visão da tropa de choque que hoje habita o Planalto e as redações dos grandes veículos de Comunicação, é que não importa quem sejam ou ainda defenda um governo popular; o que não pode acontecer é um partido que surgiu da “vanguarda operária” dos anos setenta e oitenta assumir e exercer o poder nas artérias mais vitais da república. Mas não é esta a questão - no que o PT errou, como a polêmica aguçada nos últimos dias?

O que se pergunta é o que o Partido dos Trabalhadores Não Fez de fundamental e que, agora, está fazendo muita falta? Uma política de Comunicação à altura de todas as transformações da sociedade brasileira, na última metade do século. Se escolhermos, hoje, um cineasta competente (e o Brasil tem muitos) e entregar a ele a incumbência de rodar um documentário resgatando a produção intelectual, artística e jornalística a respeito do final da década de sessenta, ficaremos assustados (essa é a palavra mais adequada) com o resultado. Não só com o que já se produzia, mas, posteriormente o que se produziu analisando os feitos de então. Lembramos aqui a Revolução Brasileira de Caio Prado Jr, uma espécie de “livro de bolso” de qualquer jovem revolucionário da época sem contar, O Rei da Vela (Teatro Oficina), Música Popular Brasileira, Poesia Concretista, Artes Plásticas, Tropicalismo e todo o Cinema Novo. Na categoria inventário 68 – o livro “1968 o Ano Que Não Acabou”, de Zuenir Ventura.

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É espantoso, sim, que com a entrada do Regime Democrático, a partir da Constituição de 88, estas vertentes não tenham sido desenvolvidas, servindo de sustentação à política e à cultura para a efetivação das mudanças sociais e econômicas, alinhavadas nos programas partidários - a começar pelo próprio PT. O desejo de seus mentores também existiu e até se proliferou, ao seu modo, mas ficou só o desejo. Na prática os artistas, intelectuais livres e pensadores foram relegados ao plano dos “simpatizantes”. Voltemos, então, há trinta anos.

Às portas da eleição para a Constituinte (86) fui apresentado por José Dirceu ao jornalista Jorge Batista, um ex-combatente, líder dos estudantes em seu estado (Minas) e figura de destaque na esquerda brasileira. Praticamente não o conhecia, apesar das afinidades ideológicas da Primavera de 68. Jorge (vinte anos após) saia como candidato federal pelo PT, fazendo uma “dobradinha” com JD, em São Paulo. Nossa aproximação se intensificou rapidamente, a partir da apresentação de uma peça minha “Constituinte e a tua Mãe”, representada no Teatro de Arena, em São Paulo. Ele trazia a tiracolo um projeto, na verdade um rascunho do que seria um “Programa de Democratização dos Meios de Comunicação”. Em torno dele (como apoio), vários jornalistas e comunicadores da maior importância na história da imprensa brasileira. Como sempre, os grandes temas são sabotados/abortados pela adesão quase sempre bem intencionada de outros, sem a mesma qualificação. Na disputa cerrada e difícil, dentro do partido, Jorge enfrentou a concorrência de outros candidatos e candidatas, com vertentes que nada tinham a ver com o centro do projeto pensado por um jornalista profissional, calejado na luta revolucionária. Jorge Batista não foi eleito e, pior, veio a falecer no Natal junto com sua mulher e um de seus filhos, no final daquele mesmo ano em um terrível acidente de automóvel, a caminho de Minas Gerais. É difícil (ou quase impossível) imaginar o quanto perdemos e o quanto perdeu a Cultura, o Jornalismo e a Esquerda brasileira, com a morte de Jorge. Só sei dizer que o rascunho ficou praticamente na memória, e jamais teve a oportunidade de ser discutido e/ou aperfeiçoado.

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Na passagem de 93 para 94, estávamos animados com a queda pelo movimento sem igual da derrubada de Collor, e José Dirceu saindo como candidato a governador. Foi à maneira que encontrei, timidamente, para contribuir com a sua campanha produzindo um pequeno livro (em formato de roteiro cinematográfico), a partir de entrevistas realizadas com ele em seu escritório; paradoxalmente, situado numa rua por nome “República do Iraque”, na Vila Mariana/SP. Editado e distribuído e se Dirceu fosse eleito, o pequeno texto de cem páginas seria transformado num “meio documentário”, com a representação de seu conteúdo. Pano de fundo – o Projeto e as indagações levantadas por Jorge Batista, sequer que foram discutidas na Constituinte. É preciso ter claro que naquela época sonhávamos com uma aliança PT/PSDB, para a candidatura à Presidência da República. O sonho durou apenas algumas semanas, a vaidade do professor de Ciências Sociais, ancorado no Ministério da Fazenda do governo “tampão” de Itamar, fez com que o sonho se tornasse num pesadelo - veio à praga do Plano Cruzado. A ilusão da preservação do valor da moeda, na verdade, escondia os planos de subserviência a Washington. Paradoxal, uma vez que em poucos meses quem era um aliado passou, “milagrosamente”, a ser o principal adversário como a história mostrou a seguir - o PSDB.

Mas, no que se resumia Escuta Zé Dirceu (ou melhor), o que pedia o pequeno livreto? Que se mergulhasse nas discussões, mantendo a guerra de Libertação Nacional, como foco, uma herança da nossa geração. Porém, não mais como levante insurrecional, armando-se para a batalha final entre o Capital e o Trabalho, mas no terreno das Comunicações que já davam sinal de outra Revolução - a Virtual. O restante da história é conhecido: a chegada ao Palácio do Planalto de Lula, José Dirceu e o PT, com acontecimentos se sucedendo e o essencial parecendo ter se diluído. Hoje, José Dirceu às portas de voltar para a cadeia, o horizonte é negro podendo ser (na prática) Perpetua. Já Lula, ameaçado da mesma forma, e todos os nossos sonhos, projetos perdidos e condenados ao esquecimento. O “golpe” fatal ameaçou inclusive isto - apagar por completo o passado, como hoje se “deleta” um texto pelo teclado do computador. Os amigos e defensores daquele chamado superministro, procurando explicações para tanto ódio dos donos dos Meios de Comunicação, alinhavam vários avanços implantados por ele (JD), que contrariam até os dias atuais os interesses das superfamílias.

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Analisando friamente o rol de conquistas, é fácil notar que toda e qualquer transformação aconteceu como já previu JD, se deu no terreno da infraestrutura. Pouca coisa evoluiu no que seria fundamental para a Cultura quanto ao seu conteúdo filosófico; embora isto só aconteça através de décadas de experimentos e ações, envolvendo a superestrutura. Basta uma passada “d`olhos ” no setor dos comentários desse, 247, para ver o nível a que chegaram os inimigos da Revolução. E José Dirceu, que teve como ídolo o brilhante jornalista Claudio Abramo, sangra (em Brasília) a espera de um levante.

Mas enfim, o que PT deixou de fazer? Em primeiro lugar ouvir os artistas, jornalistas, poetas, umbandistas e, quem sabe, até Caetano Veloso e os Titãs. Há uma “revolução” ainda a ser feita. O melhor é imediatamente, antes que seja tarde demais.

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