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Ádamo Antonioni

Jornalista, professor de Filosofia. Doutorando em Educação (UFPR). Autor do livro: “Odeio, logo, compartilho: o discurso de ódio nas redes sociais e na política”.

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O que os homofóbicos têm a nos ensinar: desagravo a Jean Wyllys

O que é possível aprender com uma pessoa homofóbica? Nada. Discutir sobre Estudos de Gênero com alguém preconceituoso é infrutífero

O que os homofóbicos têm a nos ensinar: desagravo a Jean Wyllys (Foto: RFI/Márcia Bechara)
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Outro dia um homem veio me dizer que "homossexualidade era escolha, algo comportamental". No final da conversa, ele admitiu que embora fosse ignorante no assunto, tinha alguma coisa para me ensinar. De fato, nunca duvidei de que todas as pessoas têm algo a nos ensinar. Como diria Paulo Freire: "Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar".

Então, dentro dessa ótica do ensino-aprendizagem, o que é possível aprender com uma pessoa homofóbica? Por que essas pessoas que possuem preconceitos tão arraigados acham que aquilo que elas dizem são apenas suas "opiniões" e não é homofobia por isso?

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Através de uma perspectiva do filósofo alemão Hegel, o conhecimento poder ser entendido como dialético: parte de uma tese (primeira ideia), que é contraposta por uma antítese (negação dessa ideia) e deste embate, surge a síntese, ou seja, a superação de ambas as ideias para um novo paradigma.

Para exemplificar, analisando a História, o cientista da Antiguidade Cláudio Ptolomeu (90 d.C.- 168 d.C.), formulou a tese do geocentrismo, segundo a qual, a Terra era o centro do Universo. Séculos mais tarde, Nicolau Copérnico refutou essa teoria, apresentando uma antítese, defendendo o sistema heliocêntrico, ou seja, o Sol é o centro do Universo. Finalmente, Galileu Galilei ofereceu, ao mundo uma síntese sobre os estudos de Copérnico, apresentando novas evidências. A tese ptolomaica, portanto, tornou-se apenas um preconceito, ultrapassada e de fácil refutação. O preconceito é isso: opiniões irresponsáveis e arbitrárias que nascem da repetição irracional e, por serem repetidos à exaustão, as pessoas acabam por aceitá-las como verdades absolutas.

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Assim, podemos fazer a mesma analogia em se tratando da "homossexualidade como uma escolha", como se as pessoas pudessem mudar, escolher outra orientação sexual como se escolhe uma roupa ou o sabor de um sorvete. Pior ainda: optar pela sua "cura"! Essa tese já foi refutada desde 1973, quando a Sociedade Americana de Psiquiatria tirou a homossexualidade da lista de doença, seguido da Organização Mundial da Saúde, em 1990. Até porque numa sociedade altamente homofóbica como a nossa, quem escolheria sofrer com a violência, o preconceito e a discriminação? Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB) o Brasil é o país que mais mata LGBT no mundo! Dados de 2017 revelam que um LGBT é assassinado no país a cada 19 horas.

A bem da verdade, no centro da discussão está a rejeição das pessoas ao título de "homofóbicas". Elas sabem que se declarar homofóbica "pega mal", então, associam como homofobia apenas o ato extremo de matar uma pessoa pela sua orientação sexual ou identidade de gênero. Acontece que o assassinato é uma face da homofobia. Proferir discursos de ódio, preconceituosos, manipular dados ou duvidar das vítimas que sofrem, também é sua outra face, cruel pela violência simbólica que impõe. Você pode discordar do movimento LGBT, dizer que não gosta do Jean Wyllys por ser uma das 50 maiores personalidades mundiais da diversidade, conforme premiação da European Diversity Awards. Mas admita que tudo isso você só faz porque é, sim, homofóbico. E é justamente porque temos uma sociedade indiferente e omissa que os índices de homofobia são tão altos. Infelizmente, pouco importa... quem é que liga?

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Então retornamos a pergunta inicial: o que um homofóbico pode nos ensinar? Nada. Discutir sobre Estudos de Gênero com alguém preconceituoso é infrutífero. Como diz uma frase atribuída a Albert Einstein: "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". Desse modo, não há o que aprender com discursos de ódio, cheios de preconceito, aquilo que uma pessoa homofóbica chama de "mera opinião" se baseia em premissas falsas, que já foram refutadas ao longo da História. Ou, para ser mais didático, na História da Sexualidade, livro do filósofo francês, Michel Foucault, de 1976.

Pensando bem, há algo, sim, para se aprender com os homofóbicos. Aprender pelo mau exemplo que eles oferecem. Aprender como educar a geração futura para não ser homofóbica, para respeitar a diversidade e conviver, civilizadamente, com a pluralidade. Como nos ensina a filósofa Hannah Arendt: "A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele". Porque é através da educação que iremos nos libertar das correntes do preconceito, do fanatismo e da superstição. É, Paulo Freire, tinha total razão. Há sempre algo a se aprender.

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