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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O que será de Bolsonaro sem Trump?

"Como o trumpismo mostra seus limites, a partir do momento em que se torna governo e vê seu discurso submetido à desmistificação a partir da realidade, a derrota de Trump é extremamente grave para o presidente brasileiro", escreve o sociólogo Emir Sader sobre as eleições dos EUA

A morte do Brasil (Foto: KEVIN LAMARQUE)
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Bolsonaro foi eleito, de forma fraudulenta, pelas necessidades imperiosas da direita brasileira de impedir o retorno do PT ao governo do Brasil. De forma, em parte similar, à necessidade da direita norte-americana de derrotar os democratas em 2016, dois anos antes da eleição de Bolsonaro no Brasil.

Mas Bolsonaro aderiu ao trumpismo, ao estilo e à performance de Trump, para construir seu discurso e projetar sua imagem de novo líder da extrema direita no Brasil. Seu governo e seu discurso assumiram o tom das agressões aos meios de comunicação - considerados seus inimigos, - assim como ao Congresso e ao Judiciário. Negacionista da ciência, dos movimentos sociais, da democracia e dos direitos humanos, com linguagem agressivo.

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Bolsonaro teve um momento de auge no seu segundo ano de governo, até que entrou em nova crise, ainda antes da derrota de Trump. Mas, agora, sem seu grande líder e inspirador, além de referência da sua política internacional, o que será de Bolsonaro sem Trump?

Para Bolsonaro é um golpe muito duro, pela derrota do estilo de governo de Trump, -um dos poucos presidentes norte-americanos a não ser reeleito. Sua primeira reação poderá ser a consolidação do pragmatismo que ele já começou a trilhar, baixando o tom ideológico e fundamentalista do seu discurso, consolidando suas alianças com o Congresso e o Judiciário.

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Com um novo governo em Washington, já é possível saber os temas em que prioritariamente o governo brasileiro vai sofrer pressões fortes: relações exteriores, meio ambiente e direitos humanos. No tema da Amazônia, já é possível ver o batido argumento da defesa da soberania nacional, denunciando a cobiça norteamericana sobre a Amazônia.

Mas isso não terá maior efeito. Já se cogita do deslocamento do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, para outro setor do governo. O ministro de relações exteriores, Ernesto Araújo, também dificilmente seguirá no cargo, além de mudanças no ministério da cidadania, a cargo das questões de direitos humanos.

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O ministro de relações exteriores havia assumido, antes das eleições norte-americanas, que o Brasil se reivindicava como um “pária”. Mas uma coisa é ser pária com os Estados Unidos, outra é sê-lo com governos isolados e sem nenhum prestígio internacional. É provável que o governo brasileiro mude sua postura externa, inclusive nos organismos internacionais e nas relações com os países vizinhos.

Bolsonaro já disse, em um dos tweets destes dias, que há uma tendência de fortalecimento da esquerda na América Latina, alertando de que o fenômeno pode chegar no Brasil. O governo brasileiro demorou, mas saudou o novo presidente da Bolívia. Consciente disso, ele deve baixar o tom em relação à Argentina, não necessariamente em relação a Cuba e à Venezuela.

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O vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, tentou amainar os efeitos da deterioração previsível nas relações com os Estados Unidos, alegando que as relações do Bolsonaro e dos seus filhos com Trump seriam relações pessoais, mas que ele espera que a relação de Estado a Estado se mantenha, com os interesses fundamentais das duas partes sendo preservadas. Os acordos econômicos assinados recentemente entre os governos dos Estados Unidos e do Brasil podem ser revistos, assim como outros acordos, conforme a atitude concreta que o governo Biden tenha em relação ao Brasil. De imediato, a reinserção dos Estados Unidos nos organismos multilaterais também condicionará o isolacionismo do governo brasileiro nesses organismos.

Porém, o maior baque para o Bolsonaro é a constatação de que o trumpismo fracassou como forma de governo, não permitiu a reeleição - objetivo fundamental do presidente brasileiro. Difícil saber como Bolsonaro vai assimilar esses efeitos. Se vai buscar alguma explicação aleatória, retirada do próprio discurso do Trump – como o de que houve fraude na sua derrota -, como já aparece em um dos tweets do presidente brasileiro ou se vai fazer como se nada tivesse acontecido, pela dificuldade de abandonar o trumpismo, que está no cerne mesmo do Bolsonaro.

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De qualquer forma, como o trumpismo mostra seus limites, a partir do momento em que se torna governo e vê seu discurso submetido à desmistificação a partir da realidade, a derrota de Trump é extremamente grave para o presidente brasileiro. A transformação da eleição em referendo sobre o Trump deu certo e deve ser o caminho que a oposição brasileira trilhe para derrotar aqui também o trumpismo de Bolsonaro.

Mas, por enquanto, em solidariedade com seu aliado, Bolsonaro afirma que não reconhecerá a vitória de Biden, se Trump acionar o Judiciário. E, pateticamente, confessou: “A esperança é a última que morre”. Mas conforme avançam as apurações das eleições norte-americanas, corre a contagem regressiva para a vida difícil do Bolsonaro sem o Trump.

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