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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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O racismo de Elvis Presley

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A revelação feita por Quincy Jones, um dos maiores produtores musicais de todos os tempos, dando conta de que Elvis Presley era racista, não deveria causar surpresas a muita gente. Em entrevista ao “The Hollywood Reporter”, o ex produtor de Michael Jackson disse que jamais teria trabalhado com o “Rei do Rock”, porque “ele era um racista filho da...”, interrompendo a óbvia conclusão da frase. Conhecido pelas polêmicas causadas por suas declarações, Jones já disse, entre outras coisas, que Michael Jackson roubava músicas de outros artistas e que os Beatles eram “terríveis”

Com relação ao racismo de Elvis Presley, é preciso contextualizar a fala do produtor, que também já afirmou ter tido um romance com Ivanka Trump, filha do ex presidente dos USA Donald Trump. O Rock, gênero no qual Elvis foi alçado à condição de expoente máximo, sempre foi visto com certo desdém pela sociedade norte americana. O motivo? Era música de preto. Com origem nos Spirituals (canto dos negros escravizados nos USA), passando pelo Gospel, Blues e R&B, toda a essência do Rock é coisa de preto. A expressão “Oh, Yeah! ”, por exemplo, remete à exclamação de dor dos negros durante as sessões de açoite as quais eram submetidos. O que, mais tarde, viria a se tornar uma afirmação de atitude e contestação, ideologia característica do Rock and Roll.

Elvis foi descoberto e lançado por Sam Phillips, um já conceituado produtor de Blues, R&B e Rock dos anos 1950. A ideia de Sam, era “estourar” um cantor branco que cantasse como um negro, aquele gênero que ele sabia que poderia ter uma excelente aceitação comercial, se não estivesse associado aos negros. E ele tinha razão. Provavelmente, por também compartilhar da mesma visão racista que a maioria de seus compatriotas estadunidenses. Como previsto e bem trabalhado, as primeiras aparições de Elvis foram arrebatadoras. A imagem do galã sedutor que balançava a pélvis enquanto cantava, caiu nas graças daquela sociedade que, até então, torcia o nariz para o bom e velho rock na roll.

Musicalmente falando, Elvis não fazia nada mais do que outros artistas negros, como Fats Domino, Chuck Berry, Bo Diddley e Little Richard já faziam. A grande diferença estava na cor da sua pele. É verdade, que o processo de “branqueamento” do rock já tinha sido iniciado com o cantor e compositor Roy Orbinson (Pretty Woman), um artista pouco convencional para os ambiciosos propósitos comerciais do gênero. Orbinson era meio “paradão”, não era considerado bonito e vivia escondido atrás de seus óculos escuros. Dizem que gostava mesmo era de compor baladas românticas, mas a potência e extensão de sua voz eram elogiadas até mesmo por Elvis, que teria se recusado a gravar uma composição sua, com receio de não estar à altura da voz de Orbinson na canção.

O carisma de Elvis falou mais alto e a indústria da música produziu uma de suas maiores galinhas dos ovos de ouro. Sam Phillips ficou com a fama de ter popularizado o Rock e Elvis vestiu a coroa que lhe foi oferecida, em detrimento de outros roqueiros negros que haviam labutado no gênero sem tanto reconhecimento. Quando Jones revela o racismo de Elvis, de certa forma, ele dá sentido à trama que consagrou o cantor do Mississipi como a maior estrela do gênero. O inventado não poderia ser diferente de seus inventores. Afinal, a sua carreira nasceu e se consolidou, com base numa idealização artística racista. Pensamento sistêmico predominante na era da segregação racial norte americana.

O talento e a voz de Elvis Presley não estão em questionamento. Embora, Quincy Jones também tenha revelado que, por vezes, o viu sendo orientado por Otis Blackwell, produtor musical e compositor, sobre como deveria cantar. Blackwell nega e afirma nunca ter estado com Elvis pessoalmente. O racismo de Elvis já teria sido exposto em 1957, quando no auge do seu sucesso. Dentro da comunidade negra haviam rumores de que ele era racista e de que sua moral era dúbia. A ele foi atribuída uma frase que dizia: “A única coisa que os negros podem fazer por mim, é comprar os meus discos e limpar os meus sapatos”, mas nenhuma gravação ou matéria escrita foi encontrada para comprovação.

Elvis acabou tendo um papel similar ao da Princesa Isabel na abolição da escravatura no Brasil. Graças ao sucesso do agora “seu” rock and roll, os artistas negros do gênero começaram a ser aceitos pela sociedade. Tanto, que até Little Richard e Chuck Berry o agradeceram por abrir as portas para eles no segmento. Reforçando a ideia do branco protagonista, cercado por amigos negros coadjuvantes. Elvis, assim como Sam Phillips, sabia que o rock como música negra, aliado ao talento dos artistas negros, apesar de gigantescos, estavam limitados a determinadas “tribos”. Ao apropriar-se dela, ele o fez com a intenção de se tornar um artista único, sabendo que o racismo da sociedade norte americana, independentemente de qualquer outra coisa, o elevaria a esta condição.

O rock era bom, mas os negros que o inventaram não. Se Elvis era ou não racista, tirem suas conclusões.

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