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Verônica Lima

Foi a primeira vereadora negra de Niterói pelo PT e está em seu terceiro mandato na cidade

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O racismo veste beca

Estudantes negros da UERJ, da UFF e da UCP foram chamados de “macacos” e tiveram bananas arremessadas contra si. São os traços de um processo histórico e político de subalternização do povo negro, baseado na certeza da impunidade e na manutenção de privilégios das classes dominantes

Estudantes negros da UERJ, da UFF e da UCP foram chamados de “macacos” e tiveram bananas arremessadas contra si. São os traços de um processo histórico e político de subalternização do povo negro, baseado na certeza da impunidade e na manutenção de privilégios das classes dominantes (Foto: Verônica Lima)
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Foi com um misto de indignação e revolta que tomei conhecimento dos atos racistas cometidos por alguns alunos da PUC-Rio nos Jogos Jurídicos realizados no último fim de semana em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Estudantes negros da UERJ, da UFF e da UCP foram chamados de “macacos” e tiveram bananas arremessadas contra si, num evidente caso de ódio racial da parte dos estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Trata-se aí, em primeiro lugar, de um crime de injúria racial, que deve ser punido na forma da lei vigente.

Mas esse episódio expressa também, a meu ver, uma carga de significados bem maior do que um caso isolado de preconceito. Vejo aí os traços estruturais de uma cultura perversa e entranhada em parte de uma elite branca e racista. São os traços de um processo histórico e político de subalternização do povo negro, baseado na certeza da impunidade e na manutenção de privilégios das classes dominantes. Ou seja, episódios como esses se apoiam em estruturas políticas, sociais, econômicas, educacionais e institucionais que reproduzem, há séculos, um racismo estrutural e perverso em nosso país.

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Por muitos anos, buscou-se propagar o mito de que o Brasil fosse um país marcado pela tolerância e democracia raciais. Muitos grupos de extrema direita permanecem, ainda hoje, negando a existência do racismo na sociedade brasileira. Eles desconsideram, convenientemente, que os negros são a parcela de nossa população que mais sofre com as mazelas da violência, do desemprego e da ausência do Estado no que se refere à proteção básica dos cidadãos.

Situações de injúria racial, como a que ocorreu em Petrópolis, reforçam a ideia de que as elites brasileiras se incomodam com a ocupação dos espaços institucionais por negros e negras no Brasil. Nos últimos anos, o crescimento da participação dos jovens negros nos cursos universitários revelou também a hostilidade enfrentada por esses jovens nos espaços acadêmicos.

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Além disso, ressalte-se o fato de que estamos falando de um crime de injúria racial cometido por estudantes de direito de uma das universidades mais caras do país. Tratam-se não apenas de futuros advogados, mas também de futuros desembargadores, promotores e juízes de um sistema jurídico que encarcera majoritariamente negros e pobres. Ou seja, estamos falando de futuros magistrados que, ao que tudo indica, permanecerão reproduzindo essa cruel e sistêmica estrutura racista do nosso ordenamento jurídico. Trata-se aí de um racismo que veste becas e togas.

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