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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O rancor e os ossos do ofício

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Sobre os vampiros, Zeca Afonso, o grande compositor português, autor de “Grândola, Vila Morena”, senha da Revolução dos Cravos, disse num de seus poemas: Eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada. Este final de mandato de Jair Bolsonaro lembra tais reflexões. Atirou-se de corpo e alma nas refeições do Palácio da Alvorada e, ao fim e ao cabo, perdedor das eleições, se recusa a abandonar os privilégios. Quando um presidente termina e outro se anuncia, é natural que um critério de civilidade e gentileza acompanhe a fase da transição, incluindo a concessão de um dos palácios disponíveis para abrigá-lo. Nada de semelhante aconteceu. A equipe de Lula se vira para colher informações e o que obtém escandaliza pela ruína deixada pelo antecessor, sem cuidados mínimos com as obrigações do Estado. 

É preciso lembrar que Lula não é um político qualquer. Já exerceu o cargo por duas vezes e, apesar das perseguições que o vitimaram, se impôs frente ao mundo com efetiva e respeitável liderança. Infelizmente, Bolsonaro não está nem aí para a lógica dos fatos. Amarra a cara, silencia quando deve falar e fala quando deve silenciar, adula os militares na esperança de colocá-los em ação em soluções de força, e cruza os braços para seus admiradores que se espalham como ratos pelas ruas. Cortesias? Ele se coça e não encontra o que fazer com elas, vítima de rancores que nem os próximos, parentes ou chegados, se revelam capazes de explicar. Positivamente, não passa de um ressentido que, num lapso da História, alcançou um das mais altas funções da República, não obstante a visível falta de cuidado que sempre demonstrou com os instantes graves da pandemia e afins. 

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A posteriori, dá a impressão de efetivamente se constituir na metáfora de Zeca Afonso: eles comem tudo, eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada. Os que participam em nome do sucessor na comissão de transição, mal entendem o que se lhes desdobra diante do rosto. A gastança eleitoral se revelou de tal monta que não há resíduos de verba para as despesas corriqueiras, como a fabricação de passaportes, a continuidade dos trabalhos da universidade e da pesquisa, etc. Difícil seria supor um semelhante volume de irresponsabilidade. Os que se aglomeram nas ruas diante dos quartéis, vítimas de uma propaganda maldosa e mentirosa, não chegam perto de reconhecer a audácia com que cuidaram dos negócios da nação. Já se percebia, é verdade, a quantidade de vítimas que, sem qualquer ajuda, passaram a dormir nas calçadas, sem teto e sem destino. Ele os acusava de preguiçosos, inúteis, lixo da nacionalidade – em vez de cuidar de cada um de seus semelhantes. 

A discussão em torno da faixa sobre quem exercerá a função de passá-la a Lula, a esta altura, torna-se irrelevante. Talvez seja melhor não ter o antecessor presente no dia da festa. Que vá, com seu rancor, ao médico, cuidar da erisipela. Os que assumirão, lá estarão porque gostam do país e do povo, desejam seus benefícios e se esforçarão para lhes melhorar a existência. Convidados do resto do mundo confirmaram a presença. A comunidade internacional testemunha com expectativa favorável que doravante assumimos a dignidade como particularidade nossa. E dela não abriremos mão.

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